plural

PLURAL: os textos de Neila Baldi e Noemy Bastos Aramburú

Do lado de cá
Neila Baldi 
Professora universitária

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Naquele 17 de abril de 2016, eu estava no teatro, no ensaio geral para Dez(s) Amores, que teria duas sessões. Enquanto ultimávamos o espetáculo, acompanhava a sessão na Câmara dos Deputados que culminaria com o golpe parlamentar contra Dilma Rousseff. Estava do lado esquerdo da força, na defesa de Dilma que, na finalização do golpe, em 31 de agosto, disse: "A história será implacável com eles, como já o foi em décadas passadas."

A história será implacável com aqueles e aquelas que apoiaram o golpe contra Dilma e seguem apoiando seus desdobramentos e sustentando o atual desgoverno. "O golpe é contra o povo e contra a Nação. O golpe é misógino. O golpe é homofóbico. O golpe é racista. É a imposição da cultura da intolerância, do preconceito, da violência", profetizou. E o que vivemos atualmente?

GOLPE

Como Dilma, sempre defenderei a democracia e, por isso, tenho me manifestado sobre o processo eleitoral para a reitoria da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Apesar de algumas pessoas escreverem aqui que a disputa era entre esquerda e direita, nunca o foi. A esquerda não compôs chapa. A direita se apresentou aos 45 minutos do segundo tempo, sem passar pela primeira etapa do processo. A situação tinha uma chapa. Poderíamos chamá-la de centro?

Infelizmente, assim como a contestação de Aécio Neves aos resultados das urnas de 2014, parte de ditos democratas e progressistas apostou no quanto pior melhor, desde que a atual gestão saísse, e se aliou à direita.

DEMOCRACIA

O que estava em jogo não eram candidaturas, mas a defesa da democracia - semelhante às eleições à prefeitura de Santa Maria, em 2020: colocaríamos um negacionista assumido no poder? Ou melhor, um golpista?

"Não vão matar em mim a esperança, porque eu sei que a democracia é o lado certo da história e isso, quem me ensinou, foi a história do meu país", disse Dilma em 18 de abril de 2016, sob a ameaça do golpe parlamentar.

Assim como ela, acredito que a democracia sempre será o lado certo da história e escolher alguém que não havia participado de todo o processo seria feri-la ainda mais - já combalida pela decisão judicial errônea que mandou a consulta não ser paritária.

Não seguir a escolha da comunidade acadêmica era consolidar, na UFSM, o golpe contra o povo, que tem se alastrado por todas as instituições da República (ainda estão funcionando?).

Ironicamente, 17 conselheiros e conselheiras pensaram diferente. Dezessete era o número daquele que ocupa a casa de vidro...

Hemingway pergunta: "Quem estará nas trincheiras ao teu lado? E isso importa? Mais do que a própria guerra." Eu sei quem estava do lado de cá. E a história será implacável com o lado de lá.

Pobre mulher

Noemy Bastos Aramburú
Advogada, administradora judicial, palestrante e doutora

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Desde os primórdios, vemos casais agindo, de modo reprovável em conjunto. No entanto, as consequências do ato são impostas apenas à mulher, que as assume sozinha, diante das motivações mais variadas, enquanto a figura masculina recebe proteção do "universo" para passar despercebido, inclusive, quando é o único autor, e ela, a vítima. 

A primeira mulher não escapou deste estigma. Mesmo Adão tendo comido do fruto proibido com Eva, há quem diga que foi ela quem o influenciou Adão a pecar. Ninguém ousou justificar que Eva era uma mulher do campo, desprovida de esperteza e, por isso, caiu nas falácias da serpente. Isso sem falar que, segundo a Bíblia, esta atitude reprovável, condenou as mulheres a sentir as dores do parto. Depois, temos a mulher adúltera descrita no livro bíblico de João, cuja personagem principal, a mulher, parece ter praticado o adultério sozinha, já que, embora tendo sido pega no ato, somente ela foi trazida a Jesus para ser acusada na frente de várias pessoas e, posteriormente, apedrejada. 

E o homem que também foi pego no ato? A famosa Guerra de Tróia também apresenta a mulher como causadora da guerra, já que foi o relacionamento extraconjugal da mulher - rainha de Esparta Helena, filha do deus Zeus -, com o príncipe de Tróia, Páris Alexandre, que "levou" o rei espartano Menelau, com homens de muitos povoados gregos, a guerrear contra Tróia. No entanto, as mortes causadas pela guerra jamais foram imputadas a Páris, a Menelau ou aos homens gregos que tomaram as dores do traído, mas à Helena.

Este estigma de mulher tentando ocultar ou assumir sozinha situações reprováveis não caiu em desuso, mas ultrapassou tempos e lugares, chegando a Brasília, mais, precisamente, na área dos prédios de apartamentos funcionais dos parlamentares, burlando, inclusive, a vigilância armada e os porteiros, que funcionam 24 horas por dia e sete dias da semana. Burlando, também, as 16 câmeras de segurança e as rondas ostensivas, com viaturas caracterizadas. 

Assim como Eva, a mulher adúltera da Bíblia e Helena sofreram especulações, Joice Hasselmann sofre. Entre elas, a de que teria sido agredida dentro de casa. O Jornal Nacional, no dia 27/07/2021, noticiou que a polícia legislativa teria concluído, através de perícia, após analisar as 16 câmeras de segurança do prédio onde vive a deputada, que ela não saiu do imóvel, de quinta, 15 de julho a terça-feira, 20 de julho, dia em que teria saído para o hospital. Além disso, não teria sido identificada a entrada de nenhuma pessoa estranha nesse período. 

Pergunto: se há especulações de violência doméstica, por que o marido ainda não foi ouvido? Por que ele ainda não passou por exame de corpo de delito? A cada dia que passa, as provas se perdem. Sexo forte, sexo frágil, mulher da Bíblia, mulher hebreia, mulher deputada. Todas têm algo em comum e atemporal. Todas sofrem especulações e, lamentavelmente,são criticadas pelas próprias parceiras.

 Pobres mulheres!

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