O nome já diz muito sobre o papel das unidades básicas de saúde. No local, deveriam ser oferecidos os serviços essenciais na área. Mas nem sempre essa é a realidade que se encontra nos 14 postos desse tipo que estão espalhados pela cidade.
Na unidade Walter Aita, na Cohab Fernando Ferrari, um cartaz alerta os usuários que, "a menos que o paciente esteja com sintomas de mal-estar", não há mais verificação de pressão arterial, glicemia, aplicação de injeções e retirada de pontos e apresenta como motivos o fato de que "não há técnicos de enfermagem neste momento" e acrescenta que, "assim que a Secretaria Municipal de Saúde disponibilizar tal profissional, os procedimentos voltarão a ser realizados". Como a vacinadora está em férias, as vacinas também estão suspensas e só voltarão a ser feitas a partir de 9 de abril.
Em pleno Centro, na Unidade José Erasmo Crossetti, outro cartaz, desta vez avisando que o clínico geral está em férias e que "no momento não há substituto". Com os dois exemplos, não fica difícil de entender por que em um levantamento feito na última semana com usuários das unidades, em quatro delas o conceito atribuído foi ruim e, em duas, péssimo. E a população é clara ao apontar os motivos. Falta o básico para um atendimento de qualidade: não há médicos e sobram filas na hora de conseguir a consulta.
É o medo de ficar sem o atendimento do qual necessita que faz com que pessoas como o aposentado Davino Matos, 61 anos, saiam ainda de madrugada em busca de fichas nas unidades de saúde. Na última quarta-feira, ele chegou por volta das 2h30min no Posto Oneyde de Carvalho, na Vila Lorenzi. Ainda assim, não foi o primeiro da fila. Em um banco de concreto e madeira, em meio à escuridão porque não há iluminação externa, ele esperou até às 7h, quando foram distribuídas as fichas e começaram as consultas.
-Se não vem nesse horário, não é atendido. Mas não tem luz, não tem banheiro para quem espera aqui, o matagal está invadindo. É preocupante - desabafa o aposentado.
Situação semelhante enfrentou, no mesmo dia, a serviços gerais Loeci Inês Kraemer de Moura, 50 anos, no posto de saúde Wilson Paulo Noal, em Camobi. Tudo o que ela queria era renovar uma receita para continuar tomando seus remédios psiquiátricos e para diabetes. Como a unidade exige que haja consulta com o médico, e sabe que a concorrência por fichas é grande, Loeci foi para a fila às 5h. Ainda assim, só conseguiu garantir atendimento para o turno da tarde.
- Há alguns dias, já não estou bem pela falta dos remédios. Por isso, queria garantir a renovação da receita ainda hoje. Vim cedo e, mesmo assim, por pouco não fiquei sem ficha. Essa insegurança é muito ruim porque a gente não pode ficar perdendo serviço toda hora para tentar ir ao médico - lamenta a serviços gerais.
Não são apenas os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) que sofrem com a situação.
- A demanda está cada vez maior. Trabalho aqui (Joy Bets), no Itararé, e em Santa Flora, no Mozzaquatro, e o problema se repete. Todo mundo trabalha estressado, e a população acaba saindo insatisfeita - diz o médico Sadi Dale Nogari.
Na Cohab Fernando Ferrari, o mesmo lugar que tem cartazes alertando sobre a restrição de serviços, outros problemas se somam à falta de médicos.
- Estamos em uma situação muito difícil. Atendemos uma população de cerca de 10 mil pessoas com quatro médicos. Na sexta-feira, funciona só a pediatria. Com essa estrutura, por enquanto, não estamos nem podendo ir às escolas vacinar contra o HPV - conta a responsável técnica pela unidade, Salete Scaramussa.
Mas segundo ela, isso não é o pior. Nos últimos anos, o local teve dois alagamentos e foi atingido por um raio que danificou a parte elétrica.
- Tem um lado da unidade que não tem eletricidade. Não temos condições de oferecer um bebedouro com água em um verão com temperatura de 45ºC nem mesmo ventilador. Na sala de vacinas, quando chove ou o dia"