plural

PLURAL: duas opiniões diferentes no mesmo espaço

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Democracia corroída por dentro

Neila Baldi 
Professora universitária


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No segundo turno das eleições de 2018, a jornalista Patrícia Campos Mello denunciou em matéria na Folha de São Paulo uma rede de disparo de fake news. Na semana passada, o ministro Alexandre de Moraes autorizou que a Polícia Federal fizesse buscas e apreensões a investigados em um inquérito sobre fake news, o que gerou protestos do chefe do executivo federal e seus apoiadores.

O escritor Yuval Noah Harari diz, em 21 lições para o século 21, que as fake news sempre existiram. O problema, na atualidade, é a velocidade de propagação e o alcance. É isso que faz com que esta prática, além de criminosa, seja um atentado à democracia brasileira. Isso por que 59% dos(as) brasileiros(as) acessam a internet pelo celular e a franquia limitada de dados faz com que haja concentração de acesso a informações pelo Whataspp, sem checagem. Imagina você ser bombardeado(a) com notícias falsas e que estes links venham de pessoas nas quais você confia. Isso se torna uma espécie de "lavagem cerebral" e você passa a desconfiar das notícias verdadeiras.

E por que isso é nocivo para a democracia? Porque os ataques às instituições, por meio de notícias falsas, faz com que as pessoas não acreditem mais nelas. Se a imprensa só mente, para que imprensa livre? Se o STF e o Congresso Nacional são corruptos, por que mantê-los? Isso se torna mais grave quando o mandatário do país apoia e divulga fake news. E, ao que parece - como denunciado pelo movimento #EleNão, em 2018 - de forma deliberada para a corrosão da democracia e a implantação de um projeto autoritário.

Guerra cultural

As fake news fazem parte do que o professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), João Cezar de Castro Rocha, chama de "guerra cultural bolsonarista", cujas pontas de lança são a destruição das instituições e a eliminação simbólica do inimigo. E é esta guerra que torna palatável este projeto autoritário para pessoas que nunca pensaram em abolir o Congresso ou o STF. A rede de fake news fez uma espécie de "lavagem cerebral" nestas pessoas, que só acreditam no "mito".

 Investigação

Mas, além das buscas e apreensões, o ministro Alexandre de Moraes solicitou que os sigilos bancários e telefônicos dos investigados fossem quebrados desde o período eleitoral. Ou seja, poderemos descobrir aquilo que a jornalista denunciou em 2018. Há quanto tempo a democracia está sendo corroída por eas redes? Quem defende fake news, sob o pretexto de liberdade de expressão, defende um crime, a corrosão da democracia e, com isso, a implantação de um projeto autoritário.

Quem matou Odete Roitman?

Noemy Bastos Aramburú
Advogada, administradora judicial, palestrante e doutora


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O Natal de 1988 foi especial, na véspera foi ao ar o capítulo 193 da novela Vale Tudo, onde foi desvendado quem matou Odete Roitman. O Brasil parou, restaurantes vazios até o desfecho, e, quando os clientes chegaram, o assunto não era o Natal, mas a autora do assassinato, a "boazinha" Leila (Cassia Kiss) que matara a Roitman (Beatriz Segall).

Entretanto, o assassinato misterioso não superou o Ibope da novela Roque Santeiro, em 1986, que satirizava o momento político, cujo índice de 99 pontos, mantém-se imbatível. Hoje, essas novelas alcançariam o mesmo sucesso? Não. A curiosidade é a mesma, e a política continua a ser satirizada. Então, o que mudou? Basta ver o sucesso da Netflix: não se justifica pela qualidade, pois as séries são as mesmas que os canais de TV apresentam. Então, o que realmente mudou?

Modernidade líquida

Zygmunt Bauman, sociólogo e filósofo polonês, apresenta a teoria da modernidade líquida - os tempos em que vivemos, apresentam relações frágeis, fugazes e maleáveis, e, pela volatilidade, vieram a desorganizar todas as esferas da vida social, cultural, política, econômica, amorosa, cultural, de trabalho, política e etc. Nessa liquidez, também perdemos o respeito por nossos pais, professores, autoridades e, por que não dizer, pela vida?! Queremos ser respeitados, entretanto, esquecemos de plantar respeito. Voltaire já dizia "Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las".

Santa Maria sem pichações

Este desrespeito tem trazido problemas sociais de diferentes níveis e localizações. Por exemplo, em Paris, a imprensa divulgou a pichação ocorrida no Arco do Triunfo, protesto dos "coletes amarelos". Nosso Diário, no dia 17 de janeiro, publicou uma reportagem a respeito, informando a criação de uma página do Facebook chamada "Santa Maria Sem Pichações". Para o autor da produção artística, sua atitude é justificada como manifestação de sua arte ou de seu desconforto, porém, esquece-se de que, este comportamento, para o proprietário daquele imóvel pichado, trata-se de desrespeito, porque não autorizou a pichação.

Se eu quero expressar minha cultura, minha discordância com algo ou alguém, faço pelo caminho mais fácil, mais rápido, mesmo burlando aprendizados, comportamentos sociais e até legais, já que eu tenho o direito de me expressar. Hoje, não temos mais tempo para esperar o desvendar de quem matou Odete Roitman, porque não interessa mais quem matou, aliás, se matou, deve ter tido seus motivos. E, pensando bem, eu não posso me queimar, quem morreu morreu, eu tenho que ficar com os que sobrevivem. Mas e se eu fosse a Odete Roitman?

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