Artigo

OPINIÃO: Todos juntos, reunidos

Eros Roberto Grau

O poeta Paulo Bonfim, meu amigo, contou-me uma história formidável. Louis Blanc, fugido da França, esteve com Venâncio Aires na faculdade de Direito hoje da USP – as velhas Arcadas do Largo de São Francisco –, em São Paulo. Encontraram-se na Bucha... A Bucha era – ainda será, quem sabe! – uma sociedade secreta fundada na década de 1830 por Julius Frank, alemão que, por conta de encrencas em que se envolvera quando estudante em Göttingen, mandou-se para o Brasil.

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Quem entrar nas Arcadas pela porta da frente verá, à esquerda, naquele pequeno pátio, um obelisco cercado de tochas em cantaria e bronzes, com uma placa, escrita em latim, dando conta de que ali está enterrado Julius Frank. Professor do curso preparatório para ingresso na faculdade – o então chamado Curso Anexo – morreu em 1841.

Lá permanece seu corpo, envolto em mistério e respeito. Ensinava história e geografia e criou a Burschenschaft (fraternidade de estudantes). Muitos bucheiros – como eram chamados – alunos da faculdade, no correr do tempo, transformaram-se em notáveis figuras políticas e magistrados. Dizia-se que, para ser catedrático do Largo de São Francisco, o sujeito haveria de ter sido membro da Bucha. Louis Blanc e Venâncio Aires – assegura-me o Paulo – teriam confabulado, não sei a propósito do quê.

Venâncio Aires, paulista de Itapetininga, foi-se para o Rio Grande do Sul, participando da fundação do Partido Republicano Riograndense, depois influenciando o pensamento político de Júlio de Castilhos e Pinheiro Machado. Conta-se que o senador Pinheiro Machado, também formado em Direito na velha e sempre nova Academia do Largo de São Francisco, ao sair do prédio do Senado, no início do século passado, esteve prestes a ser agredido por um grupo de opositores que o apupava, ordenando, então, ao condutor do coche que dali o levaria, que seguisse “não tão devagar que pareça afronta, nem tão depressa que pareça medo”. Pinheiro Machado morreu tragicamente, apunhalado pelas costas no Rio de Janeiro, no Hotel dos Estrangeiros, no dia 8 de setembro de 1915.

A serviço de quem estaria Manso de Paiva, o assassino? Desejo, contudo, esquecer as tragédias, fazer de conta que estamos naquele jardim da Nara Leão, um jardim que se chamava Terra, onde o amor espalhava toda claridade e ninguém se lembrava de fazer a guerra. Acalentar memórias que emocionam. Uma noite, março de 64, no Zicartola, Rio de Janeiro, um dia após o comício da Central. Nara, Oduvaldo Viana Filho, outros amigos e eu naquela mesa! Alguns deles ainda encontro por aqui. Narinha e Oduvaldo hão de estar junto a quem os gaúchos do campo chamam de Patrão velho, lá no céu! Tudo chunto reunido – como no time de bolão dos 3 Xirus!

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