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VÍDEO: há um mês em Manaus, fisioterapeuta conta a rotina na batalha contra o coronavírus

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data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Arquivo pessoal/Manoela num dia normal de trabalho: equipamentos de proteção recobrem o corpo, no atendimento a pacientes infectados

Há um mês o Diário mostrou os preparativos da primeira profissional gaúcha selecionado para integrar o programa federal "O Brasil Conta Comigo", que leva médicos, enfermeiros e outros profissionais da saúde para áreas afetadas pela pandemia do novo coronavírus. A fisioterapeuta Manoela Rios, 25 anos, que fez graduação e especialização nas universidades de Santa Maria, onde mora com a família há mais de 12 anos, foi selecionada para atuar no Amazonas. Agora, depois de um mês de trabalho no Hospital de Retaguarda Nilton Linz, uma instituição de campanha, ela fala da experiência em dos estados mais afetados pela doença.


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Em Manaus, já são 21 mil casos confirmados, de acordo com o boletim epidemiológico da prefeitura municipal, divulgado na última segunda-feira. No 88º dia da pandemia naquela cidade, foram contabilizados 1.475 óbitos pela Covid-19. Para comparação, na capital do Amazonas, a cada mil habitantes, 9,6 estão oficialmente contaminados com a doença. Em Santa Maria, a média é de um infectado a cada mil habitantes. A situação se agrava quando considera-se que os únicos leitos de UTI em todo o Amazonas - estado onde vivem pouco mais de 4 milhões de pessoas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - estão localizados na capital, Manaus. 

Manoela faz parte da primeira leva de profissionais de todo o Brasil, convocados para participar do programa federal. Ela e os colegas participaram de uma semana de treinamentos, logo depois de chegar a Manaus, em 3 de maio.  A forma segura de colocar e tirar equipamentos de proteção individual, por exemplo, foi um dos temas abordado na capacitação. Depois, eles foram enviados para diferentes hospitais da cidade. Conforme a secretária de saúde de Manaus, 101 deles foram absorvidos pelo sistema de saúde municipal. Os demais, se distribuíram em instituições estaduais e federais, como é o caso da gaúcha. 

- O Hospital Nilton Linz está em um antigo prédio da Unimed que foi alugada pelo governador do estado. Lá, trabalhamos em conjunto com profissionais de saúde do Corpo de Bombeiros. Como a carga horária da fisioterapia é 30 horas semanais, dividimos nossa escala em plantões de 12/60. Isso significa que a cada duas semanas eu realizado cinco plantões de 12 horas, com intervalo apenas do almoço, porque há dias que são tão corridos que acabamos nem tendo tempo de ter um descanso.

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Diferente de uma Unidade Básica de Saúde, o Hospital onde Manoela trabalha não presta o primeiro atendimento aos pacientes. Todos que entram ali já passaram por algum tipo de triagem, e foram encaminhados para o local por outros profissionais ou instituições de saúde. 

- Temos UTI e leitos clínicos, bem como a sala vermelha, que é a nossa sala de urgência. Atendemos apenas casos de Covid. Foi aberta também uma ala apenas para a população indígena - explica.

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A ala indígena é a primeira exclusiva para essa população em todo o país, segundo o Ministério da Saúde. São 15 leitos de terapia intensiva e mais de 50 clínicos. Conforme o IBGE, o Amazonas é o estado com maior concentração indígena em todo país: pouco mais de 183 mil índios de diferentes etnias vivem naquele território. No Rio Grande do Sul, o Censo de 2010 mostrou a presença de 34 mil indígenas. 

FISIOTERAPIA NO TRATAMENTO DA COVID-19
Infectologistas e epidemiologistas são os profissionais geralmente associados ao tratamento do coronavírus. Contudo, uma série de outros profissionais é fundamental no cuidado dos pacientes. Manoela conta que, enquanto fisioterapeuta, ela acompanha de perto os casos mais graves, aqueles que precisam de UTI. 

- Nós cuidamos do paciente desde o momento da entubação, quando temos que colocá-lo para respirar com a ajuda do ventilador, até quando conseguimos reverter o caso, pois somos nós que retiramos o tubo do paciente também - explica, Manoela.

No caso da Covid-19, os fisioterapeutas atuam sobre tudo na melhora das funções respiratórias. Além de fazer a colocação da ventilação mecânica nos pacientes que têm dificuldade crônica para respirar, ela também precisa monitorar os filtros que vão no equipamento e verificar qual a melhor forma de posicionar os pacientes. 

- No coronavírus, acabamos por colocar muito desses pacientes em posição prona, ou seja, de barriga para baixo, a fim de expandir os pulmões e melhorar a ventilação. Então o papel do fisioterapeuta acaba por ter bastante reconhecimento nesse momento - conclui.

Manoela é formada pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), campus de Santa Maria, e especialista em Atenção Clínica com Ênfase em Infectologia e Neurologia, pela Universidade Franciscana (UFN). 

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"VIDA NORMAL"

style="width: 50%; float: right;" data-filename="retriever">Uma das coisas que mais surpreendeu Manoela ao chegar em Manaus, no começo de maio, foi a impressão de que a vida seguia normal na cidade, apesar do caos no sistema de saúde e funerário. Um mês depois, o sentimento persiste. No último sábado, da janela do hotel onde vive, ela flagrou um grupo de moradores locais reunidos para jogar futebol e comemorar (foto ao lado).

- Nós, que viemos de fora, estamos mantendo nossa rotina somente dentro do hotel, saímos apenas para fazer exercícios no estacionamento ou ir a mercado e farmácia comprar coisas essenciais. Porém, vejo que as pessoas aqui da capital não estão respeitando muito essa condição. Diariamente, no nosso trânsito do hotel pra o hospital, vemos muitos moradores na rua, ainda mais agora que o comércio está reabrindo - conta.

E faz um apelo para a população de Santa Maria:

- A covid-19 é uma doença muito séria, não é uma brincadeira. A gente tem que se cuidar para que a nossa cidade não fique como Manaus, com tantos casos e tanto óbitos - conclui a fisioterapeuta.

*Colaborou Chaiane Appelt

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