Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)
Uma declaração do Ministério da Saúde, nesta quarta-feira, surpreendeu as autoridades da área em Santa Maria. Em entrevista à RBS TV, o coordenador de doenças transmissíveis do ministério, Renato Alves, disse que o órgão não reconhece os 485 casos confirmados de toxoplasmose na cidade, considerando apenas 88 casos de pacientes que adquiriram a doença em decorrência do surto. A declaração preocupa, já que os recursos do governo federal destinados ao município, como medicamentos, baseiam-se nesses números.
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A 4ª Coordenadoria Regional de Saúde (4ª CRS) entregou um levantamento ao Ministério Público Federal (MPF) com a relação atual do estoque da farmácia que distribui os remédios considerados estratégicos (pirimetamina, sulfadizina e espiramicina) aos pacientes, e o resultado agrava ainda mais a situação: há medicamentos para o grupo de risco (gestantes, crianças menores de dois anos, imunodrepimidos, pessoas com toxoplasmose congênita e aguda e com lesões oftalmológicas) para, no máximo, 30 dias.
De acordo com o titular da 4ª CRS, Roberto Schorn, o levantamento foi feito com base nos dados já divulgados nos últimos boletins epidemiológicos.
- Não vamos deixar faltar. O Estado já está comprando mais medicamentos, com licitação emergencial, só não sabemos ainda quando eles vão chegar nem em que quantidade - afirmou Schorn.
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Segundo a secretária de Saúde do município, Liliane Mello Duarte, o não reconhecimento em relação aos outros casos de toxoplasmose impacta diretamente no envio de medicamentos para a cidade.
- Isso me preocupa, porque nós temos uma quantidade de medicamentos disponibilizados pelo município apenas. O que nos causa estranheza é que, se eles consideram apenas esses casos (88), de onde vai vir a medicação? Eu tenho pacientes doentes, quem é que vai tratar? E os mais de mil casos notificados? E as grávidas? - declarou.
Em resposta ao Diário, a assessoria de imprensa do Ministério da Saúde disse, por e-mail, que "até o último dia 30 de maio, estavam confirmados, laboratorialmente, pela Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, 88 casos de toxoplasmose com indício de infecção recente" e que, nesses casos, "o exame que leva em consideração o período de infecção deu positivo. Ou seja, é possível saber que a transmissão ocorreu neste surto atual, com a mesma fonte de infecção provável".
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MPF ANALISA O CASO
Na sexta, a Vigilância em Saúde de Santa Maria vai se reunir com os técnicos do Programa de Treinamento em Epidemiologia Aplicada aos Serviços do Sistema Único de Saúde (EpiSUS), que estão desde o final de abril na cidade acompanhando o surto para tentar entender a situação e como o governo federal auxiliará no caso. Os técnicos devem permanecer em Santa Maria até o final dessa semana. Por e-mail, a assessoria do Ministério da Saúde confirmou que a investigação de campo se encerra nesta semana, "mas que a equipe do Ministério da Saúde permanece no Estado para análise e, depois, seguirá monitorando a situação e dando apoio ao Estado e município".
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O MPF está fazendo a análise dos documentos encaminhados pela 4ª CRS e dos dados encaminhados na segunda-feira pelo Ministério da Saúde, que afirmou que só teria condições de fornecer os lotes de pirimetamina, sulfadizina em julho e que o processo de licitação de aquisição da espiramicina ainda está em aberto, com previsão de fornecimento de 40 mil comprimidos apenas para outubro.
O MPF deve se posicionar oficialmente sobre o assunto para saber quais medidas urgentes e necessárias devem ser adotadas para solucionar o problema.