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OPINIÃO: Viagem por meio da leitura

Anny Desconzi

Minha mãe sempre conta sobre a sua infância e pré-adolescência, que foi num local chamado Parada Borges. Mesmo frequentando a escola primária em São Sepé, suas férias eram naquela localidade. Filha de ferroviário, seu pai foi destacado para ser chefe da pela estação que servia a estância de Antônio Gonçalves Borges, daí o nome, que era tio do ex-governador do Estado, Borges de Medeiros. Situava-se entre os arroios do Vacacaí e do Só, hoje município de Restinga Seca. 

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A localidade só tinha movimento quando da passagem do trem, dia em que o chefe da estação e seus familiares colocavam as suas melhores roupas à espera do trem, oportunidade de ver pessoas importantes, bem-vestidas que viam da Capital. Também em decorrência das paradas do trem, na localidade trocavam-se alimentos da colônia por revista velhas, já substituídas nos vagões de luxo por novas e, através delas, tinha-se conhecimento de um mundo totalmente diferente, ainda mais para uma criança de oito anos.

 Pela falta de opções, numa localidade sem luz elétrica, comida feita em fogão à lenha, a noite com a luz de um lampião era o momento de deixar os problemas, as dificuldades, as carências do dia a dia e viajar para um mundo novo, aquele que as revistas e livros mostravam, em lugares como Rio de Janeiro, Nova York, Londres, Paris e muitos outros. Foi através dessas revistas que ela conheceu personalidades como Getúlio Vargas, a rainha da Inglaterra, Evita e os jogadores que participaram da primeira Copa do Mundo no Brasil. Conheceu, também, a primeira televisão, a máquina de lavar roupa e outros eletrodomésticos, mas o que mais impressionou a essa menina foi saber que sua estória preferida tinha ido para o cinema: Cinderela.

Viajar por esse mundo das palavras e da fantasia era o momento de maior alegria. Ter uma revista ou um livro nas mãos, era o momento único, de descobrir novos lugares, formar novos conceitos e desenvolver novas paixões. 

Atualmente, com tantas opções tecnológicas, parece estranho uma pessoa ficar horas concentrada na leitura de um livro. Porém, devemos, como pais e educadores, sempre que possível, incentivar a leitura de livros, revistas, periódicos, pois o contato com a leitura, por mais simples que seja, enriquece o conhecimento, desenvolve a criatividade e a imaginação, além de afastar as preocupações do dia, não apenas no momento em que estamos lendo. Mas, também, naqueles momentos que precedem a continuação da leitura, levando-nos a imaginar como se desenrolará a estória, bem como em momento posterior, muitos dias após o término da leitura, quando fatos ocorridos em nosso cotidiano nos levam a relembrar momentos da leitura.

Através da aventura no universo da leitura e da imaginação, podemos fazer e ser tudo o que quisermos, ir a todos os lugares imagináveis. Contudo, como a imaginação não representa a realidade, mas, uma possibilidade futura, exige que estejamos certos do que queremos e busquemos os meios para alcançar nossos sonhados projetos. 

O futuro não é real, ele é a projeção da nossa imaginação. Por isso, devemos, sim, sonhar e viajar, sem nunca nos afastarmos da realidade, pois é sobre ela que construiremos o futuro, transformando o nosso mundo imaginário em uma realidade. No entanto, isso só acontecerá com quem se der a chance, de ler e de sonhar. Já dizia Charles Chaplin: “Nosso cérebro é o melhor brinquedo já criado: nele se encontram todos os segredos, inclusive o da felicidade”. Quem sabe, a leitura, que é um dos meios que nos levam à felicidade, não possa nos levar ao sonho futuro, nos ajudando a transformá-lo em realidade.


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