Foto: Nathália Schneider
O grave acidente ocorrido na manhã desta terça-feira (10), entre um caminhão bitrem e cinco veículos, resultou não somente na morte do condutor de um dos carros, mas também no saqueamento da carga de soja, que caiu na pista.
O acidente ocorreu por volta das 9h e a Polícia Rodoviária Federal (PRF), ao ser acionada até o local, contatou a transportadora do caminhão, que é de Curitiba, para que acionasse a seguradora da carga, que fica em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha.
De acordo com a chefe da delegacia da PRF em Santa Maria, Ana Cristina Londe, a seguradora não havia retornado às ligações e não havia informado sobre o que seria feito até às 16h, momento em que a pista foi liberada. Dessa forma, após a retirada do caminhão e da caminhonete, a área foi liberada e, aproximadamente 80 pessoas – entre homens, mulheres grávidas e crianças –, invadiram o local e saquearam a carga de soja.
Questionada sobre o que fazer em um momento desses, ela afirma que a decisão de liberar a carga ou não fica a cargo da seguradora, como também é responsabilidade da empresa analisar se o material poderá ser aproveitado ou se será perdido para fins comerciais, além de realizar a limpeza do local. Mas, segundo ela, nada foi feito: o perito da seguradora chegou ao posto da PRF somente às 18h15min de terça e teria reaparecido no posto na manhã desta quarta (11).
— Por parte da PRF, não podemos impedir o saque. Éramos menos de 10 policiais e não há emprego de força que justifique agir contra aquelas pessoas, pois não havia um posicionamento ou orientação da seguradora sobre como proceder com a carga. Se nada é feito, o material é levado.
Mesmo assim, há um procedimento padrão por parte da polícia nestes casos. As informações captadas do saque serão anexadas junto a outros documentos e enviadas nos próximos dias para a Polícia Civil de Itaara, onde ocorreu o acidente:
— O procedimento padrão neste caso é captar imagens do saque, tentar identificar placas de veículos e anexar esse material à comunicação de ocorrência policial, que vamos enviar para a polícia. Eles vão definir o que farão a partir disso.
O bitrem pesava aproximadamente 40 toneladas. Primeiramente, se pensou que somente a carga que estava no primeiro compartimento havia sido perdida, pois foi a parte do caminhão que tombou e colidiu contra os veículos, enquanto o segundo compartimento não havia sido afetado. Porém, no momento do resgate, a parte lateral desse segundo reboque rompeu e a soja também veio ao chão.
Situação da soja que caiu na pista
Toda a carga que estava no caminhão bitrem ficou espalhada na pista. De acordo com a PRF, houve derramamento de combustível no local. Existe a possibilidade da soja "ter sido contaminada" ao entrar em contato com o material, além das pedras, farelos e pelas pessoas, que pisaram na carga. Mas isso não impediu que o grupo realizasse os saques.
Porém, segundo o engenheiro agrônomo da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Nilson Mattioni, esse material fica desvalorizado justamente porque não estava mais "puro". Ele acredita que o saque foi feito para fins comerciais, ou seja, o sacos de soja devem ser vendidos no mercado informal.
— Esse produto deverá cair no mercado informal e sai do controle de qualquer fiscalização. Muitas vezes esse material, mesmo que pouco e considerado "impuro" é misturado a uma carga maior e limpa, passando batido. Dessa forma, existe uma chance disso retornar para o mercado formal posteriormente, infelizmente.
De acordo com a cotação atual, um saco de soja de 60 kg custa aproximadamente R$ 130. No mercado informal, se acredita que o valor da venda possa chegar perto dos R$ 100.
Posição da seguradora
A seguradora foi procurada pela reportagem e confirmou que retornou ao posto da PRF na manhã desta quarta, com o objetivo de reunir documentos, e que a apólice do seguro deverá ser acionada. Dessa forma, a empresa deverá ser ressarcida pelo saqueamento da soja. Mais detalhes não foram informados.