Segurança

Em Quevedos, um dia tem policial, no outro, não

Diogo Brondani

Fotos: Gabriel Haesbaert (Diário)
Moradores da cidade estão apreensivos depois que duas agências foram explodidas em menos de 45 dias

Uma cidade onde a população vive amedrontada pela sensação de insegurança. Recentemente, agências bancárias foram alvos de explosões por bandidos fortemente equipados e armados. Empresas também têm entrado na rotina dos arrombamentos. E para combater o crime, a força policial conta com efetivo para lá de reduzido e uma única viatura em condições precárias. Não estamos falando de uma cidade da Região Metropolitana, mas, sim, de Quevedos, que fica na Região Central, a cerca de 100 quilômetros de Santa Maria e que conta com cerca de 2,7 mil habitantes.

O município que só tem acesso por estrada de chão é mais um exemplo da falta de policiamento e alvo fácil de quadrilhas especializadas em arrombar e explodir caixas eletrônicos, como ocorreu em dezembro passado e em janeiro deste ano. Casos semelhantes ocorreram em outras cidades consideradas de pequeno porte, como Mata e São Sepé, atacadas em 2017 e 2016, respectivamente.

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Com um número previsto de 12 policiais militares (PMs) que deveriam estar atuando em Quevedos, até janeiro a realidade era de apenas três. No entanto, o caso piorou quando dois deles pediram afastamento alegando saúde psicológica comprometida. O único PM que sobrou conta com o reforço de um segundo que vai de Santa Maria para cumprir serviço no município em dias alternados, ou seja, um dia, sim, e um dia, não. Como o regimento da Brigada Militar não permite que cada policial atue de forma individual, no dia em que Quevedos não conta com a ajuda de um PM de Santa Maria, o pequeno município simplesmente fica sem policiamento. Além disso, há ameaças contra o único PM que efetivamente mora em Quevedos.

O responsável pelo Comando Regional de Polícia Ostensiva Central (CRPO Central), tenente-coronel Ricardo Alex Hofmann, garante que há policiamento em todas as 29 cidades que pertencem ao comando e que, apesar de a região não ser a que tem prioridade no refoço do efetivo, novos PMs devem ser integrados a partir da conclusão de cursos de soldados que estão em andamento.

Já o secretário estadual da Segurança Pública, Cezar Schirmer, afirma que, além de já estar em vigor a lei que exige que as agências bancárias invistam em segurança, há um novo concurso da Brigada Militar em andamento que irá contribuir para o reforço do policiamento em todo o Estado.

ÚNICO PM É ALVO DE AMEAÇAS 
O único policial militar lotado em Quevedos tem vivido dias de preocupação. É que a atuação dele, principalmente quanto ao sentido de manter a ordem e a fiscalização no trânsito local, tem sido motivo de ameaças ao servidor.  

- Não posso ir a um evento, sair em algum lugar que sempre tem uns que intimam a gente. Recebemos represálias. Riscaram a lateral do meu carro, cortaram os freios como forma de me intimidar. Nessa profissão, sempre há algum tipo de represália e ameaças, mas chegou um momento em que me apavorei. Os caras cortarem o freio do carro? Bah. Eles sabem que é o carro que eu ando. Quiseram atingir diretamente a mim. Não me sinto seguro nem dentro de casa - desabafa o policial, que preferiu não ser identificado nesta reportagem e que registrou o fato na delegacia de São Pedro do Sul. 

Ainda sobre a infraestrutura para poder trabalhar, o PM conta com uma viatura em condições precárias, que até recebe ajuda da comunidade na hora de trocar pneus, por exemplo, ou fazer pequenos reparos. 

- Se eu precisar de um apoio dos colegas, é só de São Pedro do Sul, que fica a uma hora daqui. Nesse tempo, a ajuda que chegar aqui não acha mais nada. O problema nosso é crônico, e tem muitos municípios que estão nessa situação. Por mais que façam alguma operação de reforço, vai ser temporário, e quando eles forem embora, vai sobrar para mim. Eu sou o ponto de referência porque moro na cidade, mesmo não estando em serviço. Ligam para mim a qualquer hora, me procuram para registrar ocorrência - afirma o PM. 

Conforme o titular da delegacia de Polícia Civil de São Pedro do Sul, onde a ocorrência sobre as ameaças ao PM foi registrada, delegado Jun Sukekava, o caso será investigado. 

- Realmente, houve essa ocorrência, no entanto, ela está sendo considerada como dano ao patrimônio. Já foi feito o despacho para investigação - informa o delegado.

POPULAÇÃO VIVE AMEDRONTADA
"De uns tempos para cá, tem ficado perigoso. Tanto aqui na cidade quanto para quem mora no campo. Não dá mais para dormir sossegado. A gente fica sempre de olho, e os vizinhos se ajudam. Uns dão uma reparada na casa dos outros. Sabemos que é longe e que a polícia tem dificuldade, mas não estamos livres de que aconteça alguma coisa ruim." 

A frase é da dona de casa Santa Izabel Perez, 44 anos, moradora de Quevedos.

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PREOCUPAÇÃO É COM NOVOS ATAQUES
Duas agências bancárias do município foram alvos de explosões e arrombamentos em um período de menos de 45 dias: um em dezembro passado e outro em janeiro deste ano. O gerente do Sicredi de Quevedos, Daniel Dias, 36 anos, diz que seguidamente pessoas que aparentam ser suspeitas aparecem durante a madrugada e fazem rondas no estabelecimento.

- É muito importante que haja um reforço no policiamento. Agora, antes do Carnaval, os bandidos estiveram novamente dentro da agência por volta das 3h da madrugada. Fomos avisados pelo alarme silencioso. Ainda bem que entraram apenas na sala de autoatendimento e não fizeram nada. Temos vigilante durante o expediente do banco, sistema de monitoramento e alarme, mas nada disso, hoje, impede a ação deles. Graças a Deus que, quando ocorre (fatos como esse), pelo menos é de madrugada, quando a população não está na rua - relata Dias.

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No outro ataque, o alvo foi uma agência do Banrisul. O atual responsável pela agência, Evandro Bordin, 32 anos, diz que a estrutura do prédio foi reforçada após o fato.

- Colocamos grade e uma cortina de metal que fecha após o horário de atendimento. Estamos à mercê dos bandidos porque isso está ocorrendo com frequência nessas cidades pequenas em que o policiamento é precário - lamenta Bordin.

Além de Quevedos, outras cidades também são procuradas pelas quadrilhas. O último caso da região ocorreu em Mata, no começo do mês. Em Vila Nova do Sul, criminosos também atacaram um banco em agosto de 2017. Já um caso que aterrorizou os moradores ocorreu em São Sepé, em dezembro de 2016, quando uma quadrilha fortemente armada fez reféns moradores que estavam na rua, usando-os como escudo humano durante o ataque a duas agências bancárias.

PREFEITA PEDE AJUDA À BM 
O pequeno efetivo policial em Quevedos vem gerando preocupação na população e fez com que moradores se queixassem para a prefeita da cidade, Neusa dos Santos Nickel (PP) (foto ao lado).  

- A população nos cobra segurança. A situação realmente está complicada. Estamos desguarnecidos. A cidade fica a 49 quilômetros de estrada de chão de Tupanciretã, 58 (quilômetros) de Júlio de Castilhos, e qualquer ocorrência que aconteça, até chegar o policiamento, já pode ter causado alguma coisa. E não podemos contar com apoio de São Pedro do Sul, por exemplo, porque sabemos que eles já atendem ourtras regiões também - desabafa a prefeita. 

Conforme a chefe do Executivo, no começo do mês de fevereiro, foi solicitado um apoio ao comando da Brigada Militar.

- Queremos um olhar especial para os municípios pequenos porque esses são rota de fuga desses bandidos, ou são bem mais fáceis de assaltar e arrombar, já que os criminosos sabem que o policiamento é precário. Precisamos de reforço no serviço preventivo antes que aconteça alguma coisa grave. Não é uma crítica ao serviço de segurança, apenas estamos preocupados com a vida das pessoas. Um policial aqui, sozinho, não tem condições de fazer nada. A gente teme que, a qualquer hora, um novo ataque possa ocorrer - complementa a prefeita.

O QUE DIZ O COMANDAO DA BM 

O Comando Regional de Polícia Ostensiva Central (CRPO Central) reitera que não há motivos para a população estar preocupada, já que os ataques a banco na cidade são fatos isolados. Além disso, o responsável pelo CRPO Central, tenente-coronel Ricardo Alex Hofmann, afirma que já está sendo providenciada a transferência de um novo policial para atuar em Quevedos. 

- Nós já temos uma transferência de um policial que está sendo remanejado para Quevedos. Temos dois que estão atuando. Dos que estavam com problemas de saúde, um já vai voltar nos próximos dias, e nós vamos ficar com quatro. Nos próximos dias, o outro também vai voltar, e o município vai voltar a ter o efetivo normal de cinco homens - informa o comandante.

Ainda na avaliação de Hofmann, todo o Interior está bem policiado.

- Nós mudamos o sistema do patrulhamento intermunicipal no ano passado. Agora, cada cidade tem a sua patrulha. Quevedos tem o seu policiamento, e a equipe de Toropi também faz um patrulhamento constante no município. Vai lá, faz abordagem e fiscaliza. Então, eu reforço que tem policiamento. A Brigada está atuando, sim. Diurnamente pelo efetivo local, e noturnamente com o auxílio de cidades maiores - reforça o coronel.

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Outro ponto que o comandante destaca é sobre a possibilidade de um videomonitoramento a ser feito em parceria com as prefeituras dos municípios da região. Segundo Hofmann, as imagens das câmeras de vigilância seriam acessadas em tempo real por policiais da sala de operações em Santa Maria, onde, em caso de atitude suspeita, acionariam o efetivo dessas cidades.

Ainda sobre o reforço no efetivo da Brigada Militar, Hofmann afirma que a região de Santa Maria tem um déficit menor no quadro e um baixo índice de ocorrências, mas será atendida pelo remanejamento dos futuros soldados que atualmente estão no curso de formação. 

- A nossa prioridade é colocar (os PMs) em Santa Maria e nos municípios menores, os quais já têm pelo menos cinco policiais. Além disso, em março, teremos número que já atenderá à demanda desses pequenos municípios. Vale destacar também que, em março, teremos mais de 200 homens do curso de formação de sargentos que devem reforçar o policiamento na cidade - complementa o comandante, ressaltando que não há falta de armamento ou coletes para o trabalho dos policiais e que novas viaturas devem chegar ao comando ainda neste primeiro semestre.

LEI EXIGE QUE BANCOS REFORCEM A SEGURANÇA
Uma lei foi criada a fim de exigir que as instituições bancárias tomem medidas de segurança a fim de evitar os ataques e arrombamentos. Conforme a Secretaria da Segurança Pública (SSP), a Lei Estadual 15.105/2018 foi sancionada pelo governador José Ivo Sartori (MDB) e entrou em vigor em 12 de janeiro deste ano. A legislação é válida para todas as instituições bancárias, financeiras, de crédito ou securitárias do Rio Grande do Sul.

- As análises para determinar quais exigências serão feitas para cada estabelecimento bancário do Estado serão realizadas de forma individualizada, de acordo com a localidade, o perfil e os indicadores de criminalidade da região onde a mesma está situada. Ou seja, cada estabelecimento (agências, bancos 24h, terminais de autoatendimento, entre outros) possuirá um plano de segurança próprio - indica o secretário da Segurança Pública, Cezar Schirmer.

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Conforme o secretário, as instituições já em funcionamento deverão apresentar à secretaria os respectivos planejamentos em até 180 dias. Após análise a aprovação pela SSP, os bancos terão 180 dias para instalar os dispositivos e tomar as medidas necessárias à adaptação de suas instalações, conforme plano de segurança.

Quanto aos 484 alunos-soldados que estão em fase final de formação na Brigada Militar, a secretaria explica que somente após a conclusão do curso é que serão definidos os municípios para os quais serão distribuídos esses policiais, a partir de critérios técnicos definidos pela Brigada Militar.



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