Fotos: Vinícius Becker (Diário)
O fim do evento foi no Santuário Tabor
Dizem que santo de casa não faz milagre, mas no caso de João Luiz Pozzobon, a regra não se aplica. O venerável, com muita fé e amor pela Mãe Peregrina, conseguiu reunir em Santa Maria mais de mil pessoas no Encontro Internacional da Campanha da Mãe Peregrina, incluindo delegações de 26 países, para celebrar os 75 anos da ação que ele iniciou aqui, no coração do Rio Grande.
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A abertura ocorreu na noite de quarta-feira (10) no ginásio do Clube Recreativo Dores, que aos poucos foi se enchendo de cor e fé com a chegada dos peregrinos vindos de diferentes partes do mundo. Grupos da Índia, Filipinas, Alemanha, Estados Unidos, México, Burindi e Itália, carregando em grande parte a imagem da Mãe Peregrina nas mãos. Cada representante desfilou com a bandeira de seu país, momento de muita celebração nas cadeiras e arquibancada. Já à noite, o público se emocionou com uma peça de teatro narrando a trajetória de João. A cerimônia terminou em procissão emocionante, e o ato final foi na Capela do Centro Mariano com queima de fogos, orações, e alegria de quem esperava caminhar pela terra onde João começou.

Acolhimento e calor de pessoas de tantos lugares
A programação começou às 18h30min, no Centro Mariano, em frente ao Santuário Tabor, Avenida Dores. Sob um grande toldo, mesas separadas por país acomodavam os peregrinos. Entre as mesas o espaço era apertado, mas isso não diminuiu o entusiasmo. Foram servidos sanduíches, caldos quentes e, para acompanhar, Guaraná Cyrilla, produção santa-mariense — até porque não poderia ser diferente. Em cada mesa, um enfeite de uma imagem de Pozzobon ao lado de um burro, em referência ao apelido 'Burrinho de Maria', dado pelo esforço com que caminhava levando a imagem. Embora tenha surgido de forma maldosa, ele não recusou o apelido o apelido, porque acreditava que qualquer sacrifício valia a pena se fosse pela Mãe.
Ginásio lotado, bandeiras, mães peregrinas e emoção
Por volta das 19h30min, quase todos já haviam jantado e se dirigiram ao ginásio do Clube Dores. Aos poucos, o espaço encheu.
Depois do Brasil, os países com maior número de participantes foram Argentina e Paraguai. As 700 vagas do evento foram inicialmente distribuídas de forma igualitária entre todos os países, mas aquelas que não puderam ser preenchidas foram devolvidas e redistribuídas para outros participantes.

Os fiéis estavam uniformizados: alguns em trajes típicos de seus países, outros com bandeiras enroladas no corpo. A maioria carregava a Mãe Peregrina, algumas usavam até capas personalizadas para não molhar ou sujar. Eram visíveis o cuidado e o respeito.

Entre os peregrinos que viajaram longas distâncias para participar do encontro internacional estava o diácono Fernando Ignacio Gonzalez Baquerizo, do Equador. Ele conheceu João Luiz Pozzobon por meio de livros e do contato com missionários da sua região, e fez questão de vir acompanhar de perto o legado do diácono em Santa Maria. A viagem, que começou na noite do dia 7 de setembro e passou por Lima antes de chegar ao Brasil, exigiu muitas horas de deslocamento. Mas, segundo ele, nem o cansaço diminuiu a alegria de estar ali:
— Estar aqui me encheu de muita alegria porque conheci o lugar onde ele nasceu, onde cresceu, onde foi educado e, principalmente, li um livro sobre a vida dele e fui conferindo tudo, e estamos entendendo perfeitamente que ele é um homem santo e um homem que nos inspira - diz.

Depois das entradas das bandeiras dos países e das falas iniciais, veio a entrada da imagem Peregrina. Quem entrou segurando a imagem foram Humberto Pozzobon, filho do diácono, e o neto João Luiz Pozzobon, que nasceu no mesmo dia que ele.
— É uma honra carregar o nome dele. E é uma grande emoção também ver que ele move pessoas do mundo inteiro. Temos aqui pessoas África do Sul, da Croácia. Ele era uma pessoa muito humilde, não fazia as coisas para se glorificar, mas eu acho que também ele estaria muito feliz com o que a Mãe faz na vida das pessoas - diz o neto.

Já Humberto refletiu sobre a emoção de ver o legado do pai celebrado por tantas pessoas de diferentes partes do mundo:
— A gente se sente tão feliz, emocionado com toda essa homenagem para o meu pai, que foi também uma pessoa tão, tão, tão maravilhosa, tão devota. Ele fez tanta coisa pelas pessoas... Ajudava pobre, ajudava a todos. Ele teve aquela inspiração com a Nossa Senhora e ele teve aquele dom especial de fazer essas coisas. Então, ele foi um homem que foi agraciado pela mãe Rainha, que foi ajudado. Ele tinha um amor especial por essa campanha, por isso esse evento está sendo tão especial - diz.

Depois, história de Pozzobon foi dramatizada por um grupo que cantou, dançou e reviveu sua trajetória desde a entrada no Movimento de Schoenstatt em 1947, a ordenação como diácono e a missão de levar a Mãe Peregrina por tantas famílias.

Na plateia, o encantamento era visível. Alguns faziam live, gravação para redes sociais, videochamadas com quem não pôde vir. Parecia inacreditável tanta devoção ali reunida, celebrando quem muito caminhou pelas ruas de Santa Maria e região. No fim do ato, auditório escureceu e apenas as lanternas dos celulares ficaram em destaque.


Por fim, a emoção ficou ainda maior durante a procissão do Clube até o Santuário Tabor.


O coral dos peregrinos acompanhou o carro de som até o santuário, onde fogos foram lançados ao céu, por volta das 22h10min. A noite foi finalizada com orações, fé, alegria e um profundo desejo de continuar caminhando.

Programação segue até domingo

A abertura foi apenas o início da programação, que vai até domingo. Na quinta-feira (11), pela manhã, foi feita acolhida e oração inicial, momento formativo “Olhar da história para o futuro – Missionários da Esperança”, testemunhos à tarde e à noite, reza do terço e bênção. Na manhã desta sexta (12), novamente Santa Missa, momento formativo com tema sobre Pozzobon como exemplo missionário, oficinas no entorno do Santuário Tabor e, à noite, jantar no Centro de Tradições Gaúchas.
Veja, abaixo, a programação para este sábado (12) e domingo (13), que tem programação aberta ao público
Sábado
- Café da manhã nos hotéis
- Pela manhã:
- Atividades em diferentes idiomas: Colônia italiana, Casa Museu João Pozzobon, Santuário Tabor
- 11h – Santa Missa (São João do Polêsine/RS e Faxinal do Soturno/RS)
- Almoço italiano – Paróquias da Quarta Colônia
- Pela tarde: Continuidade da programação da manhã
- 18h30 – Jantar (Centro Mariano)
- 20h – Momento de louvor mariano (Santuário Tabor ou ginásio da escola Coração de Maria)
Domingo
*Programação das 8h ao 12h aberta ao público
- 8h – Romaria da Primavera
- Procissão do Santuário Tabor ao Santuário Basílica Nossa Senhora Medianeira
- 10h – Santa Missa no Santuário de Nossa Senhora Medianeira e renovação da coroação das imagens peregrinas
- Almoço de encerramento
- 14h30 – Reza do terço e bênção (Santuário Tabor)
Raio-x dos países participantes
São 26 países no total, com representantes de todos os continentes habitados presentes.Cerca de 20 dos 26 vêm da América Latina. Os restantes são de países não latinos: Ásia, Europa, América do Norte.
- Alemanha
- Argentina
- Bolívia
- Burundi
- Cabo Verde
- Chile
- Colômbia
- Croácia
- Equador
- Espanha
- Estados Unidos
- Filipinas
- Guatemala
- Índia
- Itália
- Luxemburgo
- México
- Paraguai
- Peru
- Polônia
- Portugal
- Porto Rico
- República Dominicana
- Eslováquia
- Uruguai

A Campanha da Mãe Peregrina: suas raízes e como ela se fez presente no mundo
A Campanha da Mãe Peregrina começou em 10 de setembro de 1950, quando João Luiz Pozzobon recebeu a Imagem Peregrina de Schoenstatt das mãos da Irmã Terezinha Gobbo, com a missão de visitar famílias com ela. Ao longo dos 35 anos seguintes, ele percorreu a pé cerca de 140 mil quilômetros, levando a imagem de casa em casa, predicando, visitando escolas, hospitais, presídios. Com o tempo, a Campanha saiu dos limites de Santa Maria, do Brasil, e hoje está presente em quase cem países.

Conheça o Venerável Diácono João Luiz Pozzobon
Quem foi ele?
- Nasceu em 12 de dezembro de 1904, em Ribeirão, localidade de São João do Polêsine. De origem pobre, largou os estudos para ajudar o pai na lavoura;
- Em 7 de setembro de 1947, Pozzobon participou do lançamento da pedra fundamental do santuário de Schoenstatt, onde teve início o seu contato com a Mãe Peregrina. Três anos depois, em 10 de setembro, começou a Campanha da Mãe Peregrina;
- Ordenado diácono pelo bispo dom Érico Ferrari, em 1972. Passou a fazer casamentos, batizados e enterros. Não podia rezar missas e absolver pecados;
- Em 1979, a fama de Pozzobon ganhou o mundo. Ele visitou a Europa, conheceu o papa João Paulo 2º e foi para a Argentina falar da Mãe Rainha;
- Em 27 de junho de 1985, aos 80 anos, foi atropelado por um caminhão quando ia para uma missa, no Santuário de Schoenstatt, às 6h30min, e morreu.
Exemplo de fé
- Em 1950, o Diácono recebeu uma imagem da Mãe Rainha. Com o tempo, colocou como propósito rezar 15 terços por dia (825 preces);
- Ele deu a ideia de, a cada 30 famílias, colocar uma imagem da Mãe Peregrina, para passar de casa em casa. Ele distribuiu 2,7 mil imagens da Mãe pela região. Em 2011, havia mais de 200 mil réplicas da imagem em 96 países;
- João Pozzobon carregava 19 kg nas peregrinações. A imagem da Mãe Rainha pesava 11 kg, e a pasta que levava com vestes e outros materiais religiosos, 8 kg;
- Ele percorreu 140 mil quilômetros a pé com a imagem no ombro para visitar famílias, escolas, presídios e hospitais;
- Pozzobon criou a Vila Nobre da Caridade, no Cerrito, com 14 casas que abrigam famílias pobres. Ele ajudava a conseguir emprego e a fazer as crianças estudarem.
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