Coluna Sociedade

O que aprendemos com a morte e o sofrimento


Deparei com a morte há poucos dias. Retornei de uma viagem curta à POA e, quando cheguei em casa, chegaram junto a falta da minha cachorra amada e a notícia de que ela estaria morta no quartinho de serviço.

Desde que eu e Duna nos encontramos nessa vida um imenso amor me tirou do egoísmo e me fez mãe amorosa e cuidadosa com minha fihota. Já no primeiro ano de idade, Duna passou a ter fortes crises de convulsão que, após muito sofrimento, me ensinaram a manter a fé e a serenidade em momentos muitos difíceis.

Foto: Carol Suplitz / Arquivo pessoal

Chegar em casa e não encontrar ela feliz, nos esperando no portão com os outros cachorros já fez disparar em mim o medo que sempre carreguei: o de que que sua inexplicável doença – segundo veterinários – a teria levado prematuramente de mim.

Confirmado o medo, desespero, dor e culpa (o maior dos carrascos) me invadiram. Por que viajei? Por que não alertei o cuidador e deixei a veterinária de sobreaviso como fiz outras vezes? Por que não voltei embora quando achei ter recebido sinais de que era hora de partir? Por que, poxa, eu não estava com minha cusquinha linda nos momentos difíceis que ela deve ter passado?! Ela deve ter sentido medo e eu não estava lá.. não estava lá..

Foto: Carol Suplitz / Arquivo pessoal

Sabiamente meu companheiro me convenceu a tirarmos o dia seguinte para o luto. Eu, óbvio, tinha mil razões e planos de seguir o dia normalmente, cumprindo meus compromissos. Apesar de eu saber que poderia remarcá-los, sutilmente a minha dor queria escapar da minha consciência. Queria se juntar a outras tantas que, sei, fizeram morada em meu interior e de lá controlam boa parte dos meus pensamentos e ações.

Me entreguei, então, ao luto. Sentei e deitei no chão onde tinha sangue e pelos dela. A ideia era me permitir sentir tudo o que viesse, ignorando todos os aconselhamentos que sempre me dou sobre ficar bem e pensar positivo. Imaginei a busca dela por nós a cada saída de crise. Imaginei a dor que ela sentiu pelos machucados e o quanto não se angustiou quando foi trancada no quartinho para evitar que outra cachorra seguisse a atacando (e machucando) a cada nova crise. E me culpei! Quis voltar no tempo! E me irritei com minhas repetições equivocadas! Por um momento, achei que a dor não iria passar e que me perguntei como suportaria seguir vivendo com tanta culpa e pensamentos negativos.

Conversamos muito sobre tudo o que estava no nosso interior. Sem medo, compartilhamos as luzes e sombras. E colocamos em prática o que tanto nos sensibilizou na fala do Tiago Bueno, no Festival Internacional de Yoga, de onde recém havíamos retornado, sobre darmos amor inclusive para aqueles aspectos de que nos envergonhamos. O melhor antídoto para qualquer dor e suas subsequentes doenças é o amor. Então, que amássemos a culpa que estávamos sentindo. Que amássemos a Carol e o Edgar que achavam ter errado.

De lá pra cá, a culpa realmente não mais apareceu daquela forma. Acredito que até nem apareceu mais. A dor, agora, é de saudade mesmo. Saber que não mais curtirei aquela princesinha de puro amor e doçura. Das luzes, têm vindo a compreensão cada vez mais forte, e que já vinha sendo intuída por mim há algum tempo, de que a Duna me ensinou muito. Me tornou um ser muito melhor. E que, portanto, realmente talvez ela não tivesse mais o que fazer aqui entre nós. Tão purinha que era, estava na hora de finalizar este trabalho para, em breve, partir em nova missão.

Refletindo sobre o tanto que cresci e tenho me fortalecido com a sua morte, desapegando da ideia de ter sempre ao nosso redor os seres que amamos e nos fazem bem, sinto que, realmente, também a partida da Duna tinha um propósito. E, hoje, até por isso consigo sentir gratidão.

Gratidão Duna! Tua vida na minha me tornou muito mais forte no caminho do amor a todos os seres, especialmente a mim mesma.

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