Um dia desses, uma excelente profissional da área da psicologia me disse que um relacionamento diz muito mais sobre nós do que sobre o outro. Comecei a observar como as pessoas vivem seus relacionamentos, sejam eles amorosos ou não. Afinal de contas, de alguma forma, somos relacionados a tudo ao nosso redor. Literalmente tudo. Vivemos agregados a relações, e saber o que fazer disso depende muito de nós. Não somente de nós. O que acredito ser uma excelente notícia. Não há como dar o que não temos. Não há como ser o que não somos. Não há como querer do outro algo que não é do outro, mas nosso. Nós somos a primeira projeção de tudo, pois é com os nossos olhos, cabeça e coração que, em um inicial processo de relação, colocamos as tão traiçoeiras expectativas.
Se formos analisar as relações pela visão histórica, não há nada mais melancólico do que o movimento Romântico. Esse período histórico em que se envolvem, além dos conflitos fundamentais para a construção de um pensamento burguês consolidado sobretudo no século XIX, inúmeras propostas filosóficas e artísticas, também traz consigo o famigerado sentimento romântico. Daí começamos a romantizar as coisas, os bichanos, os lugares e as pessoas.
Invoco a história para me ajudar e tentarei ser sucinta ( o que talvez me afaste da didática e crie entre mim e os colegas das ciências humanas algumas rusgas. Paciência!).
No princípio havia os feudos. Mais tarde, com o enfraquecimento do feudalismo, surgiram os burgos- pequenas cidades com atividades comerciais. Esse comércio era “gerenciado” pelos burgueses. Os burgueses passaram a ter poder financeiro ao longo dos anos. Muito bem! Passaram-se os anos, e a burguesia, agora não satisfeita apenas com o poder econômico, decide que precisa também do poder político. Na França do século XVIII, o poder político pertencia ao rei, já que se vivia em uma monarquia. O rei reinando absoluto. Engraçado é quando dizem que estou “reinando”. Dou risada! Muita risada! Será mesmo que essa gente sabe o significa reinar? Bom, voltemos à monarquia francesa do século XVIII.
E o que tem a ver a História com a lasanha? Bom, outra hora escrevo sobre a história da lasanha, mas não será agora.
Tentarei ser breve. Os burgueses querem o poder. O rei está no poder. Os burgueses querem destituir o rei do seu trono. A partir daí, é construída uma ideia romantizada de conquista: chega o 14 de julho- Tomada da Bastilha- marco da Revolução Francesa em 1789.
Os burgueses conseguem exatamente o que querem? Não!
Todas as vezes em que falo do Romantismo (período artístico-literário) aos meus alunos, digo a eles que ser romântico não significa exatamente ser uma pessoa que acredita no amor, ou que vê flores por tudo. Digo que, principalmente, ser romântico é idealizar uma situação. Qualquer situação em qualquer circunstância. É acreditar em algo e o projetar sem ao menos ter a certeza de que o que virá depende apenas de nós.
As relações são assim: românticas. Nossas relações são projeções nossas e não do outro. Fala-se tanto em responsabilidade afetiva (o que é muito importante, lógico), mas nos esquecemos de que nós somos os responsáveis por tais relações.
É como estar com muita fome e sentir cheiro de uma comida muito saborosa. É como estar com fome e imaginar uma lasanha borbulhando dentro do forno. É sobre essa lasanha sair do forno, e nós, com o garfo em punho, puxarmos o queijo que derrete e se enrosca quente e delicioso em nossos lábios. É sobre sentir o macio da massa misturada ao revolucionário béchamel. É sobre sentir descer o calor de uma comida que aconchega e aquece a alma.
Quando chegamos às nossas casas, às nossas realidades, entretanto não há lasanha. Encontramos uma sopa ( não que sopa não seja um alimento, e essa relação é apenas uma ilustração para metaforizar a história). Afinal de contas, a sopa é ruim? Não! O problema foi ter imaginado a lasanha.