Santa Maria registrou mais de 730 novos casos de sífilis em 2022

Arianne Lima

Santa Maria registrou mais de 730 novos casos de sífilis em 2022
Foto: Eduardo Ramos (arquivo/Diário)

Santa Maria registrou mais de 730 novos casos de sífilis em 2022. A doença, que é considerada uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST), é causada pela bactéria Treponema pallidum e pode ser transmitida, inclusive, de mãe para filho durante a gravidez ou no parto. No mesmo ano, foram contabilizados mais de 122 mil novos casos da doença no país. Para a coordenadora da Política HIV/Aids, ISTs e Hepatites Virais de Santa Maria, Márcia Rodrigues, o controle da propagação desta doença envolve o comprometimento tanto da gestão e da assistência em saúde quanto da sociedade como um todo.

Dados locais

Com base na origem da transmissão, a sífilis pode ser classificada de duas formas: adquirida, quando ela é transmitida de uma pessoa para outra durante relações sexuais sem o uso de preservativo, e congênita, quando a gestante transmite a doença para o bebê durante a gestação ou o parto.

Em 2022, foram notificados 733 novos casos de sífilis à vigilância epidemiológica de Santa Maria, sendo 540 novos casos de sífilis adquirida, 130 casos da doença em gestantes e 63 casos de sífilis congênita em Santa Maria. Apenas em janeiro deste ano, 56 novos casos foram registrados. Neste cenário, o que mais preocupa é sífilis congênita, porque pode se manifestar logo após o nascimento ou depois de dois anos de vida da bebê, resultando em sequelas como surdez, cegueira, alterações ósseas, má-formação, deficiência mental ou até mesmo, a morte.

De acordo com a coordenadora da Política HIV/Aids, ISTs e Hepatites Virais de Santa Maria, Márcia Rodrigues, o município nunca registrou óbitos em decorrência deste tipo de sífilis, mas os quadros são monitorados devido a gravidade da doença.

– Não temos notificação de casos dessa natureza pela vigilância, porém, a sífilis congênita é um problema de saúde pública que precisa ser enfrentado com políticas públicas eficientes e levada muito a sério por toda população. Quando falamos em sífilis congênita, estamos falando também sobre sífilis na gestação. E de que forma podemos controlar essa transmissão? Com testagem rápida para ISTs na população em idade fétil (jovens); realização precoce do pré-natal com testagem rápida da gestante e do parceiro ainda no primeiro acolhimento e após, pelo menos, uma testagem por trimestre, além do tratamento completo e monitoramento da eficácia do mesmo. As maternidades no Estado já realizam testagens rápidas obrigatórias em todas as gestantes e parceiros antes do parto – informa Márcia.

Casos de sífilis em Santa Maria

2023*

39 casos de sífilis adquirida

10 casos em gestantes

7 casos de sífilis congênita

*Dados de janeiro

2022

540 casos de sífilis adquirida

130 casos em gestantes

63 casos de sífilis congênita

Fonte: Coordenação da Política HIV/Aids, ISTs e Hepatites Virais de Santa Maria

Sintomas

A sífilis se manifesta de acordo com o estágio de desenvolvimento, sendo classificada como primária, secundária, terciária e latente. Na fase primária, que ocorre entre 10 e 90 dias após o contágio, tendem a surgir feridas no pênis, vulva, vagina, colo uterino, ânus, boca ou outros locais da pele. Essa ferida não causa dor, coceira, ardência ou pus e pode estar acompanhada de ínguas a virilha. A ferida desaparece sozinha, mesmo que não seja tratada.

Na sífilis secundária, os sinais aparecem entre seis semanas e seis meses após o aparecimento e cicatrização da ferida inicial. O paciente pode apresentar febre, mal-estar, dor de cabeça e ínguas, além de manchas pelo corpo, incluindo palmas das mãos e plantas dos pés. As manchas desaparecem em algumas semanas, mesmo sem tratamento, o que fornece a falsa impressão de cura.

A sífilis terciária pode surgir entre um e 40 anos após o início da infecção, apresentando lesões cutâneas, ósseas, cardiovasculares e neurológicas. Já a sífilis latente é considerada assintomática. A duração dessa fase é variável, podendo ser interrompida pelo surgimento de sinais e sintomas da forma secundária ou terciária da doença.

Testagem e prevenção

Uma das principais formas de monitoramento da sífilis é a testagem. Em Santa Maria, testes rápidos são disponibilizados em todas as unidades de saúde e na Casa Treze de Maio, localizada no Bairro Centro. O resultado sai em, no máximo, 15 minutos. Em 2021, foram contabilizados 7.196 testes de sífilis feitos pela população e 2.319 de sífilis por gestantes/parceiro no município. Em 2022, o número apresentou um aumento significativo. Ao todo,15.508 testes rápidos para doença foram realizados, sendo que 13.169 na população geral e 2.339 em gestantes/parceiros.

Márcia explica que o aumento na testagem é observado como um todo:

– Tivemos um crescimento considerável em 2022 para todos os testes rápidos do HIV/ISTs no município. Em 2021, foram 38.733 testes e em 2022, 57.257 testes, ou seja, quase dobrou o número. Dentre os fatores que contribuíram para esse aumento, podemos atribuir a divulgação acerca desse assunto cada vez mais intenso em todos os canais de comunicação: rádio, televisão, jornal e mídias sociais . Além disso, os profissionais das equipes de saúde dos postos estão oferecendo muito mais testes para essa população que desconhecia.

De janeiro a 23 de fevereiro deste ano, já foram realizados 2.155 testes para sífilis, sendo 1.827 na população geral e 328 em gestantes e parceiros. A melhor forma de prevenção contra a doença continua sendo o uso correto e regular do preservativo durante as relações sexuais.

Mudar o cenário é um compromisso de todos

Desde 2020, a Coordenação de Política HIV/Aids, ISTs e Hepatites Virais de Santa Maria vem intensificando as ações para conscientizar a população sobre a importância da prevenção e testagem de doenças sexualmente transmissíveis. O uso das mídias sociais para fomentar a informação, a oferta de testes rápidos entre os diversos pacientes que frequentam diariamente os serviços de saúde, assim como a ampliação da possibilidade de prescrição do tratamento, são algumas das medidas elencadas por Márcia como essenciais para proporcionar maior qualidade de vida à população.

A sífilis tem cura, sendo o tratamento com penicilina o mais recomendado devido a eficaz no combate a bactéria causadora da doença. Desde maio do ano passado, enfermeiros e médicos pode fazer a prescrição do tratamento para adultos com diagnóstico em unidades de saúde no município. O monitoramento das dosagens também é feito nestes locais. Enquanto coordenadora desta política em Santa Maria, Márcia acredita que o compromisso em mudar o cenário deve ser de todos:

– O controle da propagação desta doença envolve o comprometimento tanto da gestão e da assistência em saúde, mas também da sociedade como um todo. Temos elaborado ações que aproximam a população tanto do conhecimento das informações, como do acesso aos serviços de saúde. Descentralizando inclusive, no município, ou seja, ofertando testes e insumos nos bairros e nos distritos, bem como em diferentes espaços: Semana da Calourada, nas Universidades, Escolas, Parada Livre LGBTQIAP+, Feiras, Quartéis, Agências de Trabalhadores do Sexo, SIPATs das empresas, e mais recente, nos estabelecimentos de festa no Carnaval. Cabe destacar que tivemos adesão de vários locais no município para disponibilizar os insumos, porém tivemos a resistência de um local, podendo ser atribuído ao estigma que ainda envolve a prevenção das ISTs. Portanto, o controle da sífilis passa pelo uso da prevenção combinada (uso do preservativo, testagem rápida pelo menos uma vez ao ano e tratamento adequado dos casos reagentes) e a quebra do estigma acerca da abordagem dessa temática.

No Brasil

Conforme o Ministério da Saúde, foram registrados mais de 167 mil novos casos de sífilis adquirida e 74 mil casos em gestantes em 2021. No mesmo ano, outras 27 mil ocorrências de sífilis congênita foram diagnosticadas, além de 192 óbitos por esse tipo de sífilis. Até junho de 2022, já haviam sido constatados 79,5 mil casos de sífilis adquirida, 31 mil registros de sífilis em gestantes e 12 mil ocorrências de sífilis congênita no país, o que totaliza 122, 5 mil novos casos da doença.

Casos de sífilis no Brasil

2022*

79,5 mil casos de sífilis adquirida

31 mil casos em gestantes

12 mil casos de sífilis congênita

*Dados contabilizados até junho

2021

Mais de 167 mil casos de sífilis adquirida

74 mil casos em gestantes

27 mil casos de sífilis congênita

192 óbitos em decorrência da sífilis congênita

Fonte: Ministério da Saúde

Arianne Lima – [email protected]

*com informações do Ministério da Saúde

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