A vida vale muito. A vida com qualidade vale mais. Faço esta reflexão diariamente quando vou e volto da UFSM. Ela é desencadeada pela imprudência dos motoqueiros e motoqueiras. Não estou falando de mototaxistas, que até se enquadrariam, pois, pela cobrança e pela necessidade financeira, serpenteiam ruas e estradas para entregar mais rápido as encomendas que carregam. Mas me refiro aos jovens que estão ao encontro de um sonho: concluir um curso superior para melhorar sua condição de vida e, muitas vezes, de suas famílias. Falo de jovens que, apesar da pouca habilidade, escolheram pequenas e frágeis motos, mas que dirigem como se estivessem em uma Harley Davidson.
As motocicletas são, sem dúvida, uma alternativa para o deslocamento rápido e com baixo custo. Ainda mais se considerarmos o trânsito pesado e congestionado nas faixas que levam até a UFSM. No meu deslocamento diário, às vezes, eu tenho a sensação de que as regras de trânsito mudaram ou que estou demodê. Quando eu fiz minha primeira carteira de motorista, aprendi que a ultrapassagem era pela esquerda e não podia ser feita pelo acostamento. Isso mudou? Sinalização, cones e impedimentos parecem valer apenas para carros. Pistas em obras e fitas de sinalização são desconsideradas quando o desejo é ser o primeiro da fila e chegar rápido. Ziguezagueam entre carros, caminhões e ônibus enormes, como pilotos de um globo da morte.
Não basta olhar pelo retrovisor da esquerda. É preciso olhar pelos dois ao mesmo tempo. Motos surgem! Cheguei à conclusão de que são veículos que não foram feitos para esperar (é o que parece!). Nas faixas Nova e Velha, é assim. Não há respeito às regras. Para mim, o respeito não deveria ser por causa da fiscalização e dos pontos na carteira. O respeito deveria ser à vida, pelo amor à vida, pelo desejo de ver os seus sonhos concretizados. Esses moços, pobres moços... ah, se soubessem o que eu sei (lembrei até do Lupicínio).
Se pensassem na interrupção dos sonhos que um acidente representa, tenho certeza que agiriam de outra forma. Ser proativo é ter amor próprio e autoestima. Se praticássemos mais a reflexão de nossas atitudes, se nos colocássemos no lugar do outro, teríamos relações mais humanizadas. Infelizmente, a valorização de algo vem, geralmente, após a perda.
Quando perdemos alguém querido, passamos a valorizar a sua presença e o quanto poderíamos ter compartilhado mais. Quando estamos doentes, lembramos dos cuidados com a saúde. Quando nos encontramos debilitados, valorizamos a plenitude. Quando chegamos à beira da morte, valorizamos a vida. A vida é bonita e é bonita. A vida torna-se ainda mais bonita quando temos sonhos a perseguir e caminhos a conquistar. Não deixem que lágrimas e dores causadas pela imprudência ceifem vidas e sonhos. Moços, valorizem a vida. Moços, valorizem os sentimentos de quem lhes quer bem. A vida não foi feita para ser vista da janela de um hospital ou de clínica de recuperação. Amem a vida! Amem a quem lhes ama também.