data-filename="retriever" style="width: 100%;">Fotos: Pedro Piegas (Diário)
As medidas sanitárias para conter a pandemia foram flexibilizadas, as máscaras deixaram de ser obrigatórias, escolas, bares e restaurantes voltaram a ser ocupados, mas a população segue sem poder visitar livremente o Cemitério Ecumênico Municipal, fechado desde 21 de março de 2020. A dona de casa Daiane Polini, 29 anos, perdeu a mãe há sete meses e, desde então, vai à Secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicos (localizada na Avenida Medianeira) fazer o agendamento da visita ao túmulo para, somente depois, ir ao Ecumênico, na Avenida Dois de Novembro.
- É um absurdo. Até para limpar preciso de autorização. Não tem lógica. Tem segurança lá. Não entendo por que manter fechado. Que estipulem um horário para abertura e fechamento, então - reclama.
A segurança que Daiane se refere diz respeito às câmeras que foram instaladas no local para coibir furtos e vandalismo. Desde agosto do ano passado, os equipamentos fazem o monitoramento 24 horas. As 50 câmeras são acompanhadas do Centro Integrado de Operação de Segurança Pública (Ciosp). De acordo com o superintendente do Ciosp, Sandro Nunes, nenhuma ocorrência foi registrada no local de dezembro até agora, quando as ocorrências começaram a ser registradas online.
Por meio de nota, a prefeitura afirma que, no começo da pandemia, o acesso limitado se deu em função das medidas para conter o avanço do novo coronavírus. Após, a entrada passou a ser feita mediante agendamento, "de forma mais organizada, a exemplo de como é feito em cemitérios públicos nas cidades maiores, que é por meio de identificação, o que tem ocorrido até o momento". Nossa equipe entrou em contato com os cemitérios públicos de Porto Alegre (Tristeza, São João e Belém Velho) e de Caxias do Sul (Cemitério Público Municipal e Municipal II) e todos funcionam de segunda a segunda das 8h às 17h sem necessidade de agendamento. Ainda de acordo com o Executivo, a partir dessa organização, houve diminuição dos casos de furto. A prefeitura também garante que a identificação prévia para ingresso no Ecumênico não tem relação com o afrouxamento atual das medidas sanitárias.
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Embora as câmeras ajudem na segurança, e um dos motivos para o cemitério se manter fechado sejam os repetidos casos de furtos, desde 27 de fevereiro, após um temporal que atingiu a cidade, um tapume que protege os fundos do local está no chão (foto acima) e é possível entrar no cemitério sem muito esforço. Ou seja, o acesso só não é permitido pelos portões principais. Em 15 de março, ao ser questionada sobre o conserto da estrutura, a prefeitura, por meio da Secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicos, informou que "há um planejamento para recolocar a estrutura no local. Por necessitar atender a outras demandas mais urgentes, que também surgiram devido ao último temporal, o serviço será realizado assim que possível"
A situação indigna o arquiteto Nabor Silva Ribeiro, 67 anos, que tem parentes enterrados no cemitério há mais de 80 anos. Desde que o acesso foi limitado, Ribeiro foi apenas uma vez no local. Outras duas vezes, ele foi até a frente do cemitério, pediu para entrar, mas não teve a permissão e voltou para casa.
- É uma falta de respeito. Não vejo o porquê. Se é por motivo de segurança, então não devemos mais sair nas ruas. O poder público está se encolhendo diante de uma dificuldade que precisa ser enfrentada - afirma.
PLANOS
A ideia da prefeitura é controlar a entrada de visitantes diretamente no Cemitério Ecumênico, e não mais na sede da secretaria. Em entrevista à CDN em 14 de fevereiro, o secretário de Infraestrutura e Serviços Públicos, Wagner da Rosa, anunciou que o acesso seria liberado no próprio local ainda em fevereiro, o que não se confirmou. O novo prazo dado pelo Executivo é maio deste ano. O que falta para a instalação, conforme a assessoria de comunicação da prefeitura, são trâmites internos, como a organização do espaço para ser feito esse acesso, com recepção e computadores com internet, e o treinamento de servidores para o trabalho.
TENTATIVAS
O Diário entrou em contato com a assessoria de comunicação da prefeitura para ter acesso ao interior do cemitério em 7 de abril, mas não obteve resposta sobre o assunto. Além disso, foram tentadas inúmeras vezes contato por telefone e WhatsApp com o secretário de Infraestrutura, Wagner da Rosa, sem retorno. A equipe do Diário foi na sede da secretaria, mas o secretário não foi encontrado e, diante disso, foi informado que a reportagem não teria autorização para entrar no Ecumênico. O acesso da reportagem, destacaram os servidores, só se daria mediante permissão de Rosa ou da Secretaria de Comunicação. Mesmo assim, na quarta-feira, a reportagem tentou acesso ao cemitério diretamente, mas não foi autorizada a entrada.
HISTÓRICO DO FECHAMENTO
O Cemitério Ecumênico Municipal foi fechado em 21 de março 2020 para evitar aglomerações em função da pandemia. No mesmo ano, em outubro, às vésperas do Dia de Finados, o Executivo decidiu liberar a entrada de familiares que gostariam de prestar homenagens. Em novembro, quando o público, depois de mais de oito meses, finalmente pôde entrar, encontrou o cemitério depredado. Foram registradas mais de 500 denúncias de furtos e vandalismo no local. O caso revoltou a população. Naquele mesmo mês, a prefeitura optou por abrir o local para visitas, mas apenas sob agendamento. Em 2021, o cemitério voltou a ser reaberto para o Dia das Mães, em maio, e para o Dia de Finados, em novembro. Desde então, quem quer ir visitar um parente ou amigo precisa ir na sede da Secretaria de Infraestrutura para marcar uma hora. Em julho de 2021, começaram a ser instaladas câmeras de segurança no espaço. Em agosto, as câmeras começaram a funcionar.