plural

PLURAL: os textos de Juliana Petermann e Eni Celidonio

Moreno e o mar
Juliana Petermann 
Professora universitária

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Demorei um ano para sair de casa e faço isso agora no momento mais crítico da pandemia? Explico (embora nem sei se preciso). Eu tive um bom motivo. Além disso, não me aglomerei, usei máscara n95 e fui em busca de uma praia vazia. Ainda que eu tenha saído de casa, conservei o isolamento social. Até mesmo pelo estado crítico em que nos encontramos e pela necessidade de nos cuidarmos visto que fomos abandonados à nossa própria sorte pelo Estado Brasileiro que se uniu ao vírus contra o povo. Somente a título de ilustração e de registro: na última semana, o presidente criticou, mais uma vez, o uso de máscaras e o isolamento social, medidas de segurança unânimes entre especialistas. Mas, enfim, diante de tanta desesperança eu quis encontrar algo bonito sobre o qual eu pudesse escrever aqui.

O MELHOR PRESENTE

Desde que meu filho nasceu eu lhe fiz a promessa de que ele não teria festa no seu primeiro aniversário - até mesmo por conta da pandemia - mas que eu lhe daria o melhor presente possível: o mar. Queria lhe apresentar o redondo do mundo, um lado para olhar que não se acaba. Não apenas diante do contraponto de termos vivido seu primeiro ano dentro de casa, convivendo com o malabarismo do home office, mas, em qualquer circunstância, conhecer o infinito não é pouca coisa. Galeano, no Livro dos Abraços, conta a história do menino Diego, que não conhecia o mar: "O pai, Santiago Kovakloff, levou-o para que descobrisse o mar. (...) E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: - Pai, me ensina a olhar!"

RECONHECENDO

Meu filho ainda não sabe falar mas riu da persistência das ondas. Estranhou a textura da areia misturada com a água. Precavido, levantou um dos pés e, como se quisesse salvá-lo, apoiou-o na canela formando um quatro. A posição usada para verificar a sobriedade e o equilíbrio dos adultos, serviu como solução para quem ainda nem sabe ficar de pé sozinho. Uma onda mais forte e inevitavelmente pôde provar: aquele tanto de água tem o mesmo sabor do seu jantar. Desde que identificou essa semelhança, volta e meia, a língua ia aos lábios para confirmar: é realmente salgado. Diante daquela mágica toda, bateu o queixo, num misto de frio, medo e encanto. Ao chegar na areia fofa, ao seu modo, pediu para voltar para a água. Em seu primeiro ano, seu mundo foi nossa casa. Agora, viu a beleza de saber-se pequeno diante da vastidão do mar.

Vacina
Eni Celidonio 
Professora universitária

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E começou a loucura das vacinas em Pindorama!

Temos de tudo: pessoas tomando vacina de vento, pessoas tomando vacina sem estar na linha de frente, uma verdadeira efeméride!

Por mais que repitam o "você gosta de levar vantagem em tudo, certo?", parece que o brasileiro custa a acreditar nisso, de tão torpe que isso é, mas é... Eu lembro de uma enchente em Santa Catarina, que doaram toneladas de roupas e gêneros alimentícios para ajudar os desabrigados e alguém pegou tudo e saiu vendendo por lá. Isso é o pior do ser humano: tirar vantagem com o sofrimento alheio. Vocês não viram agora, na enchente do Acre, que as pessoas ficavam em casa com água pelo pescoço, porque se fossem embora, roubavam o pouco que tinham?

Nem falo de situações que presenciei em vários momentos. Exemplifico: vocês sabiam que os banheiros do Centro de Educação da UFSM têm cadeado no papel higiênico? Eu fotografei para me convencer. Lá se formam formadores! FORMADORES! São pessoas a quem entregamos nossos filhos, netos, para se tornarem pessoas melhores...

Quando quebrei meu tornozelo, depois que tirei o gesso, fazia fisioterapia numa clínica aqui na Olavo Bilac e não tinha chinelo para usar, sabem por quê? Roubavam, quantos colocavam lá, quantos sumiam. E pasmem, só atendia particular e convênios!

Lembro de uma criança que brincava com uns brinquedinhos que uma marca de iogurte trazia como brinde, e eu perguntei quantos iogurtes ele tinha que comer pra ter tantos brinquedinhos daqueles e ele, naquela inocência das crianças respondeu: "nenhum, meu pai tira esses brindes da embalagem pra mim!", gente, sério, como essa criança vai agir honestamente se o pai dá esse exemplo?

Eu poderia ficar aqui dando exemplos e mais exemplos, mas vou me deter na vacina contra a Covid19. A campanha de vacinação começou e meu Facebook se encheu de comentários dos mais variados. Todos, sem exceção, falavam de pessoas que não estavam na linha de frente, mas que tomaram a vacina assim mesmo. Ora, os profissionais da saúde tinham preferência? Então é comigo, pois sou veterinário, trato de saúde; ou sou formada em medicina há quarenta anos, nunca exerci, pois sou dondoca, mas o que vale é meu diploma. Que se dane se seu tio que tem mais de oitenta anos, é cardíaco e diabético; que se lixe sua avó que mora numa casa de repouso. A regra é clara, Arnaldo: profissionais de saúde, não exemplifica quais, e eu tenho diploma! Está certo, está errado? É ilegal? Não... É imoral.

Lendo José Vitor Castiel na ZH, ele falava de duas dondocas porto-alegrenses no Supermercado, discutindo o preço exorbitante do queijo, quando uma delas respondeu: "Compra quem pode, e eu posso"! Esse é o raciocínio.

Iara Druzian estava indignada semana passada. Postou que estava vendo cada postagem no Facebook que ela teria vergonha de postar: "pessoas cheias de vida, que

tiram férias na praia, se aglomeram e se valem de um diploma para usufruir da vacina. Quem disse que a pandemia nos faria pessoas melhores? Quem disse"?

Amada, a vacina é contra Covid19... Ainda não inventaram vacina contra mau-caratismo!


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