data-filename="retriever" style="width: 100%;">
Foto: Anselmo Cunha (Especial)
Na geladeira, havia massa, arroz, feijão e duas maçãs, meia jarra de suco de laranja e uma garrafa de água. Moradora do Bairro Carolina, a vendedora e diarista Franciele Silveira, 34 anos, sabe que, o que é considerado ideal para uma alimentação saudável, está longe do possível para ela e para a família. Mãe de três filhos - um jovem de 18, e duas crianças de 12 e 3 anos -, ela ainda não sabe como vai ser o primeiro mês sem o benefício que vinha recebendo do governo desde abril de 2020, quando viu as vendas de roupas caírem e as faxinas serem suspensas em função da pandemia.
- Sempre tinha carne, leite e iogurte para as crianças, e é isso que mais me dói: não poder continuar dando isso para eles - lamenta a diarista.
O alto preço de um futuro sem benefício
Com os boletos batendo à porta e a comida já escassa, uma semana após a última parcela do auxílio emergencial cair na conta de Franciele, ela já reservou uma manhã para entrar na fila do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) para garantir mais R$ 100 no orçamento do mês, viabilizado pela prefeitura. Também deu uma passadinha no centro espírita do bairro, pois o local oferece reforço em cestas básicas para a comunidade.
data-filename="retriever" style="width: 100%;">
Foto: Anselmo Cunha (Especial)
LIMITAÇÕES
Enquanto ela aquecia uma panela de água no fogão, também empilhava panelas vazias e se queixava dos preços altos do óleo de soja, que subiu 103% em 2020, do gás, que teve alta de 25,7% no mesmo ano, e principalmente das altas taxas de água e luz.
Os dois filhos mais novos, Pedro Henrique e Bianca, estavam no quarto mexendo no celular.
Pedro passou para o 6º ano do Ensino Fundamental na Escola Municipal Euclides da Cunha, mas não vinha conseguindo acompanhar as atividades remotas, pois falta um chip com internet para isso. O menino sonha em ser artista plástico e mostra os traços feitos por ele.
A irmãzinha se divertia com a criação de codornas no pátio - outra alternativa da família para ter uma fonte de alimentação.
- De vez em quando, eu faço conserva de ovos de codorna. As crianças adoram - conta a mãe, que aproveita para mostrar a pequena horta vertical com tempero verde e rúcula.
Franciele tenta manter o otimismo, mas preocupa-se com o que pode vir pela frente.
- Graças a Deus nós não passamos fome. Sei que tem gente em situação pior, que precisa catar comida para sobreviver. Mas eu fico pensando que com o auxílio já era difícil comprar tudo, então, como vai ser daqui para a frente sem uma renda mensal, sem trabalho e com os preços no mercado cada vez mais altos? - questiona a mãe.
ELEVAÇÃO DE ITENS BÁSICOS PREOCUPA FORNECEDORES E CONSUMIDORES
Aumento em 2020*
- Arroz 76%
- Feijão 62%
- Carnes 17,97%
- Tomate 52,76%
- Batata inglesa 67,27%
- Leite longa vida 26,93%
*dados do economista Daniel Coronel
Aumento de 2021*
- Arroz 53%
- Feijão 60%
- Carnes 38%
- Tomate 43%
- Batata inglesa 55%
- Leite longa vida 20%
*Levantamento do empresário Ibanês Bertagnolli
LEIA MAIS
O alto preço de um futuro sem benefício
Depois de desempregada, Angelica passou a vender quentinhas
Políticas públicas para atenuar a crise econômica