Em um ano, número de leitos de UTI é oito vezes maior em Santa Maria

Passado quase um ano do início da pandemia de coronavírus, o sistema de saúde precisou se adaptar e ser ampliado rapidamente. Em Santa Maria, conforme os meses passaram e a doença se intensificou, novos leitos foram criados, hospitais equipados e profissionais contratados. No sistema público, por exemplo, o Hospital Regional, até então desabitado mesmo depois da inauguração, recebeu, até semana passada, 30 leitos de UTI para pacientes com Covid-19, serviu como um desafogo na saúde pública da região e até mesmo abrigou pacientes vindo do Amazonas. Na rede particular, o principal hospital privado na cidade também é exemplo de como o sistema precisou ser ampliado: o Hospital de Caridade Astrogildo de Azevedo quadriplicou o número de leitos de UTI e deixou o setor Alcides Brum exclusivo para tratamento da doença. 

Se há pouco menos de um ano a cidade contava com 10 leitos de UTI para casos de Covid-19, esse número se multiplicou com o passar do tempo e aumento de casos e, hoje, são 91. Mesmo assim, com 8 vezes mais que a capacidade do ano passado, a demanda cresce além da proporção dos leitos. Em março e abril de 2020, a situação era tranquila, nem um terço dos leitos eram preenchidos. Hoje, o cenário é contrastante: mesmo que o mapa de leitos do Estado indique unidades disponíveis, é uma questão de horas que um paciente acabe preenchendo a vaga. 

Na mesma medida que as estruturas se multiplicam, a pandemia exige cada vez mais do sistema de saúde. Por isso, mesmo depois de o governo estadual aumentar em 130% a capacidade hospitalar do Rio Grande do Sul, os índices de ocupação dos leitos se aproximam e, em alguns casos, até ultrapassam do limite.

Ainda na semana passada, o Hospital Universitário de Santa Maria (Husm) recebeu 15 novos leitos semi-intensivos, que são para pacientes em situação mais agravada, mas que necessitam de monitoramento constante. Com isso, conforme a gerente de Atenção Básica do Husm, Soeli Guerra, eles servirão como retaguarda para agilizar a alta de pacientes da UTI principal, e assim dar mais fôlego aos leitos intensivos.

- Em casos de pacientes da UTI que apresentem alguma melhora, eles podem ser transferidos para o semi-intensivo. Normalmente, os médicos não liberariam um paciente da unidade com precocidade, mas dada a situação e como fica no mesmo hospital, e com o cuidado dos profissionais, estamos fazendo para facilitar a logística de pacientes intensivos - explica Soeli.

Até a tarde desta segunda-feira, todos os leitos semi-intensivos já estavam ocupados no Husm. De acordo com Soeli, o desafio da gestão do hospital agora é, também, organizar equipes que deem conta de tantas unidades instaladas. Para isso, profissionais de áreas ambulatoriais estão sendo remanejados, assim como outros 43 que serão contratados em um processo seletivo emergencial.

QUADRO PROFISSIONAL 
Em uma unidade de UTI com 10 leitos, é preciso uma equipe mínima de, pelo menos, um médico, uma enfermeira e cinco técnicos em enfermagem. Por isso, nem sempre "só" os leitos são suficientes, pois a presença de profissionais capacitados é imprescindível.

- Tão importante quanto abrir leitos, é ter quem atenda aos pacientes. No momento estamos nos esforçando muito com as equipes da própria universidade e contratações emergenciais para tratamento adequado. Não se cogita abrir mais leitos, o que se cogita é ter a equipe adequada para agir com mais rapidez na UTI - salienta a gerente do Husm.

Além do Husm, o Hospital Regional também deverá ganhar 10 leitos de terapia semi-intensiva. A informação foi anunciada pelo prefeito Jorge Pozzobom na semana passada e a previsão, segundo a prefeitura, é de que sejam instalados até o final desta semana. A abertura dos leitos depende da contratação de profissionais para operacionalizá-los, e o processo seletivo já foi iniciado.

A reportagem do Diário questionou a assessoria de comunicação do Estado, assim como a direção e assessoria do hospital, sobre o processo de disponibilização desses leitos e mais detalhes sobre as contratações, mas nenhum respondeu.

Esforço para não chegar a 100%
A ativação de novos leitos e consequente necessidade de mais profissionais da saúde não é exclusividade da rede pública. No Hospital de Caridade Astrogildo de Azevedo, o maior da rede privada na cidade, a logística de setores e profissionais tem se alterado a cada dia.

- É um processo dinâmico. Estamos correndo atrás de contratações e fazemos redirecionamento de profissionais de outras áreas - afirma o gerente de enfermagem do hospital, Maiquel Lopes.

No Caridade, já foram 41 leitos de UTI Covid inaugurados desde março do ano passado. 10 deles estrearam ainda na última semana, sendo que seis já estão ocupados. Como medida para melhorar o atendimento, O Caridade separou o setor do Hospital Alcides Brum exclusivamente para o tratamento de Covid-19. Com isso, já são quatro áreas de UTI no local desde março de 2020, além de 84 novos leitos clínicos que também foram abertos.

Mas para trabalhar neles, não só novos profissionais são necessários, mas também estrutura. Para dar conta da alta demanda de pacientes, o hospital precisou buscar equipamentos emprestados de cirurgias eletivas, por exemplo, e até mesmo de outros hospitais e clínicas particulares. O diretor, Luis Gustavo Thomé, explica que não basta o leito em si, mas uma organização que dê condições aos profissionais.

- Esperamos que gente consiga dar conta. Não é fácil dar segurança aos médicos para que tenham uma área adequada e para realizar o atendimento - ressalta Thomé.

E para dar essa segurança, a direção do hospital precisou contratar, somente para os leitos mais recentes, 22 novos técnicos da saúde. Além disso, foi necessário organizar um treinamento dinâmico com os contratados, que precisam rapidamente ir para linha de frente. Na preparação, eles recebem orientações sobre os equipamentos e cuidados necessários. 

VERBAS

Quando se fala em abertura e manutenção de tantos leitos, também é preciso lembrar do quanto isso custa aos cofres públicos. Por esse motivo, repasses são distribuídos entre os governos federal e estadual, e do Estado para os municípios. Entretanto, no Rio Grande do Sul, o governo estadual está pagando diárias de R$ 1,6 mil de cerca de 216 leitos de UTI adulto. Essas unidades ainda não foram habilitadas pelo Ministério da Saúde para receber recursos ou não tiveram a habilitação prorrogada para o primeiro semestre de 2021.

São unidades já ativas e disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS), exclusivos para tratamento de Covid-19. O custeio de serviços de alta complexidade são de responsabilidade do governo federal, e os pagamentos realizados pelo Estado ocorrem em "caráter excepcional", de acordo com a assessoria do Piratini.

Na sexta-feira passada, a Procuradoria-Geral do Estado (PGE) ajuizou, no Supremo Tribunal Federal (STF), uma ação cível originária com pedido de tutela de urgência contra a União. O objetivo é a fazer com que o governo federal retome o custeio de todos os leitos de UTI Covid no Estado.

LEITOS CLÍNICOS
O ano de 2020 chegou ao fim sem que os leitos clínicos fossem um problema. Mas além de aumentar a necessidade de cuidados intensivos, o aumento de casos resultou no aumento por leitos em casos não tão graves. O Caridade chegou a pedir socorro, para outras instituições, para conseguir amparar todos os pacientes. Na retaguarda, Casa de Saúde e Unimed tem atuado 24 leitos leitos clínicos.

A Casa de Saúde preparou uma ala emergencial equipada desde o ano passado e que ficou de retaguarda caso a situação de internações se agravasse, o que acabou acontecendo. No hospital, são 11 leitos clínicos disponibilizados, sendo que, até a tarde de ontem, 9 já estavam ocupados. Conforme a administração, há possibilidade de ampliação do espaço nas próximas semanas.

Já no Hospital Unimed, o planejamento inicial era de que os 12 leitos clínicos Covid ofertados pela instituição ficassem isolados, em quartos separados, mas como a demanda nos últimos dias cresceu, foi preciso colocar mais de um leito por quarto, tornando o leito semi-privativo, segundo o diretor técnico, Claudio Azevedo.

Anteriormente, os pacientes com sintomas suspeitos de Covid-19 estavam sendo atendidos no Posto de Triagem, em um contêiner, com entrada pela Rua Barão do Triunfo. No entanto, os atendimentos de casos suspeitos estão sendo feitos, desde 27 de fevereiro, pelo Pronto-Atendimento 24h da Unimed, com entrada pela Rua Venâncio Aires. Conforme Azevedo, o PA da Unimed tem atendido, em média, mais de 100 casos por dia, mais do que o dobro e relação ao final do mês anterior, quando os atendimentos estavam sendo feitos no contêiner. O PA conta com 13 leitos de observação, que, segundo o médico, estão quase vazios na manhã desta segunda-feira.

Os atendimentos pediátricos e de pacientes sem sintomas Covid estão sendo feitos no Complexo de Atendimento da Rua Venâncio Aires. Ainda conforme Azevedo, na próxima semana, uma nova plataforma para teleconsulta pediátrica será lançada pela Unimed de Santa Maria, visando dar mais segurança aos pacientes com menos de 18 anos.

- Notamos que a procura por atendimento pediátrico diminuiu um pouco, e achamos que muitos pais estejam com medo ou receio de se dirigir até o local para procurar pelo serviço, mesmo que o atendimento para as crianças seja separado. Então optamos por disponibilizar esse canal aos nossos usuários - disse.

Relação de leitos com bandeira já teve outros momentos críticos

A bandeira preta que foi hasteada no Rio Grande do Sul quando a proporção de leitos de tratamento intensivo ocupados para leitos livres não indicava segurança ao sistema de saúde. Ao mesmo tempo, o Estado acionou no nível 4 do Plano de Contingência Hospitalar. Isso quer dizer que hospitais podem atender além dos 100% de ocupação e internar pacientes em áreas como salas de recuperação e UTIs semi-intensivas. Conforme a assessoria do governo estadual, enquanto a situação permanecer assim a bandeira preta vai seguir em vigor na tentativa de evitar um colapso maior do sistema de saúde.

Nesse cenário, novos leitos precisaram ser abertos. Porém, esta não foi a primeira vez que unidades foram inauguradas para combater o avanço da pandemia. Em julho de 2020, o temor era a bandeira vermelha - de risco alto de contágio.

À época, nove regiões receberam a classificação. O motivo que levou Santa Maria para o vermelho foi, inicialmente, as internações em alta. Porém, como os caso ativos eram poucos, a cidade pôde voltar ao laranja.

- A demanda por internações está crescendo com menor velocidade nas últimas semanas. Isso é positivo, mas não é suficiente, porque continua crescendo. E a capacidade de ampliação de oferta não consegue ter a mesma velocidade que a demanda - disse o governador Eduardo Leite (PSDB) na época.

Depois dessa rodada, o governo estadual acatou maior participação das prefeituras no Distanciamento Controlado. A partir da rodada seguinte, iniciou o modelo de cogestão, com protocolos regionais menos rígidos. A cogestão está suspensa até 22 de março em todo Estado.

A possibilidade de enviar recurso à classificação veio ainda antes. Em junho, Santa Maria havia recebido a bandeira vermelha. A aposta da prefeitura, do comércio e dos hospitais foi a contabilização de sete novos leitos de UTI no Hospital de Caridade Astrogildo de Azevedo. Foi suficiente para o retorno da região de Santa Maria à bandeira laranja.

A data de abertura dos primeiros leitos Covid-19 em Santa Maria

HOSPITAL UNIVERSITÁRIO

  • 6 de abril de 2020 - 10 leitos de UTI Covid-19

HOSPITAL DE CARIDADE, NO ALCIDES BRUM

  • 23 de março de 2020 - 45 leitos, sendo 10 de UTI, 15 no bloco cirúrgico e o restante clínico

HOSPITAL REGIONAL DE SANTA MARIA

  • 28 de abril de 2020 - 10 leitos de UTI e 30 leitos clínicos

NA REGIÃO

No final de março do ano passado, a Região contava com 39 leitos de UTI Covid-19, somando cidades como Santa Maria, Santiago e Faxinal do Soturno. Além dessas, outras cidades da região central categorizadas em outras áreas no mapa do Distanciamento Controlado também possuíam poucos leitos:

  • Santiago - 10
  • Faxinal do Soturno - 6
  • Rosário do Sul* - 8
  • Cruz Alta* - 10

Um ano depois, a capacidade de UTI's na região ficou concentrada em Santa Maria, com pouca elevação do número das outras cidades. No entanto, Cruz Alta, que tem a sua própria região Covid, foi de 10 para 42 leitos de UTI. Já Rosário do Sul, pertencente à região de Uruguaiana, não aumentou muitos leitos em números absolutos, mas dobrou a proporção se comparada com a do ano passado:

  • Santiago - 10
  • Faxinal do Soturno - 10
  • Rosário do Sul - 16
  • Cruz Alta - 42

Se os índices de novas UTI's não tiveram tanta distribuição entre municípios menores da região Covid de Santa Maria, os leitos clínicos exclusivos para tratamento da doença se espalharam por outras 17 cidades:

  • Agudo - 19 
  • Cacequi - 10 
  • Faxinal do Soturno - 14 
  • Formigueiro -
  • Ivorá -
  • Jaguari - 25 
  • Júlio de Castilhos - 21 
  • Mata -
  • Nova palma - 12 
  • Paraíso do sul -
  • Restinga Sêca -
  • Santiago - 56 
  • São Francisco de Assis - 10 
  • São João do Polêsine -
  • São Pedro do Sul -
  • São Sepé - 30
  • São Vicente do Sul - 5

UM ANO DEPOIS

Hoje, a região de Santa Maria no mapa do Distanciamento Controlado conta com pelo menos 111 leitos de UTI Covid-19 e mais de 200 leitos clínicos. Em Santa Maria, há um total de 91 leitos de UTI e 134 clínicos, confira:

HOSPITAL UNIVERSITÁRIO

  • 20 leitos de UTI
  • 20 leitos clínicos
  • 15 leitos semi-intensivos* (abertos na semana passada, ainda não constam no painel do estado)

HOSPITAL REGIONAL DE SANTA MARIA

  • 30 leitos de UTI
  • 30 leitos clínicos
  • 10 leitos semi-intensivos (que devem abrir nesta semana)

HOSPITAL DE CARIDADE, NO ALCIDES BRUM

  • 41 leitos de UTI (10 são novos, e já têm 6 pacientes internados)
  • 84 leitos clínicos (9 deles são novos e já operam)

TOTAL

  • 91 leitos de UTI
  • 25 leitos semi-intensivos
  • 134 leitos clínicos 

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