Na última segunda-feira, o número de assassinatos em Santa Maria chegou a 50. São três a mais do que no mesmo período do ano passado. Segundo autoridades da área de segurança pública, o município está inserido em um contexto de violência vivido nas cidades brasileiras de médio e grande porte, onde os crimes contra a vida, infelizmente, têm aumentado ano após ano. Em 2017, a marca das 50 mortes foi atingida 20 dias antes de 2016, quando isso ocorreu em 14 de outubro. Especialistas em Ciências Sociais e em segurança pública dizem que é preciso investir na formação de novos cidadãos.
Na tentativa de reverter essa nefasta projeção de mais mortes violentas a cada ano, Santa Maria aderiu, em agosto, a uma campanha que pretende reduzir os homicídios em países na América Latina. Isso porque as iniciativas de combate à criminalidade em andamento na cidade, de fato, têm dado resultado, mas na diminuição de outros crimes menos graves, como roubo e furto, não no número de assassinatos.
Shopping reforça segurança depois de jovem se jogar do 3º andar em cama elástica em Santa Maria
Entre as ações previstas na campanha, a prefeitura deveria fazer um diagnóstico apontando a região com maior incidência de homicídios e elaborar um plano com projetos e ações específicas. Em Santa Maria, isso ainda não deslanchou.
Especialistas concordam que as medidas que terão efeito na redução de homicídios e latrocínios (quando a pessoa mata para roubar) – em 2017, dos 50 assassinatos, quatro foram latrocínios – a longo prazo são as tão faladas políticas de desenvolvimento social, que passam pela melhoria da qualidade de vida de pessoas em situação de vulnerabilidade, por meio de educação e saúde básicas, geração de emprego e renda, política habitacional, combate à evasão escolar e garantia de direitos.
Segundo o delegado Gabriel Zanella, titular da Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DPHPP), "a Polícia Civil tem cumprido sua missão, apesar de todas as dificuldades enfrentadas – parcelamento de salários, carência de material de trabalho, etc.".
– Nossos índices de elucidação são superiores a 80%. A DPHPP de Santa Maria prendeu 41 adultos e apreendeu seis adolescentes infratores em 2017. Tais resultados são fruto de um diuturno e dedicado trabalho em equipe. Entendemos que a prevenção e a repressão aos homicídios também exigem reflexão e iniciativas em outros importantes temas – argumentou Zanella.
50 vagas de empregos e estágios para quinta-feira em Santa Maria
As prisões às quais o delegado se refere são de casos deste ano (cerca de 90%) e do ano passado, e também incluem as tentativas de homicídio. Entre as iniciativas, Zanella cita a participação da família na educação dos filhos, investimentos públicos em diversas áreas, aumento de vagas nos presídios, mudanças na Lei de Execução Penal, além da valorização dos policiais e do aparelhamento das instituições de segurança pública.
O cientista social Guilherme Howes pondera que a violência extrema decorre de um longo processo que envolve a desigualdade social e tem relação direta com o tráfico de drogas ilícitas.
– O crime capital é fruto de um amplo e longo processo que passa pelo enfraquecimento das forças de polícia e Justiça, pelas condições severas de reprodução social, pela falta de emprego e pela alta desigualdade. Isso vai se refletir em uma violência que, cada vez, é mais extremada – analisa Howes.
Reincidência e relação com o tráfico
Não há um dado oficial, porém, conforme o delegado Gabriel Zanella, "a maioria dos homicídios em Santa Maria tem como vítimas e autores indivíduos com graves antecedentes policiais e passagens pelo sistema prisional."
A motivação mais recorrente é desavença ou rixa, relacionada ao mundo do crime. De acordo com a Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DPHPP), de forma direta, o tráfico de drogas ilícitas representa cerca de 30% das motivações dos homicídios consumados em 2017 na cidade.
Para o delegado regional de Polícia Civil, Sandro Meinerz, mesmo nos casos de rixa, o tráfico está na raiz dos crimes contra a vida, com exceção dos passionais. Isso porque o tráfico desencadeia uma série de outras consequências, como as mortes por vingança.
– Os crimes contra a vida, em geral, são cometidos por um reincidente, que já passou pela Brigada Militar, pela Polícia Civil, foi às vias da Justiça, voltou ao ambiente social e cometeu um crime capital. Tem um circuito perverso por trás disso – analisa o cientista social Guilherme Howes.