Médico contesta critérios e não concorda com bandeira vermelha em Santa Maria

Desde que foi anunciado o mapa preliminar de bandeiras para a próxima semana no Rio Grande do Sul, colocando a região de Santa Maria na bandeira vermelha, autoridades empresariais, políticas e médicas da cidade passaram a contestar essa classificação. 

Um dos contestadores é o médico epidemiologista Fábio Lopes Pedro, que atua no Husm e na Unimed e foi um dos idealizadores do Lauduz, serviço de teleatendimento de Medicina que foi criado em Santa Maria nos primeiros meses de pandemia. Segundo ele, na última semana, os hospitais do município receberam diversos pacientes de outras regiões do Estado, o que fez aumentar a ocupação de leitos. Mas, conforme o médico, esses casos não deveriam ser considerados nos critérios do modelo de distanciamento controlado.

- Esse cálculo, que colocou Santa Maria na bandeira vermelha, não vai de encontro com a nossa realidade. Vemos as pessoas se cuidando, usando máscaras, o comércio seguindo regras rígidas. Agora, acabamos sendo penalizados por estarmos ajudando o Estado, ao recebermos pacientes de outras regiões. Esse modelo se mostra falho. Esperamos que seja feita uma correção - destaca o epidemiologista.

Tendência é que número de casos continue aumentando em Santa Maria

Veja, abaixo, o relato completo escrito por Fábio Lopes Pedro contestanto os critérios do governo do Estado:

"Sou médico Epidemiologista, e infectologista, do HUSM/UFSM, e Unimed Santa Maria. Estamos apontando falhas no modelo de distanciamento controlado desde a última terça, no que se refere a macrorregião de Santa Maria.

Na última semana, recebemos mais de 12 pacientes dos seguintes municípios: Santana do Livramento, Cachoeira do Sul, Caçapava do sul, Capão da Canoa, Horizontina, Santo Antônio das Missões, Novo Hamburgo (vários, aliás), Cachoeirinha, entre outros. No total, para base do cálculo, tivemos 38 internações nos últimos 7 dias, entre 9 e 16 de julho. Isso por quê? Porque estávamos absolutamente vazios! Isso mesmo, nossa UTI do Hospital Universitário, durante a noite de 13 de julho, não tinha um paciente sequer internado. O nosso Hospital Regional foi abarrotado de internações de pacientes de outras macrorregiões, para que pudéssemos ajudar o Estado do RS. O nosso Hospital de Caridade (privado) também teve metade da internações de pacientes de outras localidades que não pertencem a nossa macrorregião.

Diante disso, desde terça de manhã (14 de julho), manifestamos os erros que adviriam na classificação da bandeira, pois é uma falha grave do sistema. Apontei em 16 de maio que os leitos por pacientes de outros municípios externos da macrorregião não poderiam entrar no cálculo, mas os responsáveis pelo modelo não fizeram ajustes e a informação foi ignorada.

Santa Maria tem curva descendente de casos na comunidade desde 15 de julho como observado no gráfico. A comunidade empenha-se e segue as orientações. Agora, recebemos uma bandeira totalmente descabida para a situação epidemiológica local. Esperamos que os recursos encaminhados pela nossa gestão e prefeitura tenham efeito e sejam adequadamente interpretados, pois caso contrário começamos a duvidar da idoneidade deste modelo.

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Gráficos do Observatório de Dados da Covid-19 da UFSM

Nossa comunidade quer seguir ajudando, não somente aos nossos municípios como os demais do Estado, mas devem ser respeitados critérios técnicos, que não causem DEMÉRITO a quem trabalhou arduamente desde 29 de janeiro com vistas ao enfrentamento da pandemia. Essa bandeira vermelha não será admitida na nossa comunidade, pois trata-se de equivocada e não ajustada classificação em termos de epidemiologia. Segue abaixo nossa curva de casos, conforme dados dos casos confirmados (832 até ontem pela tarde)."

PIORA EM INDICADORES

De acordo com o levantamento completo da 11ª rodada, Santa Maria apresentou piora em três indicadores que abrangem dados específicos da região, sendo que os três estão avaliados em risco máximo, na bandeira preta.

Conforme a nota técnica que apresenta as justificativas da classificação, dos indicadores de velocidade do avanço da doença na região, o de variação no número de hospitalizações confirmadas para Covid-19 entre as duas semanas foi da bandeira amarela para a preta. Foram registradas 26 novas hospitalizações por Covid-19 na região nos últimos 7 dias, saindo de 12 para 38 pacientes, um salto de 217%. 

Como consequência, houve piora expressiva na incidência de novos casos sobre a população, de 2,17 para 6,88 hospitalizações confirmadas para Covid-19 registradas nos últimos 7 dias por 100 mil habitantes, o que levou a bandeira deste indicador da cor laranja para a preta também.

O mesmo aconteceu com a projeção de número de óbitos para o período de uma semana para cada 100 mil habitantes, como resultado dos quatro falecimentos registrados na semana e a piora no número de leitos de UTI ocupados na macrorregião.

No que diz respeito ao estágio de evolução da doença na região, registraram-se 73 casos ativos na última semana, ao passo que somaram 390 casos recuperados nos 50 dias que antecederam o início da semana de referência. Apesar do aumento, o resultado desse indicador permaneceu na bandeira amarela - a única dentre os 11 indicadores da região.

Além disso, a Macrorregião Centro-Oeste, da qual a região de Santa Maria faz parte, apresentou piora em três indicadores de propagação da Covid-19 e em dois de capacidade de atendimento.

Com isso, dos 11 indicadores analisados, seis foram avaliados em risco máximo, com bandeira preta para a região: variação semanal do número de novas hospitalizações; variação no número de confirmados em leitos clínicos; variação no número de confirmados em UTI; novas hospitalizações Covid-19; projeção de incidência de óbitos à população; e número de leitos livres para cada leito ocupado Covid-19.

A prefeitura de Santa Maria e os demais prefeitos que compõem a Associação dos Municípios da Região Centro irão recorrer da decisão. 

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