Artigo

OPINIÃO: Mitos sobre a (in)eficiência do setor público 

Antônio Cândido Ribeiro

Quem é funcionário público em nosso país sabe bem, somos – servidores e serviço público – responsabilizados pelas mazelas e descaminhos do Estado brasileiro, desde o suposto e não verdadeiro déficit da previdência até a falta de recursos para investimentos nas áreas fundamentais para o desenvolvimento do país. 

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Constituímo-nos, na visão difundida, em uma casta de privilegiados que se esbaldam com o leite farto das grandes tetas do Erário. Sobre nós recaem a ira de boa parte do empresariado – nos consideram despreparados, ineficientes e, via de regra, corruptos – e a contundente crítica da grande mídia, que, por interesses muito particulares, dá curso ao ideário ideológico de um estado mínimo e não-regulador. 

Sempre que se abrem espaços noticiosos para a má qualidade do serviço público, me vêm à cabeça as cogitações do parágrafo inicial e os dados resultantes de um já “antigo” estudo do respeitado IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) sobre “Produtividade na Administração Pública Brasileira: Trajetória Recente” (de escassa repercussão midiática), divulgado em 2009, que concluiu ser a administração pública mais produtiva que o setor privado. Avaliando o desempenho da produtividade dos dois setores, entre 1995 e 2006, a conclusão foi: “em todos os anos pesquisados, a produtividade da administração pública foi maior do que a registrada no setor privado”. Falaciosa, portanto, a alegada ineficiência geral do serviço público.  

Entre os motivos apontados para justificar o aumento de produtividade na área pública, destacam-se as inovações (principalmente àquelas ligadas às áreas tecnológicas que envolvem informática), os processos mais eficientes de licitação, a certificação digital e a renovação do serviço público por meio de concursos. Claro, alguém dirá: “Ora, esse IPEA é uma fundação pública federal!” Sim, e daí? – pergunto. Os estudos do IPEA só valem quando mostram a incompetência e outras facetas negativas da Administração Pública ou a excelência das atividades empresariais?

No afã de agradar o capital financeiro, que se farta, ele sim, de mamar nas tetas do Erário e, por tabela, de sugar o trabalho e o esforço de cada cidadão brasileiro, os governantes com apoio do Congresso, repetidamente, implementam políticas destinadas à desestruturação da máquina pública e à penalização dos servidores. Aliás, nesse mister, a atual gestão federal tem sido espantosamente pródiga, como não acontecia, não com tamanha virulência, desde o governo do presidente sociólogo.                    

Enquanto gestam seus pacotes de maldades para agradar o grande capital financeiro, empresários corruptos e sonegadores contumazes, os atuais ocupantes do Planalto enfrentam os mais baixos índices de popularidade e aprovação e nossos congressistas padecem da mais baixa taxa de credibilidade já atribuída a governantes e parlamentares brasileiros. Mas não deixam de saquear o Tesouro Nacional, comprando e vendendo votos e favores, ora sob o pálio da excrescência chamada “emendas parlamentares”, ora simplesmente para enriquecimento próprio e de apaniguados.

Se o serviço público fosse ineficiente, como querem uns e outros, com tanto e tão deslavados saques, as burras nacionais, há muito, teriam ido para o beleléu. 


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