Um dia o tempo passa e percebemos que somos tanto o outro que quase não nos reconhecemos. Há tanto do outro em nós. Há tanto que guardamos em nós. Há tanto silenciado em nós. Há tanto, que às vezes transborda e, não conseguimos deixar seguir, não conseguimos diferenciar o que é nosso e o que é o outro e, somatizamos.
Somos indivíduos que deveríamos preservar nossas características e subjetividades mesmo diante do convívio em pares. Por que será que cedemos tanto em nome das relações? Seria por amor? Quantas vezes acreditamos que precisávamos passar por determinadas situações, mesmo que não as entendêssemos? Quantas vezes simplesmente aceitamos, mesmo que nos prejudicando, que esta seria a história de nossas vidas e, assim, deveríamos vivê-la? Será???
Quantas relações abusivas tivemos à nossa volta nos círculos familiares e de amizades que sequer tiveram a coragem ou forças para darem um basta? Seria em nome de uma tradição? Seria em nome de uma equivocada “pseudo moral”? Quantas mulheres anularam suas vidas e suportaram humilhações e assédios físicos e morais porque não sabiam a força que tinham para seguirem em frente, recomeçando suas vidas? Quantas perderam suas próprias vidas? Quando fazemos um panorama sobre as relações duradouras do passado, devemos lembrar o quão submissas eram as mulheres em seus relacionamentos e, o quanto sofriam caladas. Não precisamos voltar tanto assim no tempo não, ainda temos muitas relações com esses perfis à nossa volta.
Sou a favor das relações respeitosas em que ambos participem da construção do chamado eixo familiar. Boa parte das famílias, pais e mães, trabalham fora de casa, mas mesmo assim, os compromissos com o lar e com o cuidado e educação dos filhos, é de competência de ambos. Infelizmente ainda vemos homens querendo se eximir de todo o envolvimento familiar porque simplesmente “trabalham”. Onde será que está o erro nisso tudo? Será que ficou arquivado na memória “RAM” das suas educações que tiveram na infância, que apenas as mulheres cuidam do lar e dos filhos e, mesmo assim trabalham fora? Oi??? Seria apenas isso?
Se for este um dos motivos pelas quais vemos tantos abusos nas relações familiares, está na hora de cuidarmos mais sobre o que ensinamos para nossos filhos, sobre os exemplos que damos. Os filhos devem aprender desde cedo o valor do trabalho que dá cuidar de um lar e de toda família. São ações pequenas como derrubou juntou, sujou limpou, usou guardou que farão a diferença na fase adulta. A palavrinha mágica chamada “educação” com limites é ensinada de forma participativa e com bons exemplos. Família é equipe, onde cada um exerce a sua função de acordo com suas idades, mas todos são responsáveis por tudo dentro de suas competências, a começar pelo espaço físico.
O exercício da empatia é conquistado nas pequenas ações diárias. Uma sociedade mais igualitária, mais justa, menos violenta e mais respeitosa, começa com exemplos de quem gerência a educação dos filhos, para que quando eles tiverem autonomia de constituírem suas próprias famílias, não cometam atrocidades e abusos em suas relações. Sempre devemos lutar pela família e exercer o perdão, desde que ambos estejam comprometidos ao exercício do zelo, do respeito, da empatia, do amor, da conquista diária e da cumplicidade.
No momento em que uma relação se torna abusiva e, isto vira rotina, é necessário ter lucidez e coragem para tomadas de decisões e, sim, denunciar!!! O tanto que somos o outro, nos deixa tão confusos que parece que merecemos esse tipo de relação e, acabamos cedendo, mas daí o ato de ceder é uma porta para o que era abusivo se tornar uma ameaça quanto a sua integridade física e mental. Mas onde buscar coragem? Onde buscar forças? Como vou começar tudo novamente? Dediquei quase uma vida inteira e o que farei se sair desta relação? O que os outros vão falar??? São tantas perguntas que acabamos desistindo de nós mesmas e acabamos suportando.
Nada disso!!! A sua vida é importante! A sua integridade é importante! A sua segurança é importante! Tenha fé em Deus e acredite na força que habita em você. Creia!!! Nada justifica o abuso moral e/ou físico numa relação. O respeito tem que habitar em cada milésimo de segundo do dia numa relação familiar. Saber falar e saber escutar. Perdoar quando for necessário, mas quando você tenta com todas as suas forças e de nada adianta, é hora de olhar para dentro de si e se perguntar: “é essa a vida que quero para mim? Se lembrarmos que temos uma única vida e, que devemos preservá-la e viver coerentemente com dignidade, aceitaremos que todos os dias nossas escolhas podem mudar nossas vidas, tendo a chance de recomeçar a cada amanhecer. Lembre sempre que a sua vida importa para Deus, importa para você, mas também importa para mim e para todos que estão a sua volta!!! Tenha coragem!
Perdoar é preciso, mas seguir em frente, é renascer!!!