Tempos velozes, em que a impressão é a de não estarmos conseguindo acompanhar os ponteiros do relógio. Tempos em que tudo precisa ser para ontem. Tempos em que esperar virou ansiedade, virou adoecimento e, quase que impossível, suportar. Por que estamos perdendo tais habilidades tão natas de sermos humanos?
Não me surpreende: cada vez mais, é raro encontrar pessoas calmas, que saibam viver os tempos de presença e de espera com tranquilidade. Quando observo uma criança se permitindo viver nos seus próprios tempos, sinto felicidade por lembrar o quanto me permiti ser, trazendo para as memórias do hoje uma saudade do esperançar criança.
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O esperar criança
Esperar, no tempo criança, não é demora – é movimento, é experimento, é mudança, é festança, é dança. É olhar a folha cair, é vibrar e sorrir antes mesmo de seguir. Esperar criança é brincar com o invisível, é ver no vento cores incríveis, é fazer do ócio um invento plausível. É não olhar para o relógio, mas sentir o tempo-presença em cada instante. No esperançar criança, existe a fé criando formas; há confiança sem urgência; há um tempo que pulsa e que dá voltas como piruetas – sem precisar da pressa. De repente, sem que percebamos, a vontade de brincar é invadida por um corpo e uma mente formatados, em que o esperar fica apressado. Tudo vira fardo, e as coisas viram ausência. Como numa roda-gigante em que poderíamos brincar, a vida passou apenas a girar – e contar as voltas, descompassadamente.
O esperar adulto
O esperar adulto é cheio de prazos, metas, alertas e coisas incertas. É o coração que corre, deixando para trás os pés. É o corpo presente, mas com a mente lá na frente, no que ainda não chegou – mas que, no talvez, já anunciou. O esperar do adulto carrega um silêncio oculto nas telas, desejando encontrar entre elas afago para suas mazelas. Damos fim ao tempo que acolhe, ao tempo que envolve, ao tempo que devolve, ao tempo que zela. No lugar da esperança, expectativa. No lugar da pausa, tarefas. No lugar da contemplação, a ilusão. O corpo clama: “Espere. Respire. Confie.” Respire. Talvez, nesse clamor, você encontre o amor, o calor e o verdadeiro valor do esperançar criança, que rabisca nos coloridos da vida o convite para viver a sua própria história.
Espere, respire e aliance
Espere – não como quem paralisa, mas como quem abre as janelas para viver a vida.Respire — não como quem perde o fôlego. E, se perder, recupere no seu tempo. Não fuja de si; fuja de quem não permite o seu retorno para você mesma. O mundo apressa. O corpo, a mente e a alma pedem calma. O tempo ensina — mas só aprendemos nas escutas dos encontros com nossos silêncios.
Espere e confie
Crie uma aliança entre o tempo e a sua própria dança. Dance consigo. Dance com a vida. Dance com outros possíveis que sentem, em você, a chama viva da esperança. Como a criança que sonha brincando e brinca sonhando, permita-se pausar e viver seus sonhos. Estipule metas, descubra a sua fé, conecte-se com a simplicidade, viva de verdade. Recupere a sua esperança. Crie uma aliança entre seus tempos já vividos, projetando os que hão de vir. Esperança: uma aliança com a espera!