Com aumento da superlotação, pronto-socorro do Husm deve permanecer fechado

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Eduardo Ramos (Diário)
Rafael Ferrão, 36 anos é um dos pacientes que aguarda no corredor e dorme em uma maca 

O pronto-socorro do Hospital Universitário de Santa Maria (Husm) segue fechado desde a manhã de quinta-feira. O fechamento, que é temporário, ocorre devido a superlotação do espaço que atende mais de 180% acima da capacidade. O Husm é referência para mais de 40 municípios da região. 

Mesmo fechado, o número de pessoas aumentou na manhã desta sexta-feira, quando 35 pessoas aguardavam em macas nos corredores. Na quinta-feira, eram 32 pacientes sem leito. Conforme a diretoria do hospital, a emergência segue recebendo as internações de pacientes do Serviço de Atendimento Móvel (Samu) ou referenciados via Gerint, o sistema de regulação de leitos do estado. Ainda não foi possível realizar transferências de usuários para outras unidades que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Uma soma de fatores fazem com que o Husm acabe recebendo uma demanda maior do que pode suportar, conforme explica Soeli Guerra, gerente de atenção à saúde: 

- Essa é uma situação que vem tanto pelo sistema de regulação que possibilitou todos os hospitais privados a encaminhar pacientes para os hospitais públicos, e também aquelas demandas que vêm direto para a nossa emergência.

Santa Maria atinge marca de 900 mortes por Covid-19

Segundo ela, a alta demanda tem prejudicado a principal função do local, que é funcionar como um hospital escola, sobrecarregando a estrutura. 

- É colocado aqui dentro da emergência o que o sistema precisa, só que o Husm não é o Sistema Único de Saúde, ele é um ponto de atenção exclusivo para usuários do SUS - desabafa.

MATERNIDADE

O setor de maternidade, referência para a gestação de alto risco, é outra área que atende acima da capacidade. Com 10 leitos para recém-nascidos prematuros, há mais de uma semana atende com uma média de seis a oito leitos extras. Soeli diz que esses problemas já foram reportados aos órgãos de gestão de saúde pública, mas até agora não houve solução.

SITUAÇÃO PREOCUPA FAMILIARES E PACIENTES

Ainda na quinta-feira, a superlotação também preocupava familiares dos internados. Indignada com a falta de atendimento para a mãe, Rejane Wachtman, faz um apelo. A mãe dela tem 73 anos e é uma das 35 pessoas que estão atendidas em espaços improvisados: 

- A minha mãe está numa sala sem receber nenhuma medicação. Nós vemos que a situação da saúde em Santa Maria está caótica. Eu gostaria de pedir um olhar muito maior para a saúde.

Rejane relatou que a idosa precisa de exames urgentes, mas que estes foram agendados para o final do ano. A situação é semelhante em outros casos. A doméstica Jaqueline Rocha está com a mãe, de 77 anos, desde terça-feira no local. Elas moram em Pinhal Grande.

- Estamos aqui desde terça-feira, nós chegamos 8h para uma consulta. Como o caso da minha mãe está muito grave, o médico resolveu internar e agora nós aguardamos eles conseguirem uma cama.

Mesmo com o estado crítico, Jaqueline elogiou a preocupação do hospital em tentar resolver a situação e reconhece que o problema é um reflexo do sistema como um todo.

Outro caso é o do caminhoneiro Rafael Ferrão, 36 anos, com uma infecção causada pela diabetes:

- É complicado dormir em uma maca sem previsão de ir para um leito. Não posso nem me virar porque a maca pode cair - conta.

O fechamento do pronto-socorro do Husm, que começou na quinta-feira, tem prazo de 48h, devendo seguir, ao menos, até o sábado.

RESPOSTA DA SES

Após ser questionada pelo Diário, a Secretaria Estadual de Saúde divulgou em nota que "a porta de entrada do HUSM ainda é opção para a regulação dos pacientes atendidos via SAMU, tendo em vista a limitação ser referente apenas ao atendimento da demanda espontânea". A SES também afirma que dispõe da Unidade de Pronto Atendimento 24h e do Hospital Municipal Casa de Saúde, ambos de Santa Maria, para encaminhamento dos pacientes em situação de urgência.