A regra é quase cem por cento: crianças entram na escola, no início das séries iniciais, como em busca de um gigantesco parque de diversões. A Lei da Novidade, a expectativa gerada por pais e parentes, quando não por amiguinhos da mesma faixa etária, desperta-lhes a curiosidade, a imaginação e os rituais logo de saída são vistos como exclusivamente lúdicos, facilmente aceitos. Todos temos algo a relatar, inclusive de nossas primeiras experiências escolares, da importância atribuída aos primeiros dias de aula. Uniforme, material, lanche, cadernos, o sabor e a promessa de um mundo inteiramente novo são excitantes para quem até então, vivia em redor do círculo familiar.
Pena que o tempo e as práticas não segurem o encantamento. Assim não fosse, o sinal de saída ou intervalo revelaria um pouco mais de civilização. O resultado, conhecemos: mais alguns anos de escolaridade e todos correm feito manada para os corredores ou em direção aos portões de saída, em busca de ar, oxigênio, como se sufocados fossem até o término do desempenho de cada professor. Alguém quedou à tal constatação? Discutiu? Gesticulou e bateu no próprio peito?
Não é preciso recorrer a números e estatísticas, o fenômeno existe há décadas e medidas de contenção, como auxílio financeiro para a permanência do jovem na escola não resolverão o problema, acentuado após a pandemia. Tão logo fujam do controle dos pais, especialmente no ensino médio e curso noturno, muitos “desparecem” ser dar aviso. É normal o ingresso com três , quatro turmas lotadas e acabar o ano ou o ciclo com apenas uma. “Não vem mais”, é o recado na aferição das chamadas. Deleta-se o nome e pronto. Buscadas as causas, estas vão desde a necessidade de trabalhar até o simples desinteresse, este jamais confessado, mas entendido por quem entende.
A falta de adesão aos conteúdos e às normas são quase sempre atribuídos à preguiça, ao desestímulo e desequilíbrio familiares, a fatores externos, nunca ao sistema, secular, impositivo, muitas vezes ineficiente e caro. Mudam-se os nomes, as leis, trocam-se denominações, fazem-se arranjos curriculares ao gosto de quem está na patronagem estatal, mas a realidade de que se ensina, na maior parte do tempo, aquilo que não interessa e não atrai.
O brevê para a ascensão social é um diploma. Em torno do papel e do nome em arabescos, gira o interesse do estudante. Sabe-se, e convém não ser hipócrita, que a maior parte dos conteúdos que fazem parte do currículo são rapidamente esquecidos e muitos se apresentam totalmente divorciados da realidade vivida. Em resumo: passa-se “aprendendo” por obrigação, pela listagem do que é exigido mais adiante, e todos sabemos de quanto conhecimento inútil tivemos de acúmulo. O mais impactante é constatar que um número expressivo conclui o processo sem dominar o fundamental em português e matemática.
A constatação não é novidade. Teóricos da educação e a própria Escola têm refletido sobre a questão. Todavia, a despeito de mudanças, arranjos, programas e debates, o fato é que os alunos continuam indo embora. Tenta-se mantê-los com iscas pedagógicas, artifícios, e agora se paga para que estudem.
Solução? Difícil de ser achada. Por ora, é conveniente pensar que é melhor uma escola falha do que nenhuma.
Leia todos os Colunistas