Visita da Unesco marca nova etapa para certificar o Geoparque Quarta Colônia

Leandra Cruber

Visita da Unesco marca nova etapa para certificar o Geoparque Quarta Colônia

Teve início nesta segunda-feira a visita técnica da Unesco para avaliar o Geoparque Quarta Colônia. Os avaliadores Ángel Hernandéz e Helga Chulepin participaram da cerimônia de abertura da missão de avaliação do Geoparque Quarta Colônia, evento que contou com a participação do reitor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Luciano Schuch, de prefeitos da região e representantes das entidades envolvidas no projeto. Após a solenidade, teve início a visita pelos municípios. No primeiro dia, foram visitados 10 locais e percorridos cerca de 90 quilômetros.

Em um caminhão militar de turismo, a primeira parada foi na Cascata Cara de Índio, em Ivorá. O grupo foi guiado pelo condutor turístico Leandro Sarzi, 51 anos, que participou de um curso de capacitação do Progredir. Sarzi apresentou outros patrimônios como a Igreja Matriz São José e o Museu Alberto Pasqualini. 

– Temos mais de 30 cascatas e muita biodiversidade. Aqui, respira-se ar puro. Há sete anos, conduzo pessoas até aqui, e todos saem encantados. Agora, ao fazer parte do geoparque, sabemos que essa natureza poderá ser cada vez mais conhecida – comemora Sarzi. 

Para o paleontólogo Flávio Pretto, do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica (Cappa), o local é uma amostra da riqueza geológica da região:

– Aqui, é possível ver a formação da cascata a partir de rochas vulcânicas que formam camadas. Há empilhamentos diferentes que fazem a queda ser tão bonita. Isso também explica o espaço que a Mata Atlântica conseguiu ganhar. 

Atentos e curiosos, Helga e Hernandéz admiraram o local e aproveitaram para fazer perguntas a Leandro Sarzi e ao prefeito de Ivorá, Saulo Piccinin, que acompanhou a comitiva.

O que é um geoparque?O que é a Unesco?

Após almoço no I Fratelli Moro, os avaliadores visitaram o Monte Grappa, parque natural que é referência no município. No local, pequenas produtoras mostraram os doces feitos com plantas nativas da Mata Atlântica. Os avaliadores se impressionaram com os alimentos. 

– A comida é um grande patrimônio da Quarta Colônia, isso já conseguimos perceber. E isso é muito importante, faz parte da identidade – disse Hernandéz. 

Além da migração italiana, a Quarta Colônia também possui 16 quilombos que guardam as memórias da história do povo negro. A Associação Quilombola Acácio Flores, de Dona Francisca, fez parte do roteiro. 

Para o presidente da comunidade, Luiz Conceição, 71 anos, fazer parte do Geoparque Quarta Colônia é uma oportunidade de visibilidade.

– Muito se fala de migração italiana e alemã, e sabemos que isso é muito importante. Mas as comunidades afros também existem há muitos anos. Então, essa visita é fundamental para que o nosso trabalho seja reconhecido.

Na noite de ontem, a comitiva e os avaliadores visitariam o Geossítio Mirante Cerro Comprido, Ermida São Pio e o Sítio Patrimonial Novo Treviso. 

Em um caminhão militar de turismo, a primeira parada foi na Cascata Cara de Índio, em Ivorá. Foto: Nathália Schneider (Diário)O grupo foi guiado pelo condutor turístico Leandro Sarzi, 51 anos, que participou de um curso de capacitação do Progredir. Foto: Nathália Schneider (Diário)O grupo foi guiado pelo condutor turístico Leandro Sarzi, 51 anos, que participou de um curso de capacitação do Progredir. Foto: Nathália Schneider (Diário)Cascata Cara de Índio, em Ivorá. Foto: Nathália Schneider (Diário)Cascata Cara de Índio, em Ivorá. Foto: Nathália Schneider (Diário)Foto: Nathália SchneiderFoto: Nathália SchneiderFoto: Nathália Schneider

PROGRAMAÇÃO

Terça-feira – Serão percorridos 155 quilômetros entre Faxinal do Soturno (Geossítio da Linha São Luiz), São João do Polêsine (Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da UFSM, Vale Vêneto e Restaurante da Romilda), Restinga Sêca (Recanto Maestro, Termas Romanas e Estação Férrea) e Agudo (Mirante do Cerro da Figueira, Casa da Charlote e praça dos dinossauros)Quarta-feira – Serão percorridos 203 quilômetros entre Pinhal Grande (visita embarcada ao geossítio localizado dentro da área de alague da barragem de Itaúba e almoço em Centro de Tradições Gaúchas), Nova Palma (Mirante da barragem de Dona Francisca, Balneário Municipal Atílio Aléssio, Centro Cultural, Museu e Centro de Pesquisas Genealógicas), São João do Polêsine (Escritório do Geoparque e Casa Museu I João LuizPozzobon) e último pernoite em Restinga Sêca

Região Central é destaque em geodiversidade

A “Pedra do Segredo” é uma montanha rochosa famosa por suas cavidades e grutas. Foto: Eduardo Ramos (Diário)

Além da Quarta Colônia, que recebe os avaliadores da Unesco até quinta-feira, outras duas regiões também estão em diferentes processos de formação. Em Caçapava do Sul, o Geoparque está atuante desde 2019. Cada vez mais, a cidade investe em turismo, artesanato e na rica valorização histórica. O município também deve receber os avaliadores da Unesco para conquista o selo internacional. A visita na cidade está marcada para novembro.

Raízes de pedra

Um projeto do Instituto Federal Farroupilha (IFFar) também trabalha para criar um geoparque envolvendo os municípios de São Pedro do Sul, Mata, Nova Esperança do Sul, Jaguari, São Francisco de Assis e São Vicente do Sul. O dossiê do Geoparque Raízes de Pedra será entregue à Unesco em 2024. O nome do geoparque faz referência às árvores petrificadas que predominam nessa região.

Locais que serão visitados

Quarta Colônia

Formado por nove municípios: Agudo, Dona Francisca, Faxinal do Soturno, Ivorá, Nova Palma, Pinhal Grande, Restinga Seca, São João do Polêsine e Silveira MartinsA beleza natural das paisagens, a abundância de água dos rios e cascatas, a raridade dos fósseis encontrados que testemunham as mudanças ambientais do planeta nos últimos 250 milhões de anos e a diversidade cultural que resulta dos povos nativos e estrangeiros, formam um conjunto de características singulares deste territórioSegundo a coordenação do geoparque, são quase 15 anos de trabalho junto aos municípios. Foram realizados cerca de 90 projetos de Extensão da UFSM para moradores da Quarta Colônia com o objetivo de incentivar o sentimento de pertencimento e a geração de renda

Caçapava do Sul

A cidade já respira o Geoparque desde 2019, quando o projeto começou a ser estruturado. O município investe em turismo, artesanato e na valorização da história, cultura e memória, os principais carros-chefes do projeto caçapavano. As riquezas geológicas, já que a cidade é conhecida como a Capital Gaúcha da Geodiversidade, é a principal apostaNa cidade, tem rochas de 600 milhões de anos. A bacia do Camaquã tem um interesse mundial não só à ciência e à educação, mas também pelas paisagensUm dos pontos turísticos mais conhecidos é a “Pedra do Segredo” (na foto), que é uma montanha rochosa famosa por suas cavidades e grutasCaçapava possui mais de 30 geossítios catalogados. A cidade, especialmente a região das Guaritas, apresenta sucessões de rochas sedimentares marinhas e continentais. Há, ainda, espécies vegetais raras e endêmicas do bioma pampa, além de comunidades humanas tradicionais, como indígenas, quilombolas e pecuaristas familiares. A região também apresenta a maior biodiversidade de cactos da América Latina. Dos 62 tipos catalogados, 29 são encontrados em Caçapava do Sul

GEOPARQUE

Geoparque é um território reconhecido pela Unesco em que a “memória da Terra” é preservada e utilizada de forma sustentável para incentivar melhorias à comunidade. O desenvolvimento pode se dar de diversas formas, desde que conserve e valorize o patrimônio geológico-geomorfológico, como rochas, minerais, água, solos, relevos, paisagens e fósseis, em associação à cultura da regiãoOs sítios desta rede apresentam diversidade geológica que sustenta a diversidade biológica e cultural de diferentes regiões. Os geoparques atendem as comunidades locais, combinando a conservação com o alcance público e o desenvolvimento sustentávelAtualmente, são 177 geoparques mundiais da Unesco em 46 paísesNo Brasil, são três geoparques com certificação:  Caminhos dos Cânions do Sul, situado entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul; e o parque Seridó, localizado no Rio Grande do Norte;  geoparque de Araripe, localizado na Bacia do Araripe, que se estende pelo sul do Ceará, noroeste de Pernambuco e leste do Piauí

Voltar ao topo

A UNESCO

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) é uma agência especializada das Nações Unidas (ONU) com sede em Paris, com o objetivo de garantir a paz por meio da cooperação intelectual entre as nações, acompanhando o desenvolvimento mundial e auxiliando os Estados-Membros – hoje são 193 países – na busca de soluções para os problemas que desafiam sociedadesAtua nas áreas de Ciências Naturais, Ciências Humanas e Sociais, Cultura, Educação e Comunicação e Informação. Para isso, desenvolve projetos de cooperação técnica em parceria com governos – União, Estados e municípios –, sociedade civil e iniciativa privada

Voltar ao topo

Os avaliadores

Ángel Hernandéz – Geógrafo e historiador, secretário do Fórum Espanhol de Geoparques, diretor do Parque Cultural do Maestrazgo e do Geoparque do Maestrazgo (Espanha)Helga Chulepin – Geóloga, especialista em Engenharia de Minas, coordenadora técnica das Grutas del Palacio Unesco Global Geopark (Uruguai) entre 2012-2015, membro individual da Rede Global de Geoparques

Voltar ao topo

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

O que pode mudar na Quarta Colônia com a certificação de geoparque pela Unesco Anterior

O que pode mudar na Quarta Colônia com a certificação de geoparque pela Unesco

Avaliadores da Unesco visitarão Geoparque da Quarta Colônia em outubro Próximo

Avaliadores da Unesco visitarão Geoparque da Quarta Colônia em outubro

Geral