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Lendas e fatos pitorescos povoam história da Paróquia de São Martinho da Serra

José Mauro Batista

Fotos: Gabriel Haesbaert (Diário)
Os agricultores Zilá, Elio e Antão (último à direita, de gorro) contam com o apoio do seminarista Pablo Knierin. Abaixo, o busto de São Martinho e a imagem de Nossa Senhora Imaculada Conceição

Lendas e fatos pitorescos povoam a história da Paróquia de São Martinho da Serra, onde estão os sinos missioneiros. A comunidade católica local reage com desconfiança à presença de estranhos, temendo que os sinos e as imagens de santos da igreja, como a do padroeiro que dá nome ao município, sejam levadas. Uma dessas lendas é a da troca de santos.

- Contam que, em São Martinho, havia uma devoção muito grande a São Pedro e que, em São Pedro, essa devoção era por São Martinho. Mas quando as imagens foram encomendadas, elas foram trocadas - conta o seminarista Pablo de Carvalho Knierin, 20 anos, responsável pela igreja há cerca de 15 dias, desde que as freiras da congregação das Irmãs Filhas do Sagrado Coração de Jesus foram embora da cidade.

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Ainda sobre a troca de santos, constam relatos de que as duas comunidades - a do posto de São Pedro (na época, um posto da Redução de São Miguel, capital dos Sete Povos das Missões) e a do povoado de São Martinho encomendaram, ao mesmo tempo, imagens de seus santos. Encarregado de buscar as imagens, o são-pedrense Antonio Ferreira Canabarro entregou os santos, só que trocados.

Integrantes do conselho paroquial da comunidade, os agricultores e irmãos Elio Aires de Arruda, 69 anos, e Antão Elido de Arruda, 60, confirmam que os martinhenses temem a perda de suas relíquias sagradas.

- Uma vez, a comunidade se revoltou porque disseram que iriam trocar os santos - relembra Antão, sem precisar a data em que essa revolta teria ocorrido.

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Rosana de Fátima de Arruda, 56 anos, esposa de Antão, e Zilá Teixeira de Arruda, 69, esposa de Elio, são ainda mais desconfiadas e questionam a presença dos pesquisadores da PUC e da reportagem no local.

- Hoje em dia a gente tem que desconfiar de tudo. Estão roubando até igrejas - diz Zilá, pedindo que o repórter deixasse seu nome registrado em um caderno, para sua garantia.

Mais tranquilas depois das explicações de que tanto como a visita do pesquisador como a da reportagem tinha como objetivo resgatar e proteger a história da capela, as irmãs foram contando histórias, mas uma delas não quiz ser fotografada.

- Há muita lenda por aqui, dizem que há locais mal assombrados e que é por isso (troca de santos) que o município não se desenvolve. Mas não há nenhuma possibilidade de os sinos e as imagens serem levados da igreja. Só poderiam ser retirados para uma restauração - garante o seminarista Knierin, tranquilizando a comunidade local.

QUANDO BATE O SINO...

Durante a reportagem, a família Arruda também ficou preocupada quando o sino foi badalado. É que, em comunidades pequenas, como São Martinho, o sino da igreja só é acionado para chamar para as missas ou avisar que alguém morreu.

- Vão achar que alguém morreu na cidade. Todo mundo vai querer saber - alertou Elio.

No entanto, Knierin sabe que os sinos soam diferentes para uma ocasião e outra e puxou a corda para que as badaladas não dessem a impressão de uma cerimônia fúnebre.

A história de São Martinho é repleta de fatos curiosos. Em 1876, a localidade emancipou-se de Cruz Alta, porém, em 1901, a emancipação foi revogada. Em 20 de março de 1992, após consulta à população, voltou a ser município. Apesar das lendas, e, também, por conta delas, São Martinho tem uma rica história.

SÃO MARTINHO DA SERRA

  • Localização - Região Central, é um ex-distrito de Santa Maria e que faz limites, também, com São Pedro do Sul, Quevedos, Júlio de Castilhos e Itaara
  • Área - 671,9 quilômetros quadrados
  • População - 3.201 habitantes, conforme o Censo de 2010 do IBGE
  • Fundação - 20 de março de 1992, mas a localidade já havia sido município a partir de 1876, porém, teve sua emancipação revogada em 1901
  • Base econômica - Agricultura, principalmente soja, milho, feijão, arroz e trigo

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