Deni Zolin

Pesquisador da UFSM afirma que SUS deveria comprar vacina contra a dengue e indica grupos prioritários

Pesquisador da UFSM afirma que SUS deveria comprar vacina contra a dengue e indica grupos prioritários

Com um grande trabalho, reconhecido nacionalmente, na pesquisa para a produção de vacinas, o médico infectologista e professor da UFSM Alexandre Schwarzbold avalia que o governo federal deveria negociar logo a compra de vacinas da dengue do laboratório japonês Takeda para disponibilizar pelo Sistema Único de Saúde (SUS), principalmente para imunizar populações em regiões onde há mais casos da doença e para pessoas com algumas comorbidades. 


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Em entrevista à Rádio CDN e à TV Diário, ele também orientou que a população que tiver condições de se imunizar nas clínicas privadas, onde uma dose da vacina contra a dengue custa pelo menos R$ 470, deve procurar se proteger. Especialmente, pessoas que com doenças como asma, diabetes e doenças cardíacas e aquelas que trabalham em áreas externas ou moram em regiões onde há mais casos de dengue. Confira abaixo a íntegra da entrevista:


Diante de 1.012 mortes de dengue no Brasil em 2022 e do aumento do número de casos em 2023, o senhor acredita que o Ministério da Saúde deveria comprar a vacina contra a dengue da Takeda agora ou poderia esperar a vacina do Butantan, que ainda está em testes e só deve ser lançada em 2025, como o ministério disse que fará? O senhor concorda com opinião de integrantes da Sociedade Brasileira de Infectologia, que afirmaram que essa espera pode custar vidas?

A gente tem feito discussão na Sociedade Brasileira de Infectologia, da qual faço parte. Existem trâmites que têm de aguardar para incorporar essa vacina atrás do programa nacional, mas esses trâmites, assim como se fez na pandemia da Covid, eles podem ser acelerados de acordo com o interesse de análise de documentos e das chamadas brochuras do produto. É o processo da Comissão Nacional de Incorporação, a Conitec, que varia de seis meses até um pouco mais. Esse processo, a gente poderia fazê-lo com base nas populações de risco maior e nas regiões de maior prevalência de casos. Acho que, de algum modo, a Sociedade Brasileira de Infectologia está correta nesse alerta de que a gente deva pensar, nos próximos meses, a disposição de uma vacina.


O senhor acredita que o Brasil deveria começar a vacinar logo?


Há 40 anos, temos surtos epidêmicos de dengue no país. E esse crescimento de décadas, nós vemos em cada vez mais regiões do país. Vejamos a nossa: a Região Central do Rio Grande do Sul era praticamente uma região soronegativa, nós não tínhamos casos de dengue até os últimos anos. Hoje, nossa região é um exemplo de que começa a ser um epicentro de dengue. Trabalhar com uma doença que tem 1,2 milhão a 1,3 milhão de casos, sendo que parte disso, é de mortes, e temos cerca de 630 mortes este ano. Nós temos mais da metade das mortes do ano passado já em 2023, e isso indica uma carga de doença muito importante, que é diferente do que se a gente olhasse 15 ou 20 anos atrás.

Se a gente está falando de áreas endêmicas, onde a circulação desse vírus e da doença é muito maior, é fundamental que a gente tenha uma estratégia preventiva, assim como do ponto de visto do vetor, do ambiente, é fundamental proteger as pessoas. Até porque tem outro elemento que não é só morte. Existe uma enormidade de comorbidades e de complicações clínicas da dengue que não levam à morte, mas deixam com muita perda de qualidade de vida, que é outro elemento a se levar em conta nessa decisão. De modo que a vacina é um instrumento importante para se agregar na estratégia preventiva.

A partir do momento que a gente tem uma vacina com evidência para uso, isso é sinal de que toda a população poderia ter acesso. A gente sabe que tem a questão de custo/efetividade, da economia em saúde, e é essa análise que eu imagino que a Conitec vai fazer para decidir se o país vai incorporá-la. A gente pode incorporar essa vacina e depois incorporar a vacina produzida pelo próprio país. Isso tem importância do ponto de vista do complexo da saúde brasileira, de produzirmos nossas vacinas. Uma coisa não impede a outra.


Quais pessoas que, se tiverem condições de pagar uma dose contra a dengue, deveriam se vacinar já agora?

 
A população que teria maior indicação da vacina da dengue são aqueles que têm maior risco de complicações. Estamos falando de uma vacina que podemos aplicar desde crianças de 4 anos até pessoas com 60 anos. Desta população economicamente ativa, o adulto jovem até os 60 anos, que tiver exposição ao mosquito e trabalho ambiental, nas áreas rurais (deve se vacinar). E principalmente pessoas dessa faixa que têm comorbidades como asma, diabetes e cardiopatias, que aparentemente têm uma evolução mais desfavoráveis quando adquirem o vírus da dengue. Nesse momento, a gente não precisaria se preocupar com as crianças, especialmente as do espaço urbano talvez, e nem nos idosos, porque a gente não tem liberação da vacina acima dos 65 anos. Mas pessoas com maior exposição de trabalhos no ambiente externo e com essas comorbidades, seria uma população chave, em especial em áreas endêmicas, como Paraná, interior de São Paulo, região Centro-Oeste, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.


Santa Maria também pode ser considerada área endêmica para dengue?

 
Eu diria que a Região Centro, para não ficar só na principal cidade da região, já incorporou uma prevalência de doença que já é algo endêmico. A gente está testando ainda vacinas da dengue, inclusive na UFSM, e fomos escolhidos para os estudos porque não tínhamos muitos casos descritos. E durante os estudos, a gente já vê muitas pessoas com soropositividade, ou seja, que já tiveram contato com o vírus.

A partir de uma análise econômica, de uma negociação de Estado, com volume de vacinas, a vacina produzida pelo laboratório japonês Takeda é uma vacina já eficaz para uso e eu vacinaria antes dos próximos ciclos da dengue, que provavelmente vão vir a partir da primavera.

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