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OPINIÃO: Convém conversar

Péricles Lamartine da Costa

A democracia, como concebida e conceituada, tem no diálogo seu elemento mais significativo, ao passo que ele é a materialização da capacidade de raciocínio e ponderação dos indivíduos que compõem uma coletividade. Representa, em verdade, o triunfo da inteligência humana subjugando a força bruta primitiva e, mais contemporaneamente, a arbitrariedade. 

Pressupõe o regime, crendo na dita inteligência, que a representatividade leve em conta, ou considere no máximo grau possível, o entendimento maioritário de uma nação.

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A tarefa de desdenhar do atual status democrático brasileiro, imputando à classe politiqueira (é sempre oportuno diferenciar agentes políticos de agentes politiqueiros) os desvirtuamentos dos papéis a que deveriam se prestar os poderes da república, é exercício de modismo cômodo, até leviano, mas não inócuo. Pelo contrário, redunda em postura irresponsável, determinante em intensidade infinitamente superior ao que possamos imaginar.

Exemplo claro do que refiro, as velozes reformas estruturais emanadas do Congresso Nacional que têm fomentado, novamente, acaloradas discussões entre diversos setores da sociedade.  

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Ora, quantas versões, opiniões, dados, manifestações, críticas, elogios e tudo o quanto parecido possa existir, o senhor e a senhora ouviram a propósito, por exemplo, da reforma trabalhista e da possível, mas nem tanto, quem sabe, veja bem, reforma da previdência? Imagino que diversas em gênero, mas em espécie somente as intransigentes favoráveis, ou irretorquivelmente contrárias.

E é aí que mora o perigo: na ausência do meio termo, da ponderação.

A falta de disponibilidade da população para o debate, que só pode ser longo pela complexidade dos temas e profundidade das reflexões demandadas, gerou nos parlamentares, poder décadas, justa indiferença para com estas e outras questões alicerçais para a vida da população.

Deu tempo a eles para, em subversão da democracia representativa, então ao sabor dos interesses de financiadores, e não de eleitores ou do país, aproveitando o vácuo deixado pela completa ausência de debate civilizado e camuflado pela gritaria das categorias envolvidas, açodadamente, enfiarem as alterações que o governo bem entendeu, goela abaixo.

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Eis o preço da histórica omissão popular. Pior: eis o preço da postura intolerante de todos os setores e lados envolvidos quando da mera proposição de debate, ao que sempre reagiram com hostilidade ou malandragem, simulando atenção e avaliação das posições antagônicas.

Enquanto não conseguimos conversar franca e educadamente, a camarilha do Congresso prosseguirá decidindo legal, mas ilegitimamente, à luz de um regime democrático sem diálogo. Mais uma quebra de paradigma civilizatório que somente nós, brasileiros, somos capazes de forjar e aperfeiçoar.

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