saúde pública

Santa Maria registra 9 casos de leishmaniose neste ano

Dandara Flores Aranguiz

Foto: Pedro Piegas (Diário)
Os cães Toby (à esq.) e Nina usam a coleira contra a doença, que afasta o mosquito transmissor

Assim como a toxoplasmose, a leishmaniose também é considerada uma doença endêmica neglicenciada no Brasil. Falta de fiscalização e investimentos reduzidos em pesquisas, produção de medicamentos e forma de controle são alguns dos fatores apontados por especialistas na área para justificar o que, de tempos em tempos, deixa tutores de cães, veterinários e autoridades em saúde de cabelos em pé.

Em Santa Maria, a situação preocupa. De acordo com a Superintendência de Vigilância em Saúde, de janeiro até agora, o setor recebeu nove notificações de veterinários, de animais que apontaram positivo no primeiro teste feito em consultórios particulares. A Vigilância já fez as coletas de sangue desses cães, enviou o material para análise no Laboratório Central de Saúde Pública do Rio Grande do Sul (Lacen/RS) e aguarda os resultados dos exames.

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Em 2017, foram registradas 97 notificações, das quais 20 retornaram do laboratório com a confirmação da doença. Por conta disso, a cidade é considerada uma área de transmissão de leishmaniose visceral canina, conforme afirma Alexandre Streb, superintendente da pasta. A região norte de Santa Maria é considerada a que mais teve incidência de casos (com ocorrências nos bairros Chácara das Flores, Perpétuo Socorro, Itararé, Passo D'Areia, Carolina e João Goulart). Oito armadilhas para o mosquito transmissor foram instaladas nessa região.

- Enviamos os dados para a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e, com os resultados das análises, a 4ª Coordenadoria Regional de Saúde (4ª CRS) considerou Santa Maria como área de transmissão. A gente ainda não tem uma situação tão grave porque não tivemos nenhuma notificação em humanos, mas é preocupante pelo risco de transmissão - alerta Streb.

Por ser uma zoonose e fazer parte da relação de doenças de notificação compulsória pelo Ministério da Saúde, quando o cão recebe o diagnóstico da doença, o veterinário tem que, obrigatoriamente, notificar a Vigilância sobre o caso. O veterinário Rafael Zachow Barcelos explica que há duas alternativas após o diagnóstico: ou o tutor do animal assina um termo se comprometendo a dar o tratamento adequado ao cão, colocando a coleira antileishmaniose e realizando exames periodicamente, ou é recomendada a eutanásia no animal.

- É uma situação bem complicada, pois é uma doença que não tem cura. São 30 dias fazendo um medicamento que é caro e que vai dar uma amenizada. Mas, mesmo assim, o animal vai continuar sendo um portador ativo da doença - comenta.

FALTA FISCALIZAÇÃO
Em 2018, 18 notificações com suspeitas foram feitas, mas, em função do surto de toxoplasmose, em nenhum dos casos foi coletado sangue dos animais para envio ao Lacen por falta de recursos financeiros. A falta de fiscalização também é apontada por alguns moradores das regiões de risco como agravante do problema.

A aposentada Márcia Baelz, 55 anos, mora no Bairro Perpétuo Socorro e perdeu a cachorrinha Pretinha em 2017 em função da doença. Ela conta que demorou um ano e meio para os agentes visitarem sua residência após a notificação.

- Eu ganhei a Preta de um vizinho da frente. Ela já veio com a doença, mas eu não sabia. Notei que ela estava com feridas e levei no veterinário, que confirmou. Quando ela foi sacrificada, vieram aqui em casa, ficaram de voltar dois dias depois e só apareceram neste ano - conta.

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Depois que perdeu a Pretinha, Márcia adotou a Nina e o Toby. Para prevenir a doença, os animaizinhos estão sempre usando a coleira contra a doença.

A DOENÇA
O que é _ É uma doença infecciosa sistêmica, caracterizada por febre de longa duração, aumento do fígado e do baço, perda de peso, fraqueza, redução da força muscular, anemia e outras manifestações. Pessoas residentes em áreas onde ocorrem casos de leishmaniose visceral, ao sentirem esses sintomas, devem procurar o serviço de saúde mais próximo a sua casa o quanto antes, pois o diagnóstico e o tratamento precoce evitam o agravamento da doença, que pode ser fatal se não for tratada.

Com se transmite _ A transmissão acontece por meio da picada de insetos conhecidos popularmente como mosquito-palha, asa-dura, tatuquiras, birigui, dentre outros. Esses insetos são pequenos e têm como características a coloração amarelada ou de cor palha e, em posição de repouso, suas asas permanecem eretas e semiabertas. A transmissão acontece quando fêmeas infectadas picam cães ou outros animais infectados e, depois, picam o homem, transmitindo o protozoário Leishmania chagasi, causador da leishmaniose visceral. O cão doméstico é o principal reservatório. O período de incubação no homem é bastante variável, de 10 dias a 24 meses, e, em média, 2 a 6 meses.

Eutanásia é a única solução? A eutanásia é recomendada como uma das formas de controle da leishmaniose visceral (LV), mas deve ser realizada de forma integrada com as demais ações recomendadas pelo Ministério da Saúde. Vale ressaltar que a mesma é indicada como forma de controle por meio de inquéritos censitários apenas para municípios com transmissão moderada e intensa.

Sintomas

  • Nos humanos - Febre por mais de duas semanas ; e palidez, fraqueza, perda de apetite, emagrecimento, anemia e aumento do baço e do fígado também são sintomas comuns.
  • Nos animais - Crescimento abrupto das unhas , perda de pelo, emagrecimento rápido, inchaço das patas, feridas (úlceras) nas orelhas, em volta dos olhos e na região da boca.

Como prevenir?

  • Limpeza periódica dos quintais e retirada de matéria orgânica em decomposição (folhas, frutos, fezes de animais e outros entulhos que favoreçam a umidade do solo, locais onde os mosquitos se desenvolvem)
  • Destino adequado do lixo orgânico, a fim de impedir o desenvolvimento das larvas dos mosquitos
  • Limpeza dos abrigos de animais domésticos, além da manutenção de animais domésticos distantes do domicílio, especialmente durante a noite, a fim de reduzir a atração dos flebotomíneos para dentro do domicílio
  • Para os moradores das regiões com risco de transmissão, recomenda-se a colocação de telas em janelas e portas da residência, para evitar a entrada de mosquitos na casa
  • Uso de inseticida (aplicado nas paredes de domicílios e abrigos de animais). No entanto, a indicação é apenas para as áreas com elevado número de casos, como municípios de transmissão intensa ou em surto de leishmaniose visceral
  • Usar repelente, principalmente ao anoitecer e ao amanhecer, horário em que o mosquito-palha costuma voar
  • Para os animais, recomenda-se o uso de coleiras contra a leishmaniose (varia de R$ 60 a R$ 250, dependendo da marca e do tempo de duração, e tem de 80% a 85% de eficácia) e também a castração das fêmeas, já que o animal infectado transmite para o filhote a doença pelo sangue

Fonte: Superintendência de Vigilância em Saúde/Ministério da Saúde

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