Ciência

VÍDEO: São Martinho da Serra está no mapa mundial da pesquisa espacial

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Fotos/Pedro Piegas (Diário) Responsável pelo Observatório Espacial Sul, José Valtnin Bageston explica que no local são coletados dados sobre fenômenos que impactam no dia a dia

Com uma população de 3,2 mil habitantes, a pequena São Martinho da Serra está no mapa mundial da ciência espacial. O município é a sede do Observatório Espacial do Sul (OES), vinculado ao Centro Regional Sul de Pesquisas Espaciais (CRS), que fica no campus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). O CRS é uma das 12 instalações do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão criado em 1961 pelo governo brasileiro, no auge da corrida espacial e da guerra fria travada entre Estados Unidos e União Soviética.

As duas cidades fazem parte de uma rede de pesquisa científica, cuja missão é estudar o espaço e decifrar informações que têm impacto direto no dia a dia das pessoas, como o comportamento do clima e interferências em aparelhos de TV a cabo, telefones e GPS. A unidade de São Martinho da Serra está vinculada ao CRS que, por sua vez, está sob o guarda-chuva do Inpe de São José dos Campos (SP), sede principal do órgão.

Quem passa na estrada em frente à sede do Observatório Espacial, na localidade de Rincão dos Negrinhos, na zona rural de São Martinho, dificilmente deixa de notar os conjuntos de antenas gigantes que, aliadas a outros instrumentos, como câmeras e sensores, ajudam os pesquisadores a captarem dados e a entenderem melhor os fenômenos do espaço.

De posse dessas informações, o Inpe divulga alertas que ajudam produtores rurais, empresas e pessoas a se anteciparem a eventuais problemas causados por fenômenos que ocorrem a quilômetros de distância. É o caso de um equipamento que detecta raios cósmicos na atmosfera terrestre. Conforme o físico José Valentin Bageston, pesquisador do Inpe em Santa Maria e atual responsável pelo Observatório Espacial, só há quatro aparelhos semelhantes no mundo. O objetivo é detectar fenômenos espaciais fora da Terra que possam interferir no planeta. No local, também há instrumentos que medem o campo magnético (correntes elétricas em movimento) da Terra, entre outros fenômenos.

- O OES foi criado originalmente para fazer medidas de vários parâmetros de eventos que ocorrem no espaço. Um dos principais instrumentos é o detector de múons, que mede partículas que vêm do espaço e serve para prever o clima espacial. Uma tempestade solar pode induzir corrente elétrica nos transformadores de energia e nos oleodutos, por exemplo - explica o cientista.

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CONVÊNIO ENTRE UFSM E INPE

Em 2018, a UFSM assinou convênio com o instituto para assumir grande parte das despesas do CRS:

  •  80% dos custos são bancados pela UFSM e 20%, pelo Inpe
  •  5 pesquisadores
  •  10 projetos em andamento
  •  Centro de Tecnologia (CT) e Centro de Ciências Naturais e Exatas (CCNE) da UFSM atuam no prédio
  •  Utilizado principalmente pelos cursos de Engenharia Aeroespacial, Engenharia de Telecomunicações, Meteorologia e Física
  •  Das 5 viaturas do Inpe, 4 estão funcionando, há combustível e verbas para manutenção
  •  Os telefones e ramais foram restabelecidos, assim como a internet, com verbas do Inpe. Para a manutenção da rede, dependendo do caso, há o auxílio do Centro de Processamento de Dados (CPD) da UFSM
  •  O CRS tem 9 servidores concursados, um motorista terceirizado e uma estagiária
  •  Os pesquisadores contam com bolsistas de pesquisa e de pós-graduação
  •  O orçamento do Inpe em 2018 foi de R$ 1,2 milhão, mesmo valor de 2019. Já o orçamento de 2020 só deverá ser definido no primeiro semestre do ano que vem. O prédio está incluído na verba de custeio da UFSM

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O que cabe ao Inpe

  •  Serviços de vigilância e portaria do prédio
  •  Manutenção elétrica e hidráulica do Observatório
  •  Energia elétrica do Observatório
  •  Vigilância do Observatório
  •  Paisagismo, limpeza e conservação das áreas verdes e pavimentadas do Observatório
  •  Telefonia e internet do Observatório

O que cabe à UFSM

  •  Manutenção elétrica e hidráulica do CRS
  • Limpeza interna e das vidraças do CRS e Observatório
  •  Paisagismo, limpeza e conservação das áreas verdes e pavimentadas do CRS
  • Energia elétrica do CRS e Observatório
  • Telefonia e internet do CRS

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O que isso tem a ver com o dia a dia da população

Formado em Física pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e doutor em geofísica espacial pelo Inpe, José Valentin Bageston, 41 anos, explica que o Observatório Espacial atua na coleta e transmissão de dados que ocorrem a quilômetros de distância da Terra, mas que têm influência direta na vida das pessoas.

- Temos um aparelho que é o magnetômetro, que serve para medir o campo magnético. No caso do campo magnético ser fraco, como a região em que estamos, mais partículas entram na nossa atmosfera, podendo causar danos em instrumentos dentro de satélites e afetar pessoas que estejam em aviões em grandes altitudes - explica.

O pesquisador também destaca que a finalidade do Inpe é detectar fenômenos espaciais, entre eles, tempestades solares e raios cósmicos.

- Já teve casos de blecaute de energia elétrica no Canadá e nos Estados Unidos devido a fenômenos solares. Os alertas emitidos servem para avisar empresas que operam satélites de energia elétrica e, também, a população - ressalta.

Chefe do Centro Regional Sul de Pesquisas Espaciais, ao qual o Observatório está vinculado, Tatiana Kuplich destaca o pioneirismo do Inpe e da UFSM, que, por meio de uma parceria, construíram o primeiro nanossatélite científico brasileiro, o NanoSatC-BR1, que completou seis anos em órbita.

- Esse projeto foi pioneiro. E até março deverá estar pronto o segundo nanossatélite produzido pela UFSM e pelo Inpe - destaca Tatiana, que fez pós-doutorado em sensoriamento remoto na Inglaterra. 

POR DENTRO DA PESQUISA ESPACIAL

Como funciona o Inpe em Santa Maria e São Martinho da Serra

Centro Regional Sul

  • Fundado em 1996 com Centro Regional Sul de Pesquisas Espaciais (CRSPE/Inpe), tem sua sede construída em uma área de 1,2 hectare dentro do campus da UFSM, com base em um termo de cessão de uso e doação por 50 anos
  •  Inclui os subprojetos da Estação Terrena de Rastreio e Controle de Satélites (ETRCS/Inpe, em Santa Maria, e o Observatório Espacial do Sul (OES/Inpe), em São Martinho da Serra)
  • Funciona de forma autônoma, vinculado ao Inpe de São José dos Campos (SP)

O que faz

  •  Dá suporte logístico técnico-científico ao desenvolvimento de programas, projetos e atividades do Inpe nas regiões Sul do Brasil e Cone Sul da América
  • Apoia os lançamentos e observações com balões estratosféricos para monitorameto de ozônio
  •  Manutenção do banco de dados obtidos pela Estação Terrena de Rastreio e Controle de Satélites e pelo Observatório Espacial do Sul
  • Presta apoio a usuários nas regiões Sul do Brasil e Cone Sul da América na obtenção de dados produzidos pelo Inpe
  • Desenvolve equipamentos para suporte de laboratórios, para uso de missões do Inpe e para a coleta de dados em solo ou em nanossatélites
  • Administra atividades, pessoal e recursos financeiros de toda a estrutura do Inpe em Santa Mari

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NA VIDA PRÁTICA

  •  Desenvolve pesquisas sobre engenharias, tecnologias e informática, observação da Terra, sistema solar, e clima e tempo na Região Sul

Observatório Espacial Sul

  •  Construído entre 1996 e 1998 em uma área de 12 hectares, na localidade de Rincão dos Negrinhos, no interior de São Martinho da Serra, a 60 quilômetros de Santa Maria

Estrutura 

  •  6 prédios distribuídos em uma área construída de 1.705 metros quadrados
  •  6 funcionários, sendo 4 vigilantes, uma secretária e um responsável pela limpeza
  • Equipamentos como antenas, câmeras, torres meteorológicas, sensores, receptores GPS e instrumentos ópticos

O que faz

  •  Executa e desenvolve atividades e projetos de pesquisa técnico e científica em astronomia, geofísica espacial e aeronomia
  •  Coleta e transmissão de dados
  •  Desenvolve atividades de cooperação científica com pesquisadores e instituições de pesquisas nacionais e estrangeira

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NA VIDA PRÁTICA

  •  As medições feitas no Observatório de São Martinho integram uma rede de dados sobre clima espacial, que ajudam a detectar fenômenos espaciais fora da Terra, como raios cósmicos e tempestades solares
  •  Ajuda a detectar e a prevenir eventos que interferem nas telecomunicações, incluindo sinais de GPS, telefonia e TV a cabo, e na energia elétrica
  •  Participa da medição de alterações na camada de ozônio, que causam aquecimento global e que interferem na saúde humana. A camada de ozônio protege o planeta de raios ultravioletas emitidos pelo sol
  •  Participa de uma rede de monitoramento de raios em parceria com a Universidade de São Paulo (USP)
  •  Participa de pesquisas para aprimorar as previsões de clima e tempo
  •  Participa de projeto para a confecção de mapas de potencial de energia eólica e solar

Instituto pesquisa fenômenos que impactam no dia a dia

Alvo de críticas do presidente Jair Bolsonaro (PSL) por divulgar dados sobre o desmatamento na Amazônia, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) ganhou as atenções do país, nos últimos dias, depois da demissão de Ricardo Galvão da direção do órgão. Doutor em Física, Galvão foi demitido pelo presidente da República.

O Inpe se instalou em Santa Maria no início da década de 1990 em uma articulação do físico Nelson Schuch, pesquisador e grande incentivador da ciência espacial. Nos últimos anos, o Centro Regional Sul e, por consequência, o Observatório Espacial enfrentam dificuldades.

- O orçamento do Inpe teve redução e o Observatório consome 70% do nosso orçamento. Como é uma área distante e com estrada precária, qualquer licitação acaba sendo mais cara Há gastos, mas vale à pena - diz a chefe do Centro Regional Sul, Tatiana Kuplich.

Mesmo criticado pela maior autoridade do país, o Inpe é fundamental para o desenvolvimento.

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POR DENTRO DA PESQUISA ESPACIAL

O que o Inpe faz?

  •  O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) foi criado em 1961 com o objetivo de capacitar o país nas pesquisas cientificas e nas tecnologias espaciais. Ao longo dos anos, suas atividades se ampliaram e a importância dos estudos vão desde assuntos complexos sobre a origem do Universo a aplicações de ciências nas questões de desflorestamento das nossas matas
  •  O Instituto é centro de excelência e referência internacional em pesquisas de ciências espaciais e atmosféricas, engenharia espacial, meteorologia, observação da Terra por imagens de satélite e estudos de mudanças climáticas

ÁREAS DE ATUAÇÃO DO INPE

Ciências Espaciais e Atmosféricas

  •  Compreende a investigação física e química de fenômenos que ocorrem na atmosfera e no espaço exterior, de interesse para o país. Realiza pesquisas e experimentos nos campos da Aeronomia (ciência que estuda que estuda as camadas superiores da atmosfera), Astrofísica (ramo da física que estuda a constituição material, as propriedades físicas, a origem e evolução dos astros) e Geofísica Espacial (estudo do espaço)

Engenharia Espacial

  • Área voltada para o desenvolvimento de sistemas e tecnologias espaciais destinadas a diversas aplicações, como a execução de projetos e construção de satélites e sistemas de solo. Realiza projetos nos campos da Mecânica Espacial e Controle, Eletrônica Aeroespacial, Sistema de Solo e Manufatura

Observação da Terra

  •  Envolve o conhecimento científico e tecnológico nos campos de sensoriamento remoto e geoprocessamento, levantamento de recursos naturais e monitoramento do meio ambiente. Realiza atividades de pesquisa, desenvolvimento e aplicações nos campos de sensoriamento remoto e processamento de imagens digitais

Previsão de Tempo e Clima

  •  Desenvolve pesquisas e atividades nos campos das Ciências Meteorológicas, Meteorologia por Satélites, Previsão de Tempo e Climatologia. As atividades operacionais de previsão de tempo e clima são executadas por meio de um supercomputador que possibilita gerar resultados confiáveis, com boa antecedência

Ciência do Sistema Terrestre

  • Área voltada para a detecção e atribuição de causas das mudanças ambientais globais e regionais; geração de cenários de mudanças ambientais globais e regionais, e avaliação de impactos nos sistemas sócio-econômico-ambientais

O QUE É FEITO AQUI

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Algumas contribuições para a ciência espacial do Centro Regional Sul de Pesquisas Espaciais, em Santa Maria e do Observatório Espacial Sul, em São Martinho da Serra:

  •  Monitoramento do ozônio e da radiação ultravioleta
  •  Monitoramento de campo magnético na região da anomalia magnética e obtenção de índices para previsão do clima espacial 
  •  Monitoramento da incidência de raios cósmicos para previsão de eventos solares 
  •  Participa do projeto Sonda (Sistema de Organização Nacional de Dados Ambientais) para elaboração de mapas de incidência de radiação solar e dados de ventos em alturas distintas para uso e aplicações em energias renováveis 
  •  Observações ópticas da alta atmosfera por meio da luminescência (luz) atmosférica para estudar os fenômenos ondulatórios, temperatura e ventos na alta atmosfera 
  •  Pesquisadores orientam alunos de graduação, em nível de iniciação científica ou tecnológica com bolsas do instituto, e alunos da pós-graduação (mestrado e doutorado) em Meteorologia  

Alguns projetos e parcerias

  •  Laboratório Sino-brasileiro para Clima Espacial, uma parceria entre o Brasil e a China para estudos do clima espacial e seus impactos na vida moderna
  • Projeto Antártico do Inpe, com projeto na área de oceanografia, entre outros 
  •  Observações da alta atmosfera e espaço a partir do solo (o equipamento digissonda, existente no OES, monitora a ionosfera, parte superior da atmosfera terrestre, onde se realiza a ionização 
  •  Programa de nanossatélites para estudos do campo magnético da terra, especialmente na região da anomalia magnética da América do Sul (que interfere nas telecomunicações, por exemplo) 
  • Parcerias com pesquisadores de países como China e Japão 
  •  Núcleo de Sensoriamento Remoto, que trabalha com dados ambientais, principalmente no mapeamento e da vegetação dos ecossistemas terrestres 


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