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Diácono João Luiz Pozzobon: conheça a trajetória do homem que viveu em Santa Maria e pode virar santo

Diácono João Luiz Pozzobon: conheça a trajetória do homem que viveu em Santa Maria e pode virar santo

Fotos: Beto Albert (Diário)

Imagem está na área externa da casa-museu de Pozzobon. É como ele é reconhecido, comumente.

Andando, vermelho de sol após caminhar muitos quilômetros com uma imagem da Mãe Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável de Schoenstatt de um lado, no ombro. E do outro, segurando um terço, rezando. Sempre de terno e gravata. É como as pessoas que conheceram o Diácono João Luiz Pozzobon lembram dele e de como viveu a vida – levando a mãe rainha, primeiro, por Santa Maria e Quarta Colônia, até que ela chegasse em outras partes do país. 


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Foi por meio dessa devoção que Diácono recebeu o título de Servo de Deus na Igreja Católica, com chances de dar mais um passo e ser reconhecido como santo futuramente. Entre as etapas, a próxima é a de venerável. A previsão é que nesta terça-feira (4), o Dicastério para a Causa dos Santos, do Vaticano, dará início à avaliação de sua vida e fama de santidade, para conceder ou não esse título.


A imagem descrita acima é compartilhada por muitos que viram e ouviram sobre a maneira que Diácono atuou em vida. Principalmente quanto à Campanha da Mãe Peregrina de Schoenstatt, iniciada por ele em 10 de setembro de 1950 ao andar com uma imagem de 11kg da Mãe e Rainha, visitando pessoas doentes, escolas, igrejas, casas. 

Até que se despediu da terra, em junho de 1985, aos 80 anos, após percorrer mais de 140 mil km a pé nessa responsabilidade. Hoje, ele está ainda mais vivo, acredita o responsável pela Causa de Beatificação de Pozzobon em Santa Maria, Padre Vítor Hugo Possetti. A fé e as graças alcançadas em seu nome alimentam suas virtudes no sagrado.

Padre Vítor teve um reencontro com a história de Pozzobon. A primeira vez, a mãe peregrina chegou em sua casa.

– Na terra ele teve uma história, cresceu e viveu de modo muito concreto. Hoje, nós acreditamos que ele continua sendo, existindo. Ele é. Agora, diante de Deus. Acreditamos na imortalidade da pessoa. Então, é na nossa morte que apareceremos diante de Deus, ou passamos por um estado de purificação. Acreditamos que somos feitos para vida eterna. Então, foi caminhando conosco, como peregrino, homem de Deus e continua sendo e existindo diante de Deus – explica Pe. Vítor.


O homem, pai e as memórias de família
Já dentro de casa, nas lembranças de uma das suas filhas, Nair Elisa Pozzobon de Souza, 89 anos, o pai era apenas o pai. Ela já circulou pelo país falando sobre o homem que criou ela e os irmãos, também, que amou sua mãe, priorizou a família e sempre foi santo.


– Ele sempre dizia: 'O peso normal. Nem mais, nem menos, tudo certinho'. E o troco dos pagamentos também. Nada de erro. Nos ensinou muito bem, graças a Deus. Sempre digo, meu pai sempre foi um santo. Sempre nos educou moralmente para tudo. Lembro de irmos com ele para rezar e cantar, e que quando saía, deixava tudo pronto para mamãe. Penso que todos nós cristãos deveríamos ser como ele foi. E sou muito feliz por ter tido o grande pai que tive, e com o reconhecimento que tem – relata Nair. 

    

Pozzobon nasceu em 1904, em São João do Polêsine, mas se mudou para Santa Maria em 1930. Foi casado duas vezes e teve sete filhos: Eli e Ari, do primeiro casamento, e Nair, Otilia, Pedrolina, Vilma e Humberto, do segundo. Trabalhou como agricultor, comerciante e marceneiro.

 
Duas das casas em que a família morou viraram museus, pontos de visitações para pedidos e agradecimentos em nome do Servo de Deus. Geralmente chamado de João, e até seu Joanin por aqueles que chegavam no balcão de atendimento da mercearia, na peça da frente da casa na Avenida Osvaldo Cruz, número 697, no Bairro Km 3. A casa, hoje com fachada rosa, foi a última morada (1933-1985). O filho mais novo nasceu e cresceu no local.

Dizem que Humberto seria o filho mais semelhante fisicamente ao pai.


Humberto Pozzobon, 62 anos, lembra de quando o local recebia aqueles que buscavam as graças de João. Eles ainda residiam no local. Em alguns anos, o espaço passou a ser da Associação  João Luiz Pozzobon e ficou disponível para ser um refúgio e acervo. Os móveis e objetos da casa no Km 3 estão repletas de memória do lar dos Pozzobon, junto com itens da história com a Mãe e Rainha. Réplicas da imagem que era carregada nos ombros estão espalhadas por toda a casa.

 
– O quarto dele é o meu favorito. Foi aqui que nasci. E nesse guarda-roupa, tem os ternos que ele usava. Já embaixo do travesseiro, sempre tem pedidos. As pessoas vêm e deixam aqui. A casa me traz muitas lembranças boas. Tínhamos alegria e satisfação em estar sempre com ele, pois era um pai maravilhoso, que gostava de agradar os filhos. E ele continua nos acompanhando. A gente invocava o nome dele em oração e, graças a Deus, conseguimos resolver o problema – rememora o filho mais novo.

 
Anualmente, o local recebe cerca de 30 mil peregrinos. Quem marca as visitas, recebe e apresenta a história de Pozzobon é a coordenadora de atividades da casa-museu Elaine Flores da Silva, 68 anos. Além do presencial, ela também atende muitos telefones e mensagens.

Elaine Flores está diariamente no local.

– Nosso objetivo é que a casa seja, cada vez mais, um lugar de oração. Claro, um local para conhecer a história de vida dele, pois ele nos mostra como viver, mas o maior intuito é tê-la como um lugar de oração e aconchego – descreve Elaine.

 

Além de Santa Maria, a residência em que João nasceu, na Quarta Colônia, também é referência para a sua história: ela virou uma casa-museu conduzida pela associação e referência para peregrinos de diferentes países.


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Os caminhos de João

Ao chegar na sala de Nair já é possível encontrar os objetos que remetem a João.

Na sala de sua filha Nair, uma lembrança: um burrinho carregando, entre as várias bolsas, um terço. Uma referência a como ele mesmo se chamava: um burrinho da Mãe e Rainha. Foi graças a peregrinação que mais pessoas conheceram a Obra Internacional de Schoenstatt e a sua. Em 1979, ele ganhou fama pelo mundo.

 
– As pessoas querem saber, conhecer, elas têm sede para se inspirar na vida dele também. Esses dias recebi vídeos da Índia. No meio das palavras de outra língua, tem as palavras 'João Pozzobon, Santa Maria'. É muito bonito ver como ele é querido em tantos lugares –  relata padre Vítor.


Encontrar Deus fora da Igreja

As construções de João diziam muito sobre sua postura. Ele acreditava que também era possível encontrar Deus fora de uma igreja. Pensando nisso, criou em sua casa uma ermida. A primeira de muitas. São pequenas construções de distintos formatos, colocadas em lugares estratégicos para proporcionarem às pessoas momentos de lembrança do divino, ocasião de oração, momento de realizar seus pedidos. Ao total, ele próprio erigiu 44 ermidas, entre Santa Maria e a Quarta Colônia.

A primeira ermida construída por ele, nos fundos da casa.

Outra construção foi a Vila Nobre da Caridade, que marcou a história de muitas pessoas em situação de vulnerabilidade social. Ela foi fundada em 1952 e tinha 14 casas. Elas foram lar para quem mais precisava. Dentro da vila, ainda ficava uma das três capelas construídas em honra a Nossa Senhora de Schoenstatt em bairros necessitados da Paróquia Nossa Senhora das Dores, a capelinha azul. Obras que dizem respeito a como João se comportava, descreve seu filho Humberto: 


– O que ele (João) mais gostava era juntar as pessoas para se reunir e ficar mais perto de Deus.


O processo de beatificação
Cerca de 35 anos destinados a missões da Igreja Católica. Eles foram compilados em um conjunto de documentos captados a partir de uma série de pesquisas sobre a vida e a trajetória do religioso. O trabalho foi realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Universidade Franciscana (UFN), ​Faculdade Palotina (Fapas) e da Arquidiocese de Santa Maria. E inclui também, depoimentos de fiéis que conviveram com Pozzobon de 1950 até 1985, ano em que morreu atropelado em frente ao Santuário de Schoenstatt, na Avenida Dores.

O conjunto de documentos da vida de Pozzobon.


Ao todo, o processo reuniu mais de 10 mil documentos, que se resumiram no Positio sobre as Virtudes, que foi entregue ao Vaticano em 2024. Se aprovado, o primeiro reconhecimento que será dado ao Diácono Pozzobon será o de venerável,o que significa que a Igreja Católica afirma que ele é um bom exemplo a ser seguido. Assim, sua história e suas obras serão ainda mais divulgadas no mundo. Atualmente, ele é um Servo de Deus.

 

As etapas da santidade

  • Servo de Deus – O candidato a santo tem de ter morrido, no mínimo, cinco anos antes de o processo ser sugerido e aceito pelo Vaticano. Quando isso acontece, o candidato recebe o título de Servo de Deus. Pozzobon ganhou esse título em 1994;
  • Venerável – Se o Dicastério da Causa dos Santos, no Vaticano, aprovar a documentação do diácono, ele vira venerável. Isso significa que a Igreja afirma que ele é um exemplo a ser seguido, o que faz com que sua história e suas obras sejam ainda mais divulgadas;
  • Beato – A partir do título de venerável, será necessário comprovar um milagre. Caso for comprovado, o título de beato é concedido pelo Papa e ele pode ser venerado publicamente (imagem nas igrejas, pedido de intercessão nas missas e cultos públicos...) em uma região ou comunidades específicas;
  • Santo – É a canonização de fato. Após comprovar mais um milagre, que tem de ocorrer após a beatificação, o candidato é tornado santo e tem o seu nome inscrito na lista oficial da Igreja e poderá ser venerado em igrejas no mundo todo.


Heranças

  • Jubileu de 75 anos – Campanha da Mãe Peregrina, que completa 75 desde quando João a iniciou, em 1950;
  • Romaria da Primavera  – João começou a procissão da Mãe Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável de Schoenstatt. Primeira em 1952, em setembro;
  • Renovação na Romaria – Nos domingos, às 3h, Pozzobon renovava a coroação da mãe peregrina acrescentando uma pedrinha na coroa, como expressão de gratidão e confiança;
  • Tríduo  – Três dias de oração antes do dia da morte do diácono (27 de junho);
  • Terço – Grupos do Terço dos Homens, entre outros, tem forte relação com o diácono.
Os peregrinos deixam seus pedidos e agradecimentos na casa. Alguns, embaixo do travesseiro.


Quem foi

  • Nasceu em 12 de dezembro de 1904, em Ribeirão, localidade de São João do Polêsine. De origem pobre, largou os estudos para ajudar o pai na lavoura;
  • Em 7 de setembro de 1947, Pozzobon participou do lançamento da pedra fundamental do santuário de Schoenstatt, onde teve início o seu contato com a Mãe Peregrina. Três anos depois, em 10 de setembro, começou a Campanha da Mãe Peregrina;
  • Ordenado diácono pelo bispo dom Érico Ferrari, em 1972. Passou a fazer casamentos, batizados e enterros. Não podia rezar missas e absolver pecados;
  • Em 1979, a fama de Pozzobon ganhou o mundo. Ele visitou a Europa, conheceu o papa João Paulo 2º e foi à Argentina falar da Mãe Rainha;
  • Em 27 de junho de 1985, aos 80 anos, foi atropelado por um caminhão quando ia para uma missa, no Santuário de Schoenstatt, às 6h30min, e morreu.


Exemplo de fé

  • Em 1950, o Diácono recebeu uma imagem da Mãe Rainha. Com o tempo, colocou como propósito rezar 15 terços por dia (825 preces);
  • Ele deu a ideia de, a cada 30 famílias, colocar uma imagem da Mãe Peregrina, para passar de casa em casa. Ele distribuiu 2,7 mil imagens da Mãe pela região. Em 2011, havia mais de 200 mil réplicas da imagem em 96 países;
  • João Pozzobon carregava 19 quilos nas peregrinações. A imagem da Mãe Rainha pesava 11 quilos, e a pasta que levava com vestes e outros materiais religiosos, 8 quilos;
  • Ele percorreu 140 mil quilômetros a pé com a imagem no ombro para visitar famílias, escolas, presídios e hospitais;
  • Pozzobon criou a Vila Nobre da Caridade, no Cerrito, com 14 casas que abrigam famílias pobres. Ele ajudava a conseguir emprego e a fazer as crianças estudarem.


Para viver a história

  • Associação – Site com informações https://www.devotosjoaopozzobon.com.br/biografia/
  • Campanha Mãe Peregrina – Movimento de Schoenstatt https://www.maeperegrina.org.br/pozzobon/
  • Casa Museu na Quarta Colônia – Localizada em São João do Polênise, recebe visitas e eventos cristãos;
  • Casa Museu em Santa Maria – Recebe visitas. Aberta de terça a sábado, 6h30min às 12h e 14h às 17h30min. Agendamento por (55) 3347-3003 ou (55) 9 9172-1611.


Curiosidade
O primeiro santo brasileiro é o Frei Franciscano de Sant'anna Galvão, o Frei Galvão. Ele foi canonizado pelo Papa Bento em maio de 2007, em São Paulo pelo Papa Bento XVI. Suas graças proporcionaram que mães tivessem os partos facilitados e pessoas fossem curadas.

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imagem Bibiana Pinheiro

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Bibiana Pinheiro

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