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Veterinários e tutores falam sobre como cuidar de pets epiléticos com qualidade de vida

Fotos; Renan Mattos (Diário)
Rhayanne é tutora da Alfafa, que tem epilepsia, e ajuda a pet a enfrentar a doença

Em agosto de 2014, quando deixava um dos pontos de voluntariado na campanha de vacinação da raiva, a acadêmica de Medicina Veterinária Rhayanne Vitoria Mainardi de Souza, 22 anos, encontrou uma cachorrinha escondida embaixo de um veículo, na Avenida Dores, perto de um supermercado. A estudante enxergou na cadelinha um olhar que, segundo ela, era pura meiguice. Não sendo capaz de deixar o bichinho ali, Rhayanne o colocou no bolso do casaco e o levou para casa, dando-lhe o nome de Alfafa. Saudável, carinhosa e feliz, a pet teve uma vida normal até os 2 anos, quando começou a agir de maneira estranha.

- Ela sempre teve vacinas e vermífugos em dia. Foi semanas após o nascimento do meu filho, Nicolas, que comecei a perceber que a Alfafa ficou mais agressiva. As visitas entravam no pátio, e ela avançava sem dó, algo que nunca havia feito antes. Esta mudança de atitude era seu estágio pródomo (momento que antecede a convulsão e que pode durar horas ou dias antes do choque) de suas crises epiléticas. Confirmei, dias depois, quando ela teve sua primeira convulsão - relata a tutora.

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Os dias após a manifestação da primeira crise foram complicados. As causas dos ataques são o estresse pelo qual passa o bichinho. Rhayanne diz que Alfafa não gosta de mudanças de móveis, e que, no começo, tinha muitos ciúmes do filho da tutora. A estudante admite que ver Alfafa ter crises é complicado, mas que supera isso com o carinho que nutre pela pet.

- Na primeira crise convulsiva, você não sabe o que fazer, e, mesmo se sabe o que fazer, você fica paralisado por alguns segundos até cair a ficha do que realmente está acontecendo. E tudo bem se isso acontecer. Não se sinta culpado, porque é uma cena angustiante de enxergar. Mas falar sobre a Alfafa é contar uma história de amor e que, por acaso, acaba tendo uma pincelada sobre sua doença, a epilepsia - resume.

Alfafa apresentou os primeiros sinais clínicos da patologia quando o filho de Rhayanne nasceu

O entendimento e a paciência são peças-chave para superar a patologia. Além de doses altas de amor, a auxiliar de escritório Paola Pereira Fleck, 23 anos, contou com remédios receitados pelo veterinário para combater os surtos da mascote Mayla. E ela vai além:

- Eles (pets) podem levar uma vida completamente normal, só é preciso ter cuidados especiais. Assim que descoberta a doença, é preciso levá-los ao veterinário, e, a partir daí, ministrar o medicamento receitado de forma religiosa nos horários corretos, sem esquecimentos. Após isso, não deixe o animal ficar estressado ou com fome, frio e sede. Um pet epilético pode correr, pular, brincar, como todos os outros, só é preciso garantir uma vida saudável.

DURANTE A CRISE
Veja o que fazer quando o pet estiver tendo uma crise epilética:

  • Respire e tente manter a calma
  • Procure a primeira coisa macia e segura (de preferência um travesseiro) para colocar embaixo da cabeça do animal. Para isso, coloque a mão embaixo da bochecha que está no chão e erga a cabeça do pet
  • Não deixe o bichinho perto de paredes ou de móveis
  • Coloque o pet em uma superfície lisa, desde que não seja alta
  • Cuide para que o pet não morda a língua
  • Lembre que o animal está virtualmente inconsciente. Ele pode babar, urinar e defecar durante as crises
  • Faça um vídeo da convulsão, para que o veterinário possa identificar se é, de fato, uma crise
  • As crises duram de segundos até um minuto. Se ela demorar mais de cinco minutos, procure ajuda veterinária imediata
  • Observe o comportamento do pet após a convulsão

Fontes: Rhayanne Vitoria Mainardi de Souza e Paola Pereira Fleck, tutoras de Alfafa e Mayla, respectivamente, e Camyla Silveira, médica veterinária

A DOENÇA
Para compreender os ataques epilépticos, Rhayanne contou com a ajuda do professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o veterinário Alexandre Mazzanti, que é responsável pelo serviço de neurologia e neurocirurgia do Hospital Veterinário Universitário (HVU). Ele diz que a manifestação clínica das crises epilépticas é caracterizada por perda total ou parcial da consciência com envolvimento motor, em contrações musculares, salivação, vômito, engasgo e diarreia e comportamento anormal (agressões não provocadas, medo, caça de moscas imaginárias). Mazzanti reforça que, apesar de poder afligir gatos, o problema é mais comum em cães.

- A epilepsia é diferente das crises epilépticas. Enquanto a primeira é uma condição caracterizada por crises recorrentes, as crises são a manifestação clínica de atividades elétricas excessivas e hipersincrônicas no córtex cerebral do animal. A epilepsia não é uma doença, mas é um sinal clínico - diferencia.

Rhayanne diz que, com amor e remédios, é possível dar uma vida normal a Alfafa

Médica veterinária da Cia dos Bichos, Camyla Silveira afirma que os tutores não devem se preocupar com transmissão ou contágios, já que a epilepsia não é uma doença transmissível.

TIPOS
A epilepsia se manifesta de diferentes maneiras. Veja quais são: 

  • Idiopática ou primária - As crises epilépticas deste tipo ocorrem sem que haja uma anormalidade encefálica identificável. Geralmente,  ocorrem à noite ou quando o pet descansa. É provável que a maioria  dos pets tenha desenvolvido a doença por fatores hereditários 
  • Estrutural ou sintomática - É provocada por lesões encefálicas, como infecções, inflamações, neoplasias, traumatismos e distúrbios  isquêmicos ou vasculares. É o tipo que mais aflige gatos 
  • Metabólica - É o tipo de crise epiléptica provocada por distúrbios metabólicos, como hipoglicemia, toxinas, hipocalcemia e encefalopatia  hepática 
  • Reflexa - Ocasionada por algum momento de estresse ou estímulo específico, como ruídos sonoros, uma visita ao hospital veterinário ou  viagens

FASES
O problema se manifesta de diferentes formas: 

  • Pródromo - Começo da crise. Nela, o animal demonstra inquietude, procura o dono  e manifesta vocalização descontrolada por horas. Nem  sempre a fase é identificável 
  • Aura - Sensação inicial de uma crise epiléptica antes que haja manifestação. Pode durar de segundos a minutos. Os animais se escondem, procuram os donos ou parecem agitados pouco antes de uma crise epiléptica 
  • Ictus - É a crise em si
  • Pós-ictus - São as anormalidades que surgem ao final da crise. Os animais apresentam desorientação, inquietação, andar descoordenado, cegueira. Essa fase costuma desaparecer depois de alguns minutos, mas pode durar dias

FIQUE ATENTO
Ter alguns cuidados em relação à patologia ajuda na qualidade de vida do pet:

  • O tutor deve registrar o horário, a data e as características de cada crise, bem como os efeito colaterais apresentados
  • As crises epiléticas são controladas com medicação anticonvulsivante receitada pelo veterinário
  • O prognóstico, no geral, vai depender da causa
  • Se a epilepsia idiopática (sem lesão encefálica), for tratada de forma precoce e correta, os pets conseguem ter uma vida com qualidade. É preciso realizar a administração diária de medicamentos
  • A terapia antiepiléptica consiste em diminuir a frequência e a intensidade das crises epilépticas a um nível que não comprometa a qualidade de vida da família e do pet, com mínimo efeito colateral
  • O tratamento é adequado quando há redução em 50% das crises
  • De 25% a 30% dos cães epiléticos podem continuar apresentando crises epiléticas, mesmo que estejam recebendo a medicação correta
  • Cerca de 15% dos cães epiléticos não ficam livres das crises epilépticas mesmo com a terapia
  • O tutor deve procurar um médico veterinário que o orientará na terapia e os possíveis efeitos colaterais dos medicamentos, bem como os custos e esforços realizados pelo tratamento e pela monitorização. Além disso, o tutor deve garantir a administração regular da medicação.

Fonte: Alexandre Mazzanti, professor universitário, médico veterinário e responsável pelo serviço de neurologia e neurocirurgia do HVU, e Camyla Silveira, médica veterinária

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