Dos sete assassinatos registrados em Santa Maria neste ano, três foram no bairro Nova Santa Marta, na região oeste da cidade. Isso representa 42,8% dos crimes contra a vida de 2014. O mais recente aconteceu na manhã de terça-feira, na Vila Pôr do Sol, quando Dionas Diago da Silveira Lopes, 34 anos, foi executado com quatro tiros em frente ao filho de 11 anos.
Em 2013, o município registrou 40 homicídios, sete deles no bairro. Para a Brigada Militar, em comum entre os casos deste ano está o fator desencadeador das mortes, o tráfico de drogas, e a relação com o sistema prisional - as vítimas ou estavam no regime aberto e semiaberto ou em liberdade condicional. Autoridades policiais e especialistas são unânimes em dizer que a criminalidade na região é consequência da ausência do Estado na comunidade.
A cientista social Suelen Aires Gonçalves e pesquisadora sobre violência urbana e segurança pública estuda a criminalidade na Nova Santa Marta, bairro onde mora há mais de 20 anos. Ela diz que, de 2010 para cá, a criminalidade aumentou.
- Os casos sempre estiveram relacionados ao tráfico de drogas que existe há muito tempo no bairro. O Estado não está presente em educação, policiamento, cultura. Então, o tráfico ocupa esse lugar - analisa Suelen Gonçalves.
Moradores têm medo de represálias
A especialista ainda argumenta que uma característica da comunidade é se manter calada após crimes como os que aconteceram ontem, em geral, por medo de represálias. A reportagem tentou ouvir moradores, mas eles preferiram não se identificar.
- São sempre os mesmos que cometem os crimes e por causa do tráfico de drogas.
- Aqui é assim: escreveu, não leu, a bala comeu - completa outra moradora, referindo-se à onda de assassinatos no bairro.
O delegado da Polícia Civil aposentado Luiz Tuiuti Castelo Urach conhece bem a realidade de Santa Maria. Ele foi titular da Delegacia de Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas na década de 80, foi delegado regional por mais de cinco anos a partir de 1990, atuou no Departamento de Polícia do Interior (DPI) em Porto Alegre e também como subchefe de polícia do Estado. Para ele, a violência na Nova Santa Marta também está diretamente ligada à ausência do Estado:
- O bairro (Nova Santa Marta) nasceu de uma invasão, sem infraestrutura nenhuma. Tem problema no ensino, na saúde. A criminalidade é consequência dessa falta de assistência.
Os especialistas acreditam que os assassinatos não estão relacionados com uma disputa pelo comando do tráfico de drogas, apesar de o crime ser o desencadeador dos homicídios.
Tráfico assume papel do Estado, diz BM
Para o tenente-coronel Sidenir Cardoso, comandante do 1º Regimento de Polícia Montada (1º RPMon), os homicídios não são previsíveis, ou seja, não são crimes que ações preventivas consigam inibir ou impedir. Além disso, a questão geográfica seria uma coincidência, já que são outros os fatores que interligam os casos:
- As características destes crimes é que todos têm envolvimento com o tráfico de drogas e que todos as pessoas são egressas do sistema penitenciário, o que reporta para cobranças de dívidas ou desavenças.
Conforme o comandante, geralmente, em locais que têm origem em invasões, há uma tendência de que a posse se dê de forma desordenada e de que as pessoas humildes fiquem à mercê de indivíduos que se valem da força para se estabelecerem e se posicionarem melhor para cometer crimes.
- Eles se posicionam onde a polícia tem menos acesso. Onde o Estado não alcança, a delinquência e a força tomam conta. Mas isso não é regra em Santa Maria. Não existe lugar onde a polícia não atue - disse Cardoso.
A solução, segundo especialis"