Primavera será abafada e chuvosa; cenário demanda cuidados na agricultura da região

Apesar dos últimos dias serem caracterizados pela sensação de abafamento e com temperaturas mais altas em Santa Maria, o inverno se despediu nesta madrugada. Conhecida como estação das flores, a primavera chegou ao hemisfério sul neste sábado (23) às 3h50min, momento em que ocorreu o equinócio da primavera – quando o dia e a noite têm a mesma duração.


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Derivada do latim, a palavra primavera significa primeiro verão (primo vere), já que antecede a estação mais quente do ano. Apesar de ser caracterizada como estação de transição, com temperaturas mais amenas e aumento da umidade do ar, em 2023 a primavera será marcada pelas chuvas que ganharão destaque. Após três anos com a incidência do fenômeno La Ninã influenciando um tempo mais seco, neste ano a primavera será marcada pela umidade causada pela atuação do El Niño.


No gráfico disponibilizado pela BaroClima Meteorologia, é possível observar a baixa precipitação de chuva entre 2020 e 2022, quando o Estado estava sofrendo influência da La Niña.

Imagem: BaroClima Meteorologia

— As últimas primaveras foram bastante deficitárias, principalmente a de 2022 quando houve uma seca mais severa no Rio Grande do Sul. A forte queda da safra no Estado foi motivada principalmente por esse déficit de chuva, que chegou a 200 mm, entre a primavera de 2021 e o verão de 2022 — avalia Gustavo Verardo, meteorologista da BaroClima.


No hemisfério sul, o El Niño se caracteriza pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico, alterando a circulação global de eventos, direcionando a umidade da Amazônia para a Região Sul. O El Niño tende a ganhar mais força na primavera, já que o pico do fenômeno ocorre durante a estação das flores no Hemisfério Sul e as águas do Pacífico devem aquecer ainda mais.


Verardo revela que a primavera de 2023 será mais quente e com a permanência da sensação de abafamento, além de ter mais dias de céu nublado que contribuem com a intensificação do mormaço, caracterizado pela neblina quente e úmida.


— Setembro já teve chuva com mais de 500 mm em Santa Maria, maior chuva da história do mês. Já outubro deve acompanhar o mesmo padrão, com eventos extremos de bastante chuvas. O cenário muda a partir da segunda quinzena de novembro, quando passamos a ter as ‘chuvas de verão’ pela tarde — aponta.


Primavera e agricultura

Apesar de a primavera ser uma estação considerada equilibrada, que favorece o plantio da safra de verão, além de ser o período do desabrochar de várias espécies de plantas, a estação em 2023 deve motivar cuidados diferentes dos aplicados nos últimos anos no campo. Isso porque as alterações climáticas são um dos fatores que mais tem afetado a produção agrícola.


Com a previsão de uma primavera chuvosa, tendo umidade superior a esperada para a estação, até mesmo as culturas que tendem a se beneficiar com essa característica da primavera podem sofrer.

Foto: Gabriel Haesbaert (Diário/Arquivo)

— Solo encharcado e solo deficitário, são, da mesma forma, um mesmo problema para as culturas que agora começam a ser semeadas. Por exemplo, quem tem produção de hortaliças e de leguminosas, tendo ou não uma estufa, pode sofrer com a queda de granizo prevista. Já o arroz, apesar de ser uma cultura que necessita de água, o excesso também acarreta em prejuízos — exemplifica o meteorologista.


O assistente técnico regional da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), Luis Fernando Oliveira, aponta três momentos recentes que impactaram de forma mais intensa a agricultura do sul do país – os ciclones que atingiram o Rio Grande do Sul em julho, alterações nas temperaturas, sendo registrados períodos mais quentes da história, e o grande volume de chuva no mês de setembro.


Apesar deste cenário, ele explica que estamos no período em que as culturas de inverno estão plantadas, como o trigo, que praticamente não registrou grandes prejuízos. Já na Região Central, ainda que as àreas de plantio já estivessem preparadas, com as enchentes de setembro, o solo terá de ser readequado ao plantio:


— Não houve grande prejuízo na cultura por conta do trigo estar localizado em áreas mais altas, em áreas de Coxilha. Regiões que não foram atingidas pelas enchentes. Na nossa região, aqui no entorno de Santa Maria e Quarta Colônia, as áreas de cultura estão sofrendo um pouco, como a cultura do arroz, muito em função do atraso da época de semeadura. As áreas já estavam prontas e, com essas enchentes, muitas delas terão de ser refeitas — explica.


As chuvas previstas para outubro e novembro, decorrentes ainda da atuação do El Niño, têm preocupado o setor agrário quanto à safra de verão.

— A nossa preocupação é com a janela de semeadura, principalmente da soja, que se inicia agora no dia 1º outubro, dependendo de como for o regime de chuvas, o agricultor terá poucos dias para fazer o plantio das culturas. Isso pode nos atrasar nas épocas preferenciais da cultura da soja — alerta.


O assistente técnico também destaca a importância da meteorologia para o planejamento da agricultura, já que as últimas safras foram relacionadas diretamente às mudanças climáticas.


Primavera meteorológica

Você sabia que a primavera já havia iniciado antes deste sábado? Gustavo Verardo explica a diferença da estação astronômica para a estação meteorológica. 

– Apesar da primavera astronômica, com o alinhamento da Terra com o sol, começar apenas no dia 23, a gente já teve o início da primavera climática no início do mês. Desta vez, com muita umidade e chuva decorrente do fenômeno El Niño, que deve seguir até maio do ano que vem – explica Verardo.




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