pandemia

Infectologista responde principais dúvidas sobre o coronavírus

18.398

O médico infectologista, membro do conselho administrativo da Unimed e professor da Universidade Franciscana (UFN) Thiego Teixeira Cavalheiro é um dos profissionais de saúde que está na linha de frente no combate à Covid-19. Na última segunda-feira, ele foi o entrevistado do Direto da Redação, em uma das lives da cobertura especial do Diário sobre o coronavírus, transmitidas em nossas redes sociais, no site do jornal e pela TV Santa Maria, no canal 19 da Net. O especialista comentou os números de casos da doença já registrados em Santa Maria e na região, além de apresentar medidas de prevenção para combater a infecção. Veja a entrevista:

Santa Maria tem dois casos confirmados e 345 suspeitos de coronavírus

Diário - Com dois casos confirmados em Santa Maria, as formas de prevenção mudam?

Dr. Thiego Teixeira Cavalheiro - Como especialista em doença infecciosa, digo que o fato de termos dois casos confirmados na cidade não muda nada do que já vínhamos enfatizando. A perspectiva é clara. Esses dois casos vem num contexto em que há um número expressivo de casos suspeitos. Essa definição leva em consideração aspectos clínicos, radiológicos em exames de imagem e em aspectos laboratoriais, quando o exame sela o diagnóstico. Tudo isso não muda as atitudes que temos que tomar. Temos feito um esforço enorme no que chamamos de prevenção primária para que haja a circulação menor do vírus na sociedade, com impacto menor. O entendimento é fundamental. Temos que tomar medidas drásticas e recomendar às pessoas que não saiam de casa. Cirurgias que não são de urgência foram adiadas. O que temos que fazer agora é ficar em casa para nos proteger e proteger um familiar que tem risco maior de complicações com essa doença.

Diário - Qual é a sua leitura desse cenário, de comércio fechado e isolamento social?

Dr. Thiego - Sabemos que atitudes tão drásticas como essas, de fechar universidades, mercados, são difíceis de serem tomadas e têm um impacto social e econômico muito grande. Por isso, precisamos do respaldo técnico e prevalece o impacto de saúde. Se a gente não colocar a saúde como o nível primário, podemos ter todo o resto prejudicado. A gente pode fazer com que nossa economia se restabeleça, desde que a gente tenha saúde. Temos a obrigação, como profissionais de saúde, quando se tem uma ameaça desse nível, de tomar a decisão de recomendar tudo isso. O entendimento de quem comanda o município foi crucial para que houvesse o alerta à população. É para ficar assim por, no mínimo, duas semanas. O entendimento dos epidemiologistas que estão mapeando essa crise e estudaram o que aconteceu fora do país demonstra que essa é a atitude mais sábia para se tomar agora.

Rio Grande do Sul tem 112 casos confirmados de coronavírus

Diário - A responsabilidade é de todos agora?

Dr. Thiego - O que me conforta é que a gente, a equipe de infectologistas, tem certeza do que está falando para que o resultado, lá na frente, daqui a dois meses, seja que o número de casos na nossa cidade foi menor. Não me importo de ouvir de uma pessoa que "foi uma histeria e não precisava de tudo isso". Eu respondo diferente: "precisava sim. E as atitudes foram tomadas para nós chegarmos lá com o número de casos menor". Eu não quero chegar daqui a dois meses, e não ter feito nada. Nossa responsabilidade é que a prevenção seja executada.

Diário - As pessoas precisam estar preocupadas só com grupos de riscos ou de uma forma geral?

Dr. Thiego - A gente está tentando prever o futuro, o que é muito difícil. Então, consideramos dados científicos que nos dão uma estimativa. Onde essa estimativa foi respeitada, conseguiu-se um achatamento da curva epidêmica, a qual nos dá um desafogo. Onde não foram adotadas as medidas, o impacto foi gigantesco. Quero que todos entendam que o fato de termos uma perspectiva de aumento de casos em abril se soma a um fator preocupante para nós. Vamos estar na entrada do inverno, que já é uma estação do ano que tem impacto de saúde. As outras doenças continuam acontecendo. O paciente não tem "Covid-19 na testa". Por isso, o que a gente não quer é que pessoas saudáveis se exponham de forma desnecessária em um ambiente hospitalar que não precisaria. O vírus está circulando na cidade, já foi decretado que tem transmissão comunitária. O que não queremos é que pessoas que não são do grupo de risco sejam vetores. A gente sabe que tem grupos com mortalidade maior, mas outros podem ser vetores.

Diário - É possível prever a velocidade de transmissão?

Dr. Thiego - Todas as análises são bastante superficiais, porque não sabemos como vai ser o andamento da pandemia no nosso meio. São dados das experiências que houve na China, na Coréia do Sul, na Inglaterra, na Alemanha. São contextos de transmissibilidade diferentes, mas, como regra, tem um número muito importante, que é um paciente transmite para 2,7 pacientes. Isso não mudou muito. Vamos arredondar para três. Três transmitem para nove; nove para 27; 27 para 91... e assim vai. Em um mês, 406 pacientes. Em um contexto de transmissão comunitária, a gente perde esse controle. Muitos pacientes nem serão diagnosticados por não ter sintomas.

Brasil tem 46 mortes e mais de 2 mil casos confirmados de coronavírus

style="width: 100%;" data-filename="retriever">

Diário - Isso vale para pacientes expostos e que não estejam em isolamento?

Dr. Thiego - Sem dúvida. Daí a importância de pacientes se recuperarem em casa. E falo mais, momentos de crises são filosóficos. A gente muda e passa a dar valor a atos que fazemos no dia a dia. Passamos a perceber que tem coisas que não eram tão ruins. Estamos num momento de dois lados: o pânico e a instabilidade emocional e a racionalidade. Eu, como técnico, e demais colegas nos aproximamos da racionalidade porque temos que estar muito bem para enfrentar esse desafio, dar orientação, cuidar da população. Temos estudado incansavelmente para que esse pânico se faça menor, e a gente faça as recomendações.

Diário - O medo precisa ser atendido também?

Dr. Thiego - Teve o momento da pandemia em que se tinha casos importados e, depois, os casos de transmissão local. Chegamos ao estágio de transmissão comunitária, não importa mais de onde o paciente veio. Somos a China, a Europa agora. A parte emocional é difícil. Temos que estabelecer nosso coeficiente emocional que é a base de tudo. Tem que cuidar muito do profissional de saúde para que todos se sintam capazes. As pessoas que tão em casa e pensam "será que tenho que mudar?" precisam buscar a racionalidade. Pensar que vamos ter êxito juntos lá na frente. Estou sendo o mais humano possível em dizer isso. Eu tenho minha mãe, que fez uma cirurgia de emergência recentemente, meus irmãos, tios... sei de várias pessoas que estão com medo. E esse medo se torna menor no momento em que tomamos as melhores atitudes. E permanecer em casa é a melhor atitude.

Diário - As pessoas que são só vetores preocupam. Eles podem decidir não trabalhar, como fica a situação?

Dr. Thiego - Gostaria de detalhar mais sobre grupo de riscos. As características clínicas da doença: uma vez que a Covid-19 acomete um indivíduo, demora cinco dias até começar a desenvolver os sintomas. A partir do momento que se desenvolve os sintomas, tem o período, que vai de sete a 14 dias, em média 10 dias, de transmissibilidade. Pelo aspecto pandêmico do vírus, é possível que mesmo pacientes assintomáticos possam transmitir. Por isso, a preocupação de estar em casa. Essa é uma das medidas que me faz falar que grupo de risco não adianta.

Clientes residenciais não poderão ter luz cortada nos próximos 90 dias

Diário - Há profissionais e UTIs sendo capacitados. Há um alinhamento entre os sistemas de saúde público e o privado?

Dr. Thiego - O contexto é de unir forças. É necessário haver limites, para quem tem planos de saúde não se sentirem lesados, mas, em contextos de crise, precisamos ter expertise para alinhar os setores. Está havendo uma estruturação para recebermos da melhor maneira possível a situação que vai chegar.

MÁSCARA INDICADA:

  • A máscara comum. Para o cidadão comum, não é necessário utilizar máscaras de uso profissional da área de saúde. Ela é indicada apenas para pacientes infectados.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Especialistas reforçam medidas de prevenção e criticam pronunciamento de Bolsonaro Anterior

Especialistas reforçam medidas de prevenção e criticam pronunciamento de Bolsonaro

Próximo

VÍDEO: hospital de Santa Maria está preparado para receber pacientes de coronavírus

Saúde