Morar perto do trabalho pode significar qualidade de vida. Porém, com o crescente aumento populacional de pequenas e médias cidades, isso faz com que cada vez mais pessoas acabem morando em áreas periféricas. Com isso, o longo caminho de ida e volta para casa deixa de ser uma opção. Soma-se ainda o aumento na frota de veículos em circulação, o que obriga os motoristas a enfrentarem vias engarrafadas e tráfego lento. Como uma solução para o problema parece estar longe de ser encontrada em Santa Maria, alguns condutores estão se apegando a formas criativas e educadas para tornar o convívio no trânsito menos estressante.
De acordo com o Detran/RS, até outubro de 2013, havia 132.805 veículos devidamente cadastrados e disputando o mesmo espaço de ruas e rodovias de Santa Maria. Cansados de esperar o Estado apresentar soluções para os transtornos causados por ruas e rodovias superlotadas, os próprios motoristas encontram uma alternativa para beneficiar, em especial, quem mora em bairros próximos ou às margens das rodovias que circundam a cidade: ao avistar um carro em um acesso secundário querendo entrar na rodovia, eles param na pista, ligam o pisca alerta e esperam outros carros acessarem a rodovia.
A partir de relatos da própria comunidade, o Diário foi até as BRs-287 (Faixa Nova de Camobi) e 158 (Faixa de Rosário) para verificar a atitude dos motoristas. Em duas ocasiões diferentes, poucos minutos após chegar ao local, a reportagem observou os gestos de gentileza dos motoristas. Para o construtor civil Saulo Freitas, 38 anos, um dos primeiros motoristas a parar, o princípio básico da atitude é se colocar no lugar do outro.
- Me coloquei no lugar deles (motoristas que aguardavam para acessar a via). Estes poucos segundos que fiquei parado não irão atrapalhar em nada para que eu chegue ao meu destino - argumenta Freitas.
Morador relata dificuldade em cruzar Faixa Nova em horários de pico
Conforme Ivan de Medeiros, 44 anos, que trabalha como eletricista e mora em um dos condomínios localizados às margens da Faixa Nova, em horários de pico, principalmente das 7h às 9h e também ao meio- dia, é necessária muita paciência para conseguir acessar a rodovia.
- Preciso usar a rodovia todos os dias para ir trabalhar. Às vezes, a gente espera até 10 minutos para conseguir acessar a BR. No período da manhã, o tráfego é bem mais intenso e lento. Por isso, talvez os motoristas que trafegam na parte da manhã já estejam mais habituados e tenham mais bom senso - avalia Medeiros.
A gentileza pode resultar em multa de trânsito
Além de oferecer riscos, a cultura da gentileza adotada pelos motoristas para suprir a falta de soluções por parte do governo é passível de multa. De acordo com o Batalhão Rodoviário da Brigada Militar, o Código Brasileiro de Trânsito informa que exceto diante de faixa de pedestres, parar sobre a pista de rolamento em vias que contam com acostamento, o caso das BRs 158 e 287, é considerada uma infração grave.
O policial rodoviário federal Gelson Pedro Satler, que responde interinamente pela PRF de Santa Maria, alerta ainda para os perigos de parar sobre a pista. Segundo ele, a manobra pode resultar em uma colisão, atropelamentos e contribui para que o tráfego fique ainda mais lento.
- Às vezes, os motoristas param em qualquer lugar para pedestres atravessarem, por exemplo. Quando um motorista está dirigindo contra o sol ou à noite, a dificuldade em ver um pedestre é bastante grande. Com isso, o gesto que era para ser uma gentileza acaba se tornando um risco bastante grande - alerta Satler.
