Média e Alta complexidade em traumato-ortopedia: entenda o que são e no que consistem esses níveis no SUS

Arianne Lima

Média e Alta complexidade em traumato-ortopedia: entenda o que são e no que consistem esses níveis no SUS
por Arianne Lima – arianne.lima@diariosm.com.br

Foto: Eduardo Ramos (Diário)

Com o inicio dos atendimentos de média complexidade nas áreas de traumatologia e ortopedia no Hospital Regional de Santa Maria (HRSM), um cenário de resolução de uma antiga demanda da região de Santa Maria começa a ser formado. No contexto atual, as especialidades já são atendidas pelo Hospital Universitário de Santa Maria (husm) e pelo Hospital Casa de Saúde (HCS), que atuam também com média e alta complexidade. Mas, o que de fato significa cada conceito e quais são as diferenças no atendimento para a população que necessita do Sistema Único de Saúde (SUS)?

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Conforme o manual “SUS de A a Z – garantindo saúde dos municípios”, lançado pelo Ministério de Saúde em 2009, o cuidado com a saúde está ordenado em níveis de atenção, que são a básica, a de média e de alta complexidade. A partir desta estruturação, são realizadas programações e planejamentos de ações e serviços no sistema. Apesar do nome, a pasta reitera que não se pode considerar um desses níveis mais relevante que outro, porque o sistema preza pela atenção integral em todos.

Além dos recursos, cada nível se difere em procedimentos, exames e tipos de cirurgias. A Secretaria Estadual de Saúde (SES) compreende como a etapa inicial de assistência à população a Atenção Primária à Saúde, na qual são realizados procedimentos nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Estratégias de Saúde da Família (ESF). Já os níveis de média e alta complexidades podem adotar os formatos hospitalar e ambulatorial, o que atribui responsabilidades, serviços e procedimentos relevantes para cada aspecto, garantindo dois fatores importantes na assistência ao cidadão: resolutividade e integralidade.

Nesta reportagem, você entenderá como funciona o processo em três hospitais de Santa Maria, os serviços ofertados e de que forma são realizados os encaminhamentos de pacientes para cada um na área de traumato-ortopedia, além de um panorama de outros serviços na região.

CASA DE SAÚDE

Nas especialidades de traumatologia e ortopedia, o Hospital Casa de Saúde realiza procedimentos de média complexidade, assim como exames de alta complexidade como tomografia. Na questão de recursos, os procedimentos deste nível entram no valor global do contrato. Segundo a SES, o prestador precisa atingir um percentual mínimo de 90% do total de procedimentos contratualizados para não ter desconto, sendo que nesta forma de financiamento, não se considera procedimento por procedimento, e sim a meta percentual.

Segundo a enfermeira responsável pela área na instituição, Cristiane Lobtchenco, de janeiro do ano passado a maio deste ano, foram realizados em torno de 30 mil consultas e exames nas duas especialidades. Por dia, são atendidos em média de 50 a 60 pacientes, resultando em 1,5 mil por mês.

–Aqui, no Hospital Casa de Saúde, somos porta aberta para atender demanda espontânea em traumatologia. A partir da portaria 638/2021 da Secretaria Estadual da Saúde, o serviço passou a atender as patologias músculo esquelético em caráter eletivo, inclusive aquelas classificadas como de segundo tempo do trauma – argumenta Cristiane.

Conforme Cristiane, para atender a demanda, o hospital conta com salas de triagem, de gesso, de emergência para raio-X e ultrassom, consultório médico, além de uma equipe composta por médico especializado, enfermeiros, técnicos em Enfermagem e responsáveis pelos agendamentos cirúrgicos. Os recursos do Casa de Saúde para prestar assistência nessas especialidades são oriundos do Estado, Município e da Associação Franciscana de Assistência à Saúde (Sefas), que gestiona a instituição.

Atualmente, o hospital oferta procedimentos de média complexidade hospitalar como cirurgia de membros superiores e inferiores como dedos, pés, joelho, tornozelo, entre outras extremidades; do sistema oesteomuscular; de reparo da rotura do manguito rotador e de reconstrução ligamentar intra-articular do joelho. No âmbito ambulatorial, consultas especializadas e também cirurgia do sistema osteomuscular.

No contexto atual, a instituição de saúde segue um sistema de classificação que permite a triagem dos pacientes e prevê um tempo de espera.

–Nós trabalhamos com o protocolo de Manchester, no qual os pacientes são classificados por cores. Por exemplo, a cor azul significa que não é urgente e pode aguardar até 240 minutos, que são os retornos, os curativos pós-operatórios, as trocas e ajustes das imobilizações. A cor verde é pouco urgente e pode aguardam até 120 minutos. São as primeiras consultas e encaminhamentos. Aqui, atendemos 33 municípios, nos quais os médicos entram em contato e passam os casos. Esses pacientes são considerados verdes. O laranja é muito urgente. São para pacientes que podem aguardar até 10 minutos, que são provenientes do Samu – explica Cristiane.

ATENDIMENTOS DE TRAUMATO-ORTOPEDIA – HOSPITAL CASA DE SAÚDE

Média Complexidade Hospitalar

Cirurgia do sistema osteomuscular – eletivoReparo da rotura do manguito rotador (inclui procedimentos descompressivos) – eletivoMembros superioresMembros inferioresReconstrução ligamentar intra-articular do joelho (cruzado posterior c/ ou s/ anterior)

Média Complexidade Ambulatorial

Consulta especializadaCirurgia do sistema osteomuscular

Fonte: SES

HUSM

O Hospital Universitário de Santa Maria atende pacientes com casos de média a alta complexidade em traumatologia e ortopedia vindos de 44 municípios do Estado. Neste nível, o prestador recebe pela produção realizada até atingir o teto do contrato, sendo que esse financiamento é de responsabilidade do Ministério da Saúde.

A instituição prestar assistência nas duas especialidades a quase 20 anos, porém, apenas em outubro de 2019, o Pronto-Socorro do HUSM foi habilitado, pelo Ministério da Saúde, como tipo II para receber R$ 5,3 milhões por ano, oriundos do Fundo Nacional de Saúde e manter o funcionamento do serviço de Urgência e Emergência.

Esses recursos, que são usados no custeio de materiais, medicamentos, manutenção de equipamento, melhorias de trabalho e de atendimento, possibilitam que o Pronto-Socorro tenha condições de lidar com situações de grande complexidade principalmente em traumatologia, no qual é porta de entrada especialmente para politraumas e fraturas expostas.

Segundo o superintendente do Husm, Humberto Palma, os encaminhamentos dos pacientes ao hospital nas duas especialidades ocorrem também pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) ou via Sistema Nacional de Regulação (SISReg) e/ou Sistema de Gerenciamento de Internações Hospitalares (Gerint), sob a gestão, no caso, das 4ª e 10ª Coordenadorias Regionais de Saúde (CRS) e do Estado.

Devido a alta demanda, a instituição mantém uma lista de espera com 5,6 mil pacientes em todas as especialidades. Conforme Palma, deste quantitativo, 1.788 pacientes aguardam por procedimentos de ortopedia, representando 32% da lista principal. Ele ressalta que a gestão da lista cirúrgica é do Estado, e não do hospital, podendo resultar em um aumento dos números com o passar dos anos.

Neste contexto, a média de tempo de espera de um paciente por atendimento nessas áreas no HUSM depende da especialidade e subespecialidade.

–A ortopedia se divide em diversas subespecialidades: cirurgia do joelho, do ombro, pé e tornozelo, pediátrica, diferente da traumatologia. Porque, nessa, as fraturas são consideradas uma emergência e as cirurgias precisam ser feitas o mais rápido possível. Então, são critérios diferentes em que o tempo de espera é completamente diferente. Podemos dizer que, dentro das cirurgias eletivas, que são geralmente as de ortopedia, por exemplo, na prótese de joelho e quadril, o tempo de espera pode ser muito prolongado. Já cirurgias pediátricas, procuramos sempre fazer o mais rápido possível, porque há uma necessidade de futuro. No caso do traumato, precisamos fazer (o procedimento) assim que possível. Independente do tipo de fratura, se há indicação de cirurgia, colocamos essas fraturas como prioridade sob os pacientes eletivos – explica Palma.

Ao contrário de outras instituições de saúde que são especificas para as duas especialidades, a dinâmica de trabalhos nas instalações do hospital é de compartilhamento esse hospital é geral e comporta todas as profissões que trabalha para e com a saúde. Palma reforça que, para atender as especialidades, o hospital conta com a estrutura necessária:

–Temos o Pronto-Socorro, as salas cirúrgicas, que entram em escala conforme o dia, o turno e as especialidades. Porque esse não é um hospital ortopédico. Somos um hospital que congrega, pelo menos, outras 50 especialidades com residência médica, fora as demais que não tem. E muitas delas, são especialidades cirurgias. Temos a parte ambulatorial, no qual realizamos procedimentos como talas gessadas, gessos e pequenos curativos junto com horários que são compartilhados, muitas vezes, com outras especialidades.

Conforme dados da Secretaria Estadual de Saúde, atualmente, o Hospital Universitário de Santa Maria oferta mais de 10 procedimentos de média e alta complexidade, nos âmbitos ambulatorial e hospitalar.

ATENDIMENTOS DE TRAUMATO-ORTOPEDIA – HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE SANTA MARIA

Alta complexidade hospitalar

Cirurgia do sistema osteomuscularColuna vertebral e caixa torácicaCintura pélvica

Média Complexidade Hospitalar

Cirurgia do sistema osteomuscularCintura escapularMembros superioresColuna vertebral e caixa torácicaCintura pélvicaMembros inferioresGerais

Média Complexidade Ambulatorial

Consulta especializadaCirurgia do sistema osteomuscular

Fonte: SES

REGIONAL

O Hospital Regional de Santa Maria inicia os serviços de média complexidade, nas especialidades de traumatologia e ortopedia, com um contrato que prevê a oferta de 40 cirurgias e 280 consultas e exames mensalmente. O documento foi assinado pela secretária estadual de Saúde (SES), Arita Bergmann e pelo diretor presidente do Instituto de Cardiologia – Fundação Universitária de Cardiologia, Marne de Freitas Gomes, que gestiona a instituição, no dia 5 de maio.

O ambulatório, que funciona nas segundas, quartas e sextas-feiras, conta com uma equipe guiada pelos médicos traumatologistas Francisco Harrisson e Ovidio Mayer. O diretor técnico do Hospital Regional de Santa Maria, Vinicius Menegola, relata que a instituição tem trabalhado em etapas para atender o público dessas especialidades.

Na primeira semana, iniciada a partir do dia 11, a instituição realizou a capacitação de profissionais para trabalhar no sistema, abriu a agenda cirúrgica e definiu os horários dos ambulatórios para receber os encaminhamentos da 4ª CRS. Menegola explica como funciona o processo:

–Os nossos profissionais vão avaliar a real necessidade de um procedimento cirúrgico e ver quais pacientes atendem aquilo que foi compactuado com o Estado de cirurgias de média complexidade de traumato-ortopedia. Os pacientes que forem agora triados e destinados a cirurgia aqui no Regional já irão fazer exames de imagem novos. Se for necessário, eles saem daqui para uma consulta pré-anestésica, que pode ocorrer nessa semana ou, no máximo, na semana que vem.

A previsão é de que as cirurgias, que são de caráter eletivo, comecem a ser realizadas no final do mês de maio. Conforme a SES, no hospital, serão realizados todos os procedimentos da lista de média complexidade, que vão desde cirurgia do sistema osteomuscular a de membros superiores e inferiores.

ATENDIMENTO DE TRAUMATO-ORTOPEDIA – HOSPITAL REGIONAL

Cirurgia do sistema osteomuscularCintura escapularMembros superioresColuna vertebral e caixa torácicaCintura pélvica Membros inferioresGerais

ENCAMINHAMENTOS

Na área de traumato-ortopedia, os encaminhamentos de pacientes para hospitais ocorrerem de três formas: demanda livre, via sistemas de saúde ou por Samu. Na primeira, a pessoa busca, espontaneamente, pelos serviços na instituição de preferencial. Na segunda, a entrada no hospital ocorrer por vagas no Sistema Nacional de Regulação (SISReg) ou Sistema de Gerenciamento de Internações Hospitalares (Gerint), sob a coordenação da 4ª CRS e o Estado.

Ainda nessas especialidades, existe a modalidade ‘Porta de Entrada’, na quais os hospitais habilitados devem receber todos pacientes, sem negativa de acesso, para o primeiro atendimento. O Pronto-Socorro do HUSM, por exemplo, é porta de entrada para casos de Politraumas (múltiplas lesões) e fraturas expostas. Enquanto que o Casa de Saúde recebe demanda espontânea na área.

A SES reforça que, se o caso for de alguma especialidade e/ou complexidade que o prestador não possui, ele fica responsável pelo encaminhamento para um hospital de referência que possa atender o caso. Alguns hospitais não têm incentivo de Porta de Entrada e recebem pacientes apenas por referenciamento, como é o caso do Regional, que não inicia os atendimentos com este incentivo. Conforme informações da SES, os pacientes serão encaminhados para atendimento na instituição via SISReg e Gerint.

No caso de encaminhamento por Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), existem outras possibilidades. De acordo com o coordenador administrativo do Samu, em Santa Maria, Nilvo da Rosa, o serviço conta com duas equipes: uma de Suporte Básico, com condutor e técnico; e a outra de Suporte Avançado, composta por médico, enfermeiro e condutor. Em cada uma, existe um responsável que determina destino assistencial do paciente.

– A equipe de Suporte Avançado tem a autonomia para fazer o atendimento e realizar o encaminhamento do paciente até a porta de entrada que ele julgar adequada naquele momento, dentro do que há de planejamento. Na equipe de Suporte Básico, é o médico regulador que é a autoridade sanitária. Conforme o quadro em que a equipe encontra o paciente, ela passa a avaliação e os sinais vitais para esse médico, que faz o encaminhamento deste paciente para as portas de entrada – explica.

No contexto atual, as portas de entrada do Samu em Santa Maria são o Pronto-Atendimento Municipal, no Bairro Patronato e a Unidade de Pronto-Atendimento 24h (UPA 24h), no Bairro Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Desde dezembro de 2021, o Hospital Casa de Saúde também é porta para o serviço nos atendimentos de traumatologia até média complexidade. Nos casos de alta complexidade, com politrauma, os encaminhados são feitos pelo serviço para o Hospital Universitário de Santa Maria, desde seu inicio no município, em 2011.

Nilvo comenta, inclusive, sobre o cenário encontrado pelo Samu na especialidade de traumatologia:

–Hoje, atendemos, em média, 1,2 mil por mês. O trauma, até um tempo atrás, era em torno de 32%. Atualmente, está na casa dos 22% dos nossos atendimentos. Então, isso se resume a, mais ou menos, 200 atendimento/mês.

REGIÃO CENTRAL

De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, no âmbito dos municípios da Região Central, a 4ª Coordenadoria Regional de Saúde conta com 22 instituições prestadoras de serviços de saúde, que realizam procedimentos de média complexidade de maneira geral, pelo SUS. Especificamente em traumato-ortopedia, apenas os hospitais São Roque, de Faxinal do Soturno, e o Casa de Saúde, de Santa Maria, tem incentivo estadual e contratualizado para ofertar procedimentos de média complexidade na área hospitalar.

O Hospital de Caridade de Santiago não conta mais com o incentivo. Porém, do contrato estabelecido com o Estado, ainda não foram retirados os procedimentos de média complexidade, podendo fazer o atendimento tanto na área ambulatorial quanto hospitalar nas duas especialidades.

Neste contexto, a SES ainda reforça que há instituições com código geral de cirurgia em contrato, que podem realizar procedimentos cirúrgicos, caso tinham profissional. Já exames de alta complexidade, como tomografia, são feitos, atualmente, pelo Hospital de Agudo, Hospital São Roque, de Faxinal do Soturno e o Hospital de Caridade, em Santiago, além da Casa de Saúde e do HUSM, ambos de Santa Maria.

Fotos: Eduardo Ramos (Diário)

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