As crises têm transmitido doloridas lições para todos nós, dentre as quais a noção de que recursos públicos não são infinitos e também entram em colapso por aqui e alhures. E elas costumam ser cíclicas, de tempos em tempos acontecem em algum lugar com reflexos espalhados.
Nas últimas décadas, diversas nações passaram por grandes tribulações, atingindo previdência pública, salários de servidores e outros compromissos básicos e permanentes da estrutura estatal. No Brasil existem dificuldades financeiras nas três esferas da Federação: União, Estados e municípios. Nalguns, com atrasos nos salários dos servidores e carência de recursos em áreas básicas dos serviços à população.
Quando pagar os juros e rolar a dívida consome cerca de 40% de tudo o que a União arrecada, certamente este é um fator da carência de recursos em outras áreas. Mas, não é somente ele.
Na administração pública, quando os tempos são favoráveis e a renda cresce, há demandas permanentes que são atendidas: salários e outras despesas fixas aumentam no momento e para todo o futuro. Quando cai a arrecadação, os gastos que antes subiram, não diminuem e o recurso falta.
As crises devem nos ensinar a ser mais severos na seleção de prioridades e na contenção do gasto supérfluo. Todo o cidadão e, em especial, quem esteja na máquina pública, deve se tornar vigilante com o gasto desnecessário ou menos importante. Sempre haverá espaço para gastar melhor. Quanta coisa desnecessária é paga com recursos públicos! Aprendemos a tratá-los como não sendo nossos.
É sua falta que nos está ensinando que não podem ser desperdiçados. Até mesmo a conduta dos sindicatos e movimentos de servidores públicos deveria mudar ou, pelo menos, serem cobrados por seus associados: desde sempre reivindicam mais admissões como fonte de renda associativa e massa para movimentos; ora, quanto mais pessoas numa categoria do serviço público, mais difíceis serão aumentos salariais e mais presentes os riscos de salários atrasados. A nova atitude deveria ser: são mesmo necessários mais servidores nesta categoria ou se pode resolver com os que temos?
Devemos cobrar severamente dos “outros Poderes” que se acham donos de uma parte orçamentária para o que bem entenderem como se estivessem noutro mundo, não fossem parte desta população e país. O auxílio moradia de Judiciário e Ministério Público com pagamento de polpudos atrasados está aí em plena crise. Quem sabe os cidadãos, a mídia, os debates incluem nas próximas campanhas eleitorais um convite a que candidatos aos legislativos federal, estaduais e municipais se manifestem sobre o que vão cortar nas custosas máquinas legislativas? Diminuir assessores, verbas de gabinete e outras despesas? Confesso que, como eleitor, procurei nos últimos pleitos candidato que tivesse compromisso nessa área e não encontrei. Mas, se formos muitos a cobrar, quem sabe não conseguiremos alguns!