Artigo

OPINIÃO: Éramos felizes e sabíamos 

Gilson Piber

Não sei porque, mas hoje lembrei de um amigo e colega que cursava Publicidade e Propaganda na UFSM, no final dos anos 80. Creio que foi por ouvir “Boys don´t cry”, do The Cure, e me recordar, também, do disco vinil de capa preta do Lobão, que tinha, entre outras músicas, “Vida louca vida”, “Vida bandida” e “Rádio blá”, numa fase ainda progressista do cantor.

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Aliás, como o curso de Comunicação Social da UFSM tinha, na época, três habilitações - Jornalismo, Publicidade e Propaganda, e Relações Públicas - nossos estudos contemplavam dois anos de básico e mais dois de capacitação específica. Então, nossas experiências eram compartilhadas diariamente no prédio 21. Na boa e na ruim. Contamos com luzes de Marcelo Canellas, Luiz Antônio Araújo, Marcos Kirst, Júlio Quadros, entre outros (as) que marcaram trajetória no curso.

A sexta-feira era sagrada na boate do DCE. Claro, havia um “aquecimento” no apartamento de um colega localizado na Rua Floriano Peixoto. Certa vez, uma festa causou perturbação no prédio, mas tudo foi resolvido depois das quatro e meia da madrugada. 

Quando o dinheiro dava, comprávamos um garrafão de vinho tinto, numa casa especializada na Avenida Medianeira. O líquido liberava as tensões e gerava coragem para chegarmos em algumas colegas e amigas de outros cursos ou, simplesmente, encararmos a noite mais alegres. Bebíamos para descontrair. O dinheiro era curto e precisava sobrar algum para garantir um cachorro-quente na saída da boate, lá pelas cinco e meia da madrugada.

A boate do DCE quase sempre estava lotada e ir de uma ponta a outra era missão das mais difíceis, mas valia a pena. Mesmo que as pernas, vez por outra, fraquejavam, os amigos auxiliavam no deslocamento, ora como apoio, ora para garantir a segurança do colega. O toca Raul era a chamada da noite. “Tenha fé em Deus, tenha fé na vida”. Ou “os bichos escrotos” tomavam conta do local. Mudar o mundo, claro, para melhor, sempre era uma meta, mesmo daqueles que nos antecederam na caminhada.

Não poderia faltar a recordação dos almoços no Restaurante Universitário, ainda com bandejão. “Tia, coloca mais um pouco de carne, arroz e feijão”. Ainda tinha o famoso quer trocar “a banana pelo copo de leite?”. Sensacional.

Na rota dos congressos, passagens por Piracicaba (SP), Vitória (ES) e Porto Alegre (RS). Legal era a integração com as (os) colegas de outros estados. Interiorano, vi Sexta-feira 13, parte 6, num cinema de Piracicaba, ao lado de uma simpática paraibana de nome Bartira. Confesso, Jason me assustou. 

Creio que tivemos êxito como universitários, mas pecamos pela ingenuidade. Não lembro de termos pensado em propostas para ganhar dinheiro nem tomar o poder. Muito menos para dominar a cidade, o Estado e o País. Afinal, o pós-ditadura era muito marcante e as “diretas já” foram sufocadas, apesar do grande movimento nas principais cidades do país.

De qualquer forma, depois da formatura da nossa turma, no fim de janeiro de 1990, num final de tarde quente, no Hotel Itaimbé, sem toga nem outros adereços, cada um seguiu o seu caminho em jornais, rádios, emissoras de TV, agências e órgãos do serviço público. 

Fomos felizes, aliás, muito felizes. Passados alguns anos, a lamentar com profundo pesar, a partida precoce dos jornalistas Sandro Schreiner e Gilberto Bombardieri, e do publicitário Gerson Amorim. Afinal, o tempo passou. Restaram as lembranças e os encontros eventuais. 


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