Foto: Vinicius Becker (Diário)
Imagem da Mãe Peregrina ganhou o mundo com o trabalho de Pozzobon.
O diácono João Luiz Pozzobon morreu como viveu: carregando a imagem da Mãe Peregrina pelas ruas de Santa Maria e até de cidades de outros países, como Itália e Portugal. No último dia 27, completaram-se 40 anos do atropelamento que tirou sua vida, mas não interrompeu a missão que construiu com tanta fé. A caminhada que ele iniciou, de casa em casa, continua presente na rotina de milhares de pessoas.
+ Receba as principais notícias de Santa Maria e região no seu WhatsApp
Hoje, a Campanha da Mãe Peregrina segue viva em diversos países e línguas, e foi adaptada às diferentes realidades. Em Santa Maria, ela também chegou aos apartamentos, como no prédio de Clarice Stochero. Por devoção, é ela quem organiza com cuidado a lista dos vizinhos que recebem a imagem da Mãe. Ao Diário, Clarice conta que conheceu João Luiz Pozzobon ainda criança, na escola, e desde então guarda com carinho a lembrança e o compromisso com a missão que ele deixou.
Amor, cuidado e fé
Clarice mora na região central de Santa Maria. Aos 72 anos, foi ela quem teve a iniciativa de trazer a campanha da Mãe Peregrina para o prédio onde mora. A autorização para dar inicio ao trabalho foi oficializada em setembro do ano passado e, desde então, são mais de 30 moradores que recebem a Mãe em seus apartamentos. Para facilitar o controle, ela tem uma lista com o nome, apartamento e telefone de cada morador participante.
Seguir com o legado de Pozzobon significa muito para Clarice, especialmente por ter convivido com Pozzobon ainda criança, a partir dos 8 anos, quando ele visitava a Escola São Domingos Salvios, na localidade de Santos Anjos, em Faxinal do Soturno, onde morava. Segundo ela, mesmo com a idade avançada, ele não deixava de ministrar a palavra:
– Deus! Que pessoa simples! Lembro que, ao rezar, ao pronunciar: "Ave Maria, Santa Maria", ele engolia algumas frases. Ele já estava velho, também cansado. Aos domingos, nós íamos para a Linha Saxônica a pé atrás dele em procissão. Nós rezávamos o terço com ele coordenando e, depois, nós voltamos com os professores. Isso eu acompanhei até me casar. Eu me casei com 18 anos — recorda.
A devoção que cresceu ali nunca mais foi embora. Ela se dedicou a repassar o legado de Pozzobon em Dom Pedrito, onde viveu até se mudar para Santa Maria. Conforme ela, a fé foi fundamental para superar as perdas que sofreu.
— Lá, eu tinha mais disponibilidade e cheguei a coordenar duas imagens. Ia nas casas rezar o terço com as famílias, preparava os cantinhos. Foi uma coisa inédita. Isso tudo que também me deu muita fé para enfrentar a perda do meu marido — conta.
Hoje, cuida com carinho da campanha que ela trouxe ao prédio:
— Como hoje eu tenho dificuldade em caminhar, eu ligo de casa em casa, eu tenho a listinha para acompanhar onde é que ela está. Mas às vezes, chegam os feriados e os domingos, ela fica "presa" –- brinca Clarice, referindo-se aos vizinhos que viajam.
— Às vezes, é uma luta para encontrar, mas as pessoas participam com muito carinho e, depois, deixam aqui ou deixam na portaria — relata.
Devoção em outros países
E não é só no Brasil que a campanha da Mãe Peregrina resiste ao tempo. No Canadá, o argentino Guillermo Fiebelkorn, 62 anos, faz parte do grupo de missionários que leva a imagem da Mãe adiante.
Guillermo conheceu a história de João Luiz Pozzobon em 1985, quando foi convidado para participar de um encontro em Florencio Varela, na Argentina, onde o diácono faria uma visita. Na época, Guillermo recusou o convite. Segundi ele, esse arrependimento o acompanha até hoje. Com o tempo, mesmo sem o encontro presencial, passou a se aprofundar na trajetória de Pozzobon e na Campanha da Mãe Peregrina, que havia começado no Brasil e ganhava força em outros países da América Latina. Hoje, ele mora no Canadá com a esposa, Mónica Fiebelkorn, 63 anos, cinco filhos e quatro netos, e mantém vivo o compromisso com a missão que o diácono iniciou há mais de 70 anos.
— Sendo um homem simples, ele me revelou que a força evangelizadora da Mãe. E essa Mãe Peregrina pôde encontrar seu protagonista em um homem que rompia barreiras sociais e incentivava o crescimento e o desenvolvimento social dos lugares que visitava. E fazia isso sem medo de se sujar, caminhando na mesma terra daqueles que ele evangelizava — conta Guillermo, que trabalha como especialista em proteção de dados e manejo de documentações na Universidade de Calgary.

— Vejo nele um santo, ainda que a Igreja o tenha reconhecido, por enquanto, apenas como venerável por suas virtudes. Mas o vejo como um santo que caminhou entre nós, querendo nos levar todos para o céu, de mãos dadas com Maria — finaliza.
Além do Canadá, mais de 100 países contam com a campanha. Itália, Áustria, Polônia, Alemanha, México, Índia e Estados Unidos são alguns deles.
A campanha
Ao longo da vida, Pozzobon trabalhou ativamente na Campanha da Mãe Peregrina, que até hoje promove a evangelização católica ao levar a imagem da Mãe, Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável de Schoenstatt à residência de famílias. Ao longo de 35 anos, ele percorreu a pé cerca de 140 mil quilômetros realizando esse trabalho, que alcança hoje quase cem países.
João Luiz Pozzobon também criou projetos sociais em Santa Maria, na Região Central, como a Vila Nobre da Caridade, que construiu moradias gratuitas para pessoas em vulnerabilidade social.
Em 1972, ele foi ordenado Diácono Permanente da Igreja, passando a celebrar batismos e matrimônios, além de levar a eucaristia para os doentes. Em junho de 2025, foi reconhecido como venerável pelo papa Leão 14. O título é um dos passos para a santificação.
Pozzobon morreu em 1985, durante uma de suas caminhadas missionárias, ao ser atropelado por um caminhão.