José Maria Pereira: a pesquisa eleitoral e a pobreza

Redação do Diário

Confira o texto da coluna Opinião da edição impressa do Diário de Santa Maria desta quarta-feira.

José Maria Dias PereiraProfessor aposentado e doutor em Economia

Lula tem 48% dos votos no primeiro turno contra 27% de Bolsonaro e 7% de Ciro Gomes, segundo a última pesquisa do Datafolha (25 e 26/05/2022). Neste caso, a pesquisa é estimulada (o pesquisador diz o nome dos candidatos) e não pode ser comparada com a pesquisa anterior porque houve mudança de candidatos (exemplo: Moro e Doria saíram da disputa presidencial). A intenção de voto em Lula em um eventual segundo turno é de 58%, enquanto a de Bolsonaro é de 33%. A diferença entre os dois é de 25 pontos percentuais. Na pesquisa anterior, de março, Lula tinha 55%, e Bolsonaro (34%), uma diferença de 21 pontos.

O Datafolha também pesquisou os votos válidos no primeiro turno, que são os votos excluídos os brancos e nulos. Pelo percentual, Lula (54%) venceria Bolsonaro (30%) no primeiro turno se a disputa fosse hoje. A porcentagem de eleitores que votariam em branco ou nulo neste levantamento é de 8% (eram 10% na pesquisa anterior). Cabe realçar que a pesquisa é uma “foto” do momento. Se as circunstâncias mudarem, pode ser que o eleitor mude de opinião. O problema, para o governo, é que o segundo semestre costuma ser pior do que o primeiro; seja pelas restrições pré-eleitorais, seja pela deterioração dos indicadores econômicos.

A pesquisa caiu como uma “ducha de água fria” na campanha de Bolsonaro, que tinha conseguido reduzir a distância para Lula na pesquisa anterior, mas agora vê o ex-presidente ampliar a diferença, enquanto as intenções de voto no presidente permanecem estáveis (na casa dos 30%, que representam sua base de apoio histórica). A pesquisa espontânea (o pesquisador não diz o nome dos candidatos) que pode ser comparada com a anterior, aponta um avanço extraordinário de Lula, que passou de 30% em março para 38% agora. Bolsonaro tinha 23% em março e oscilou para 22% no levantamento atual. Cabe destacar ainda o elevado percentual de rejeição (54%) de Bolsonaro em comparação com os 33% de Lula. Não há registro de alguém que tenha ganho uma eleição presidencial com rejeição acima de 50%.

A pesquisa qualitativa explica as causas da alta rejeição de Bolsonaro. Segundo o Datafolha, Lula vence Bolsonaro: entre as mulheres (49% a 23%); entre os que têm de 16 a 24 anos (58% a 21%); entre os que estudaram até o ensino fundamental (57% a 21%); entre as pessoas com renda de até dois salários mínimos (56% a 20%); entre os moradores da região Nordeste (62% a 17%); entre os autodeclarados pretos (57% a 23%); entre os católicos (54% a 23%); entre os assalariados sem registro (53% a 24%); entre os desempregados (57% a 16%); entre os que recebem Auxílio Emergencial (59% a 20%). Este último dado é importante porque mostra que o “Auxílio Brasil” do governo foi percebido pelos beneficiários como de fato é, ou seja, uma medida “eleitoreira” para apagar a memória do “Bolsa Família”.

E onde estão os votos de Bolsonaro? Segundo o Datafolha, entre os mais ricos, empresários e produtores rurais, sobretudo da região centro-oeste (agronegócio). Bolsonaro supera Lula nas seguintes categorias: entre quem tem renda superior a dez salários mínimos (42% a 31%); entre os empresários (42% a 31%). Ambos estão tecnicamente empatados entre os evangélicos (36% para Lula e 39% para Bolsonaro) e entre quem recebe de cinco a dez salários mínimos (37% para cada um).

Pode-se, por contraste, concluir que os votos de Lula estão entre os pobres – que é a maioria da população brasileira. E o número deles aumentou durante o governo Bolsonaro (em parte, por causa da pandemia). De acordo com a FGV Social, quase 28 milhões de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza no Brasil. Em 2019, antes da pandemia de Covid-19, eram pouco mais de 23 milhões de indivíduos nesta situação. O auxílio emergencial fez esse número cair, porém à medida que o valor do benefício diminuía, ou era interrompido por alguns meses, a pobreza subia.

Ainda que as restrições impostas pelo Coronavírus tenham praticamente acabado, a permanência de desemprego num patamar alto, o aumento do preço do gás e a inflação dos alimentos tem corroído a renda dos mais pobres. O aumento da pobreza pode ser constatado, indiretamente, através do endividamento das famílias. Segundo a pesquisa de endividamento e inadimplência, publicada pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), 77,5% das famílias brasileiras estão endividadas. Este é o maior percentual verificado no índice, nos últimos 12 anos.

Leia o texto de Máximo José Trevisan

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