Neila BaldiProfessora universitária
Eu caminhava pelos corredores da UFSM quando avistei uma aluna chorando. Parei para conversar com ela. Disse-me que seria reprovada em uma disciplina por chegar atrasada. Comigo também se atrasava e havia me explicado o motivo na primeira aula: levava o filho para a escolinha e, depois, vinha para universidade. O atraso era em torno de 15 minutos, às vezes, um pouco mais. Eu não a reprovei por falta.Não quero dizer que os primeiros 15 minutos de uma aula sejam irrelevantes, mas gostaria que a instituição pensasse sobre a relevância que é uma mulher, mãe e trabalhadora, concluir uma graduação, muitas vezes, sem rede de apoio.
Sem respaldo
Tentei acalmá-la e, depois, fui à Pró-Reitoria de Graduação (Prograd). Lá, fui informada que só existe amparo para gestantes. Minha aluna teria que solicitar, com comprovação de que a escola do filho era do outro lado da cidade, onde reside, ao Colegiado do Curso, alguma medida que a protegesse para não ser reprovada por faltas. Ela desistiu do curso. Assim como ela, quantas mães desistem de estudar?Atualmente, tenho em sala de aula uma estudante grávida. Ela me disse que, no curso anterior, quando estava em licença-maternidade, durante o semestre letivo, realizou exercícios domiciliares. Fiquei pensando: quando uma mulher está amamentando, com uma criança recém-nascida, não há hora para dormir, há um dispêndio de energia enorme e no meio das fraldas e mamadas ela tem que encontrar tempo para realizar as tarefas da graduação. Se, no emprego, ela tem licença, de fato, por que não na universidade?
Debate necessário
Recentemente, a UFSM aprovou a Política de Igualdade de Gênero e criou o Comitê de Igualdade de Gênero. Penso que a questão da maternidade, entre as discentes (e docentes) seja um dos temas a serem abordados por este comitê.Atenta a essa realidade, a Universidade Federal Fluminense (UFF) passou a promover, a partir de 2019, uma série de iniciativas direcionadas às estudantes que são mães: a sensibilização quanto ao acolhimento delas e de suas crianças dentro da universidade – implantando, inclusive, fraldários -; o acesso e a manutenção nos programas institucionais de bolsas; a flexibilização de trâmites; o acompanhamento das taxas de retenção e evasão e o mapeamento da saúde mental. Outras instituições têm iniciativas semelhantes.
Está na hora da UFSM debater o tema com profundidade, trazendo-o para os conselhos superiores. É preciso realizar pesquisas que tracem o perfil e as necessidades dessas mães, conceber bonificação a essas mulheres em editais de seleção e de fomento a projetos, entre outras medidas, para que elas não mais abandonem os cursos porque não foram acolhidas.
Leia o texto de Odilon Marcuzzo do Canto