Região Central enfrentará seca pelo terceiro verão seguido

Eduarda Costa

Região Central enfrentará seca pelo terceiro verão seguido

Agricultores de Santa Maria já se preparam para os meses mais quentes do ano. Prefeitura também atua para minimizar os efeitos da seca e da estiagem. Fotos: Eduardo Ramos (Diário)

A menos de um mês para o início do período mais quente do ano, a cidade começa a se preparar para reduzir as consequências causadas pela estiagem, especialmente na agricultura. Segundo previsões de especialistas em meteorologia, o verão deve ser igual ao dos últimos três anos, por conta da incidência do La Niña.

No início deste ano, Santa Maria e outros 38 municípios decretaram situação de emergência, e muitos recorreram aos recursos da União e do Estado devido às perdas na agricultura.

De acordo com meteorologistas, no entanto, a estiagem pode voltar neste verão, o que faz Santa Maria e agricultores se prepararem para o fenômeno que causa seca e, por vezes, até desabastecimento de água.

O que diz a previsão

Um dos fatores que influenciam na ocorrência de períodos mais secos e sem predomínio de chuva é o La Niña. Na região Sul do país, o fenômeno natural causa temperaturas muito elevadas e períodos de seca, impactando na vida e na economia. A previsão é de que ele continue em incidência até o outono, e que o período seguirá o padrão dos anos anteriores.

O fenômeno tem duração entre 9 e 12 meses até dois anos. No entanto, ele já se repete há três anos, e, se as previsões se concretizarem, deve se estender até o final do verão, com período mais intenso entre os meses de novembro e janeiro. Essa sequência de meses secos influencia diretamente no solo, como explica a coordenadora do grupo de clima e professora de meteorologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Simone Ferraz:

– Estamos há três anos com períodos mais secos do que a média. Então, o solo fica cada vez mais seco, porque não tivemos aquele período de recuperação, de mais chuvas e absorção da água no solo. O solo está seco e vem secando cada vez mais, e é complicado ter o mesmo efeito por muito tempo, principalmente na superfície.

Expectativa

Meteorologista da UFSM, Simone Ferraz diz que a região já está há três anos com períodos mais secos do que a média prevista

A professora aponta que ainda é cedo para prever a incidência com que a estiagem pode ocorrer no Estado, mas que o quadro deve se repetir. Também não é possível prever, ainda, quais regiões podem ser mais ou menos afetadas, mas que as regiões Norte e Noroeste costumam sofrer mais.

– Se as previsões de La Niña se concretizarem, a gente vai continuar tendo estiagem e tempo quente. O que não quer dizer que não vai chover, mas serão chuvas pontuais, e as famosas chuvas de verão, que são intensas e o solo não chega a absorver – esclarece Simone.

Esperança de dias mais chuvosos

Ao observar a frequência de chuvas nos últimos 12 meses, o quadro é desanimador. Entre outubro de 2021 e outubro de 2022, houve muitos dias consecutivos sem decorrência de chuva, o que pode acarretar um verão seco, como o último. Na análise da professora Simone Ferraz, o grande problema para o solo não é um ano seco, mas sim muitos dias seguidos sem chuva, o que acaba prejudicando demais o solo.

Como o impacto maior do La Niña é em novembro, somente após o encerramento deste mês que será possível prever como será a próxima estação. Ao observar o gráfico de predomínio de chuvas no mês de novembro de 2021, foram apenas cinco dias de chuva, com período de até 11 dias sem precipitações.

Esse quadro refletiu nos meses seguintes de dezembro de 2021 e janeiro e fevereiro de 2022. Em janeiro deste ano, foram oito dias consecutivos sem chuva, e em fevereiro outros sete. Portanto, como estamos em um novembro seco, é possível que isso também se repita nos primeiros meses do ano de 2023, afirma a especialista.

Agricultura

Nos últimos cinco anos, entre 2017 e 2021, a região de Santa Maria foi uma das mais afetadas do Rio Grande do Sul pelos eventos de seca e estiagem. Conforme estudo de desastres naturais divulgados na última terça-feira (22) pelo governo do Estado, foi registrado que 419,3 mil pessoas foram atingidas na região, cerca de 21,8% dos 1,9 milhão de gaúchos afetados no Estado.

Entre os prejuízos, foram R$ 19,4 bilhões perdidos apenas com a estiagem e seca em todo o Estado e 84,99% das perdas no total de desastres naturais.

Emater

Ao fim do período da colheita de 2021 a 2022 foi possível mensurar o impacto econômico causado pela última estiagem. Na Região Central, o prejuízo total passou de R$ 6,5 bilhões. Segundo o boletim publicado pela Emater Regional em junho deste ano, foram registradas perdas 62% na safra de soja e de 15% no arroz.

Para o próximo período, a Emater já se prepara e acompanha todos os passos da colheita junto aos agricultores, desde o planejamento. As perspetivas do engenheiro-agrônomo e gerente geral da Emater Guilherme Passamani são positivas, e, segundo ele, não houve registros de perdas significativas ao longo do ano.

– A gente está preparado para ajudar as nossas comunidades, e orientar os agricultores, caso seja necessário. As parcerias com prefeituras e principalmente com a Defesa Civil estão muito bem concretizadas com o aprendizado que tivemos nos últimos anos.

A recomendação é que os agricultores mantenham organizadas as documentações referentes aos gastos na atividade, para facilitar a cobertura do seguro agrícola, caso seja necessário. A Emater disponibiliza extensionistas em todos os municípios do Estado, com equipe técnica capacitada e à disposição da comunidade e dos agricultores para contribuir com o que for preciso.

Expectativa

Claudionei Savian afirma que, até agora, as chuvas foram boas para o plantio. Agricultor diz que preocupação são os preços dos insumos

Com propriedade entre Santa Maria e São Pedro do Sul, o agricultor Claudionei Savian, 42 anos, possui 40 hectares para plantação de soja. Na última safra, a produtividade se igualou a média estadual, de 20 sacas por hectare. Com toda a propriedade já plantada, ele agora aguarda a frequência das chuvas.

– No ano passado, a estiagem foi muito prolongada. Agora nós estamos esperando que o ano seja bom, que chova mais, mas nós não mudamos nada, nem de irrigação, nada. Estamos esperando o tempo, mas para a nossa região até que foram boas as chuvas para plantar, até agora está indo bem.

Já em comparação aos valores, o agricultor notou o custo maior na compra dos insumos e das sementes, por conta do preço elevado da soja. Portanto, caso sejam afetados pelas consequências da estiagem, o prejuízo será ainda maior que os anos anteriores, afirma ele.

Impactos da Estiagem na região

Prejuízos em 5 anos: R$ 14,4 bilhões no RS

Último ano R$ 6,5 bilhões somente na região central

Perdas de 62% na safra de soja e de 15% no arroz

Ações para minimizar os impactos em Santa Maria

Para amenizar os efeitos da estiagem, tanto a que afetou a cidade neste ano quanto a que possa vir, a Secretaria de Desenvolvimento Rural de Santa Maria faz ações de acompanhamento constante dos órgãos ambientais locais e regionais para se preparar quanto a possibilidade de um novo período de seca prolongado.

Segundo o titular da pasta, Rodrigo Menna Barreto, antecipando os cuidados, foi sancionado o programa municipal de Irrigação e Reserva de Água, o Irriga SM, para auxiliar agricultores do interior de Santa Maria, com construção e reformas de reservatórios de água. O programa já está em fase de execução, com investimento de R$ 1,3 milhão garantido até 2023.

Consequências

Para conter os efeitos da estiagem, prefeitura abre microaçudes no Interior. Agricultores do distrito de São Valentim foram primeiros contemplados com a iniciativa. Investimento é de R$ 1,3 milhão. Foto: João Vilnei/PMSM

Por meio do programa Irriga SM, sancionado em outubro, agricultores estão sendo beneficiados com a construção e reforma de microaçudes, tanques de piscicultura e bebedouros para dessedentação animal. O objetivo da prefeitura é minimizar os efeitos da estiagem ainda de 2022, devido à baixa concentração de chuvas.

Até o momento, quatro produtores foram beneficiados pelo programa, todos residentes do distrito de São Valentim. Outros cerca de 25 agricultores estão inscritos e aptos a receber a ajuda nos distritos de Arroio do Só, Arroio Grande, Boca do Monte, Pains, Santo Antão e São Valentim. As construções e melhorias estão sendo agendadas conforme logística da secretaria para transporte e deslocamento do maquinário.

Investimentos

Para as ações, cerca de R$ 800 mil foram destinados da Secretaria de Município de Desenvolvimento Rural para serem utilizados até dezembro. Outros R$ 500 mil já estão garantidos para o próximo ano, valor que pode aumentar com captação de emendas e novos recursos, conforme a gravidade dos efeitos da estiagem.

Ações

Durante o enfrentamento da última estiagem, em que a cidade decretou estado de emergência, foram reformados ou construídos quase 200 microaçudes e bebedouros, em propriedades rurais do interior de Santa Maria. A diferença para este ano, segundo o secretário Rodrigo Menna Barreto, é a preparação e antecipação da prefeitura, o que aumentou a qualidade do serviço:

– No ano passado nós fazíamos bebedouros mais simples, com menor quantidade. Estes agora são realmente açudes, com estruturação, projeto e reformas mais complexas e maiores – salienta.

Inscrições

Podem ser realizadas na secretaria de Desenvolvimento Rural (Avenida Medianeira, nº 141, Bairro Nossa Senhora Medianeira), das 8h às 12h, ou no escritório municipal da Emater de Santa Maria (na sede da Secretaria de Desenvolvimento Rural), das 8h15min ao meio-dia

Acompanhamento – Os beneficiados recebem acompanhamento técnico da prefeitura ou da Emater e participam periodicamente de cursos profissionalizantes na área de usos múltiplos da água

Requisitos – Comprovar o vínculo como agricultor familiar, estando com o cadastro ativo no sistema da Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP) ou Cadastro Nacional da Agricultura Familiar (CAF)

Próximos passos – Depois da inscrição, uma comissão de seleção, formada pela secretaria, Emater e Sindicato dos Trabalhadores Rurais, visita à propriedade para demarcação do local

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