Foto: Charles Guerra (Arquivo Diário)
Morreu, na noite deste domingo, em Santiago, o poeta Oracy Dornelles, aos 88 anos. Ele estava internado no Hospital de Caridade da cidade e teve um infarto na tarde de sábado. Devido à idade avançada e saúde debilitada, Dornelles não resistiu e morreu às 23h de ontem. O velório ocorre no Salão de Atos da URI, e o sepultamento será às 17h30min, no Cemitério Municipal.
Além de escritor, Dornelles também era escultor, caricaturista, micropintor e criador de um circo de pulgas que virou atração nacional. Ele participou de programas da TV Globo, Band, SBT e TVE, sendo entrevistado pelo Jô Soares. O circo também é considerado o menor do gênero no Brasil pelo RankBrasil - O Livro dos Recordes Brasileiros.
Nas ruas de Santiago, dá para observar esculturas de sua autoria, feitas em aço. Uma delas chegou a ganhar, em 1992, uma medalha da Associação Nacional de Veteranos da Força Expedicionária Brasileira (FEB). A escultura Monumento a FEB é um grande pássaro mutilado, com duas cabeças, instalado numa coluna com o emblema da FEB.
A URI, onde ele trabalhou na biblioteca e no curso de Letras, também guarda algumas de suas obras. Logo na entrada do campus, há uma caravela feita em ferro. Mesmo sem ter cursado faculdade, Dornelles sempre foi bastante valorizado pela instituição. Ele também é autor dos murais que decoram a URI: Sepé Tiaraju, Chula, Chimarrão e Roda D'Água.
Como micropinturista, recriou telas de pintores de renome mundial em cima de grãos de soja, arroz e palitos de erva-mate, sendo necessário o uso de telescópios para visualizar suas criações, que ficaram famosas em exposições na capital do Estado, à convite do Governo do Estado e Assembleia Legislativa.
Apaixonado por astronomia, Dornelles se dedicava também a observar os planetas e estrelas. Em ocasiões especiais, costumava montar seu potente telescópio na praça ou na frente de casa para permitir que outras pessoas também fizessem observações. Amante da música clássica, foi um dos membros-fundadores do Clube de Música Amigos de Beethoven.
Dornelles completou 65 anos de poesia em 2019. Ele era o patrono de honra da Casa do Poeta de Santiago e ficou eternizado com sua marca na Calçada da Fama, em 2012. Seu primeiro livro, Agonia das Trevas (1954), também foi o primeiro livro editado na cidade.
Ele foi autor de 13 livros: Agonia das Trevas (1954), Belkiss (1955), Ninguém e Mais eu (1959), Poemas Opus 4 (1981), Poesia a Dois (1984), Cantares Ares (1992), Antologia a (2000), Cânticos do Hoje (2006), Páginas Impossíveis (2008), 320 caricaturas menos uma (2009), Poesias Novíssimas e Antycquas (2009), Epitáfios e Ultimos Poemas (2010) e o último, Poesia y Chrônica (2011).
Foto: Charles Guerra (Arquivo Diário)
A poesia de Dornelles já ganhou comentários de Jorge Amado, Manuel Bandeira, Affonso Romano de Sant'Anna, Fausto Cunha e do poeta santiaguense Caio Fernando Abreu, entre outros. Em carta enviada ao artista no dia 12 de janeiro de 1982, de São Paulo, Caio relembra a infância na terra natal e se refere a ambos como "dois malditos que se reconhecem".
Trechos da carta de Caio Fernando Abreu a Oracy Dornelles:
"São Paulo, 12 de janeiro de 1982 ...Numa cidadezinha perdida, dois malditos que se reconhecem sem que seja necessário sequer falar sobre isso. Uma cumplicidade muda, e tão secreta que, penso, talvez você nunca tenha percebido. Na minha memória - já tão congestionada - e no meu coração - tão cheio de marcas e poços - você ocupa um dos lugares mais bonitos. O mesmo que ocupa aquele arco branco do Quarto RC, no fim da rua. Ou os circos que acampavam na frente da casa de Dona Ernesta. Ou o campinho na frente de tua casa, onde eu deitava olhando as nuvens ou jogava futebol (pessimamente)..."
*Colaborou Janaína Wille
