![Novo fóssil descoberto pela UFSM promete desvendar a origem de dinossauros; pesquisa é capa da revista científica Nature Novo fóssil descoberto pela UFSM promete desvendar a origem de dinossauros; pesquisa é capa da revista científica Nature](https://suitacdn.cloud-bricks.net/fotos/839150/file/desktop/adapta%C3%A7%C3%A3o%20imagens%20169%20%283%29.png?1692223929)
Foto: Maurílio Oliveira
Escultura de Venetoraptor gassenae em vida
Um novo fóssil descoberto por pesquisadores do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia (Cappa), da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), promete desvendar a origem de dinossauros e pterossauros. A relevância do estudo, que analisa o achado, teve seu reconhecimento na edição mais recente de uma das principais revistas científicas do mundo. Nesta quarta-feira (16), a revista britânica Nature traz o Venetoraptor gassenae estampado em sua capa.
O paleontólogo Rodrigo Temp Müller, responsável pela descoberta da nova espécie, recebeu com orgulho a notícia do estudo ser capa do periódico científico, além do fato deste ser um feito inédito para pesquisadores da UFSM.
— Nós estamos muito orgulhosos e felizes. Sempre fizemos muitos estudos, é um sonho de quem faz pesquisa publicar na Nature, e ainda por cima ser capa. A gente sempre sonha, mas ainda está difícil de cair a ficha. Estou muito feliz e orgulhoso, e também ressalto a importância da pesquisa no Brasil. Geralmente a gente vê aquelas universidades muito famosas e grandes, que têm muito financiamento dos países mais desenvolvidos, fazendo esse tipo de coisa. E aqui, mesmo com todas as dificuldades, a gente conseguiu alcançar isso — comemora o paleontólogo.
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Venetoraptor gassenae, o quê é?
Descoberta em 2022 em São João do Polêsine, a nova espécie media aproximadamente 1 metro de comprimento e pesava entre 4 a 8 kg. Entre as suas curiosidades, o Venetoraptor gassenae se locomovia adotando uma postura bípede, tendo as mãos, que eram grandes e munidas de garras longas e afiadas, livres para manusear presas ou escalar árvores.
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Essa combinação incomum, somada ao bico raptorial, surpreendeu os pesquisadores que não esperavam encontrar essas características em animais que viveram há mais de 230 milhões de anos. Além disso, a descoberta lança um novo olhar aos precursores dos pterossauros e dinossauros, permitindo um avanço na compreensão da origem desses animais.
— A gente não esperava ter esse animal com esse bico raptorial, como hoje em dia tem as águias e falcões, um bico que serve para cortar carne, provavelmente. A mão também é muito diferente do esperado, é uma mão muito grande em relação ao restante do corpo dele. A gente não tem nenhum animal com um plano corpóreo parecido com o dele vivendo naquele momento. Então, é um animal que revela um plano corpóreo novo para a história evolutiva — aponta Müller.
Conforme o Cappa, o réptil descoberto pertence a um grupo extinto chamado de Lagerpetidae. Esses animais são considerados os parentes mais próximos dos pterossauros, os répteis voadores que dividiram a Terra com os dinossauros. Porém, diferente dos pterossauros, o Venetoraptor gassenae e os outros lagerpetídeos não foram animais voadores.
Um outro fator que permite explorar ainda mais as pistas da origem dos pterossauros e dinossauros, é o fato dos elementos ósseos do Venetoraptor gassenae estarem em perfeito estado de preservação, sendo um dos lagerpetídeos mais bem preservados já encontrados. Müller explica que o território da região tem condições que permitem que esses fósseis sejam preservados mesmo com o passar dos anos:
— Aqui na região a gente tem as condições ideais que o paleontólogo quer para o fóssil. A gente tem um ambiente que era rico em diversidade no passado e o ambiente de fossilização também é um ambiente muito adequado. O animal morria e ele estava soterrado.Com o tempo, ele fossilizava e não havia um excesso de mineral que acabava por inchar os ossos. Às vezes acontece isso e o osso fica como se fosse inflado. Então ele perde a forma original, não sendo tão bom de estudar. As condições daqui deixam o osso quase como ele era mesmo, ele vira uma pedra, mas a anatomia fica bem conservada — explica o paleontólogo.
Origem do nome
O nome da nova espécie traz em si uma dupla homenagem. “Venetoraptor” significa o raptor de Vale Vêneto, em referência a uma localidade do município em que foi encontrado.
Já o nome “gassenae” faz homenagem a Valserina Maria Bulegon Gassen, ex-prefeita de São João do Polêsine e uma das principais responsáveis pela criação do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia. Em 2020, Valserina já havia sido homenageada ao receber, durante a Jornada Acadêmica Integrada (JAI) da UFSM, a honraria “Destaque Comunidade Externa” em reconhecimento ao trabalho desenvolvido em prol da extensão em parceria com a universidade.
Os fósseis ficarão em exibição no Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia/UFSM, em São João do Polêsine, o mesmo município em que ele foi descoberto. A exploração contou também com pesquisadores de diferentes países.
O estudo teve financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientıfico e Tecnológico (CNPq), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (FAPERJ), da Agencia Nacional de Promoción Científica y Técnica e da Paleontological Society.