santa maria

7 meses depois do surto de toxoplasmose, já é seguro beber água da torneira?

Dandara Flores Aranguiz

Foto: Renan Mattos (Diário)
Para beber, a cuidadora Lisiane Pompeu recorre à agua do poço do vizinho Ernani

Mais de um mês depois das autoridades em saúde de Santa Maria anunciarem que o surto de toxoplasmose na cidade estava estabilizado - e sete meses após o anúncio do surto -, muitos santa-marienses ainda têm dúvidas em relação à prevenção. Uma delas diz respeito à qualidade da água que abastece as residências dos santa-marienses. "Já é seguro tomarmos a água da torneira?", perguntou uma das leitoras do Diário em nossas redes sociais.

Programa Mais Médicos tem 97,2% das vagas preenchidas

Para a prefeitura, a orientação de ferver a água por pelo menos um minuto antes de consumi-la ainda é válida. Embora a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) acredite que a fonte de contaminação que originou o surto não tenha vindo da água, ela recomenda que a população siga com as medidas de prevenção, como fazer a limpeza das caixas d'água particulares.

- Pode tomar a água da torneira desde que, e isso é bem importante, a pessoa tenha a garantia de que a água que chega à casa dela seja a mesma que sai na bica. Por isso, recomendamos que as pessoas tenham seus cuidados com as limpezas dos seus reservatórios individuais - salienta Eduardo Carvalho, diretor de operações da Corsan.

O superintendente de Vigilância em Saúde do município, Alexandre Streb, alerta para que a população ainda mantenha os cuidados até então recomendados.

- Até segunda ordem, as medidas continuam valendo. Mas a gente acredita que, tendo em mãos os laudos das últimas análises das águas das barragens e de recirculação, e eles apontando como negativo para a presença do protozoário, nos dá subsídios para fazer uma nova orientação para a população. Antes disso, ainda é muito temeroso fazer uma liberação. Mas a população pode ficar tranquila, que Santa Maria nunca mais será a mesma em termos de prevenção - diz Streb.

Ministério inicia campanha nacional para estimular doação de sangue

A secretária de Saúde do município, Liliane Mello Duarte, diz que uma mudança de políticas públicas em nível nacional se faz necessária:

- Melhoramos nossos processos de controle como um todo, mas a toxoplasmose é uma doença que precisa ser olhada com cuidado. Já encaminhamos algumas demandas no Senado junto ao Ministério Público Federal. Precisamos cuidar mais da nossa saúde com um processo de acompanhamento contínuo.

ANÁLISES
De acordo com Eduardo Carvalho, desde o início do surto de toxoplasmose até o momento, já foram feitas mais de 120 análises de amostras da água em Santa Maria, incluindo as coletas feitas durante a limpeza dos 29 reservatórios da Corsan. Ao todo, foram realizadas quatro coletas no sistema de abastecimento de água da cidade, cujo monitoramento foi recomendado pelo Ministério da Saúde a partir de outubro. Três amostras foram coletadas no dia 1º de outubro, duas no dia 15 de outubro, três no dia 5 de novembro e duas em 19 de novembro.

92% das vagas do Mais Médicos já foram preenchidas

Segundo Carvalho, das quatro coletas feitas, dois resultados já chegaram, há duas semanas, do Laboratório de Parasitologia, Zoonoses e Saúde Pública da Universidade Estadual de Londrina (UEL): ambos apontaram negativo para a presença do protozoário toxoplasma gondii.

- Acho absolutamente impossível que a fonte de contaminação do surto tenha vindo da água. Já estamos, inclusive, questionando as autoridades em saúde para saber o que foi feito em relação a outras fontes. Estamos tendo, inclusive, que responder a uma ação judicial que quer imputar à Corsan uma indenização por ter adquirido a doença no surto - disse Carvalho.

O documento com os laudos dos exames já foram enviados às autoridades em saúde municipais, estaduais e nacionais. A próxima coleta no sistema de abastecimento está marcada para o dia 3 de dezembro. O cronograma segue até 16 de setembro de 2019, data marcada para a última coleta no cronograma estabelecido junto ao Ministério da Saúde.

RELATÓRIO FINAL DA SITUAÇÃO DA DOENÇA SERÁ EMITIDO PELO MUNICÍPIO
A Secretaria de Saúde municipal já trabalha na confecção de um relatório final do surto de toxoplasmose para apresentar os resultados da investigação feita até agora na cidade com base no cruzamento de dados dos questionários, resultados de análises de água e alimentos, balanço dos exames laboratoriais que estavam pendentes e com informações coletadas durante a busca ativa.

- A gente continua com a ampliação das investigações de índices de potabilidade da água, com a ampliação dos pontos de coleta na cidade. Já incluímos no roteiro os shoppings, as unidades de saúde e a Região Oeste, que antes eram áreas que não era contempladas. Revisamos alguns processos, e o monitoramento está mais rigoroso - comenta Streb.

O relatório final será apresentado à população por meio de coletiva de imprensa, prevista para ocorrer nos próximos dias.

CUIDADOS SEGUEM SENDO TOMADOS PELA POPULAÇÃO
Enquanto a orientação das autoridades em saúde ainda não muda, os santa-marienses se viram para buscar alternativas à água da torneira. A dona de casa Driely Lima, 29 anos, mora no Bairro Rosário, na região central de Santa Maria. Ela ficou grávida logo no início do surto. Hoje, o bebê, que nasceu sem a doença, tem cinco meses.

- No começo, a gente comprava os galões de cinco litros, só que não estava dando vencimento, e o valor é muito caro. Eu também fervo a água para consumo, mas fica um gosto horrível, sem contar o gás, que dura bem menos. Nesse calor e com duas crianças em casa, consumimos muito mais água. Não é fácil ter de passar um dia inteiro fervendo água - conta.

Pronto-Socorro do Husm restringe atendimentos

Como a família de Driely mora em Cacequi, quando ela vai visitar os familiares, traz água para abastecer seu estoque individual.

No Bairro Tancredo Neves, na Região Oeste - onde houve mais registro de casos da doença -, a cuidadora Lisiane de Menezes Pompeu, 45 anos, vai até a casa de um vizinho para buscar água de um poço artesiano para beber.

- Eu tenho caixa d'água, mas a água que vem do poço nem se compara, é muito boa. Para fazer comida, a gente usa a água da torneira normal, mas, para beber, a gente pega aqui - relatou.

O poço em questão fica em frente à residência do casal Ernani Gohlke, 49 anos, e Marli Dantas Cunha Gohlke, 54, na Rua José Claudino Linck, e existe há quase 16 anos. Ele possui registro no município e no Estado e foi cadastrado como um poço artesiano público. Além disso, técnicos da Corsan e pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) fazem testes periodicamente na água para avaliar a qualidade do material.

- O poço não é nosso, é de todo mundo. Quem quiser pode vir e pegar água à vontade, sem problema nenhum. No início do surto, chegava a ter fila aqui de umas 200 pessoas que vinham buscar água de carro - conta Marli.

Segundo a Corsan, Santa Maria tem entre 8 mil e 10 mil poços artesianos. A recomendação para quem utiliza esse tipo de abastecimento são as mesmas para quem possui a água da concessionária: fazer a limpeza das caixas d'água regularmente (uma vez ao ano, pelo menos), lavar e preparar bem os alimentos (cozinhando bem as carnes, principalmente) e ferver a água antes de beber ou tomar água mineral ou filtrada.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Governo faz acordo para reduzir até 62% do açúcar em biscoitos e outros alimentos Anterior

Governo faz acordo para reduzir até 62% do açúcar em biscoitos e outros alimentos

Núcleo Santa Maria da Sociedade Vegetariana Brasileira é constituído Próximo

Núcleo Santa Maria da Sociedade Vegetariana Brasileira é constituído

Saúde