Máximo José TrevisanAdvogado e escritorEnvelhecer é contar os anos um a um, sabendo que o tempo tem limites na soma dos entardeceres.
Envelhecer é o privilégio de quem aprendeu a contar muitos anos na escola do viver e nunca os levou ao esquecimento.
Envelhecer é dar voz aos sonhos que esperam subir ao pódio, na corrida, às vezes tão longa, às vezes tão breve, no viver de cada um.
Envelhecer também é um jeito de morrer aos poucos.
Envelhecer não é para muitos, no entanto, tão somente o direito ou, quem sabe, uma triste sina de humanos de muita ou pouca sorte.
Envelhecer é colher manhãs e tardes como dádivas de dias de uma longa vida.
Envelhecer é a chance de tornar sonhos-crianças em velhos com bengalas.
Envelhecer é não desaprender de viver cada manhã, colhendo sol e sabor ao nascer do dia.
Envelhecer é dar-se conta de que a vida é feita de experiências que identificam cada ser humano, nas caminhadas cotidianas.
A vida é feita de experiências, ora intensas, ora suaves, ora permanentes, ora transitórias, ora transformadoras, ora suavemente iguais. Assim é a vida, enquanto passagem provisória ao desconhecido.
A vida é feita de expectativas, ora profundas, ora aparentes, ora mais fortes, ora mais leves. A vida é feita de acontecimentos, ora marcantes, ora sem brilho e cor.
A vida, com dores, lágrimas e quedas, é a vida. Importa não fechar os olhos, tanto ao nascer quanto ao pôr do sol. E como lembra David Coimbra: “o que existe é o presente e se o presente pode ser sorvido integralmente, a vida passa a ser boa. E ela é. A vida é boa”.
Gonzaguinha também lembrava: “viver e não ter a vergonha de ser feliz; cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz”. Envelhecer só é conquista dos que pisaram caminhos, ganhando horizontes, com olhar de aprendiz. A vida, vivê-la é o desafio; usufrui-la é o privilégio dos que a curtem, sabendo que é finita, tão finita quanto surpreendente. A vida é a vida.
Por que buscar defini-la? Envelhecer é o jeito de ficar mais tempo na posse dos seus desafios, quedas e prazeres. A vida é a vida! Sem adjetivos e sem advérbios!
Leia o texto de José Maria Dias Pereira