Artigo

OPINIÃO: Passeando pelo passado

Eros Roberto Grau

Retorno ao passado, tempo em que André Breton, colega de Anita Malfatti, teria estudado na Escola Americana, em São Paulo, onde fiz o quinto ano primário. Não encontro nenhuma pista desse fato. Sei disso, disseram-me, li. Não sei onde, mas li. Há instantes nos quais realidade e fantasia superpõem-se, como se derramássemos um copo de água em uma jarra de água pura, percebem? Não sei nada, nunca soube nada. Lá me vou, não sei por onde. Escrevendo sem rumo, totalmente. Pela frente, para trás, pelos lados. 

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Li, recentemente, na internet, um texto afirmando que algumas das pequenas luas de Plutão são loucas, duas delas girando caoticamente em torno de si mesmas, dos seus próprios eixos. O autor, Salvador Nogueira, afirma que seria impossível prevermos, se estivéssemos lá, quando e em qual direção o Sol cada dia nasce e se põe. Daí que, nessas luas, um dia jamais será igual ao outro. Tal como aqui, segundo Nelson Motta, em uma canção que compôs com Lulu Santos: “Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia”. 

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Nelsinho Motta é neto do professor Candido Motta Filho, que, um dia, nos anos 60, encontrei em um corredor da Faculdade de Direito, no Largo de São Francisco. Seu avô participou da Semana de Arte Moderna de 1922 e, mais adiante, ao lado de Cassiano Ricardo e Menotti del Picchia, do Movimento Verde-Amarelo. Tenho em minhas mãos, agora, seu Dias lidos e vividos e releio um trecho em que ele fala de sua amizade com Augusto Meyer.  

Uma coisa puxa a outra, bah! Augusto Meyer ficou extremamente surpreso quando, no dia em que nos conhecemos, contei-lhe que era parente, em grau distante (sem trocadilho!), do Sotero Cosme. Mencionei o nome da rua onde viveram, em Porto Alegre, o velho Cosme e dona Ana, tia de meu pai – Rua Dr. Valle – e ele sorriu. 

Revisito um episódio de quando eu tinha sete anos. O pai e eu passeando pelo Rio de Janeiro, encontramos o Sotero, seu primo torto, na Cinelândia. Tia Ana enviuvara e casara com o velho Cosme, viúvo, pai do Sotero e do Luís. Júlio Grau, nosso primo de verdade, era filho do seu primeiro casamento. Nessa tarde, meu pai perguntou-lhe como era a vida na Europa, e ele respondeu dizendo que preferia morrer de bomba atômica por lá do que de velhice no Brasil! Jamais esqueci essa tarde... 

Meu pai contava que, em seu apartamento, no Rio, havia um nu de sua mulher desenhado a bico de pena. Sotero Cosme, além de violinista, era um desenhista notável. Cônsul do Brasil em Florença, Nova Iorque e Paris, depois em Nice, se bem me lembro. Morreu em 1978, em Paris, seu corpo ficando por lá, derramado no cemitério de Montmartre. O Rio na minha infância – não da minha infância – é um pouco esse nosso encontro na Cinelândia. 

Memórias como essa são, para mim, como se eu o escalasse e depois deslizasse desde a ponta do arco-íris! 

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