Jogo de Cintura: nós descansamos? Sabemos descansar? Ou será que estamos perdendo esta “habilidade”? 

Numa consulta de rotina no oftalmologista, soube que – na média – os olhos andam reclamando do tanto que exigimos deles. O médico afirmou que, desde o começo da pandemia, é notável a intensificação do “grau” dos óculos de seus clientes. E o excesso de telas parece ser um fator decisivo para isto. Quando fui encomendar as novas lentes, além do famoso “atirreflexo”, notei que a proteção contra a luz azul é um dos atributos em que os vendedores mais apostam para nos oferecem o produto. Se “os olhos são a janela da alma”, eles têm transparecido que ela anda cansada. Em um contexto como o que vivemos, o livro Sociedade do Cansaço, de Byung-Chul Han, acerta em cheio quando retrata o quão rápida pode ser a passagem do discurso motivacional ao burnout. Mas como nos retirarmos desse lugar comum com o qual muitos de nós até já nos acostumamos?

A edição desta quinta-feira (23) reúne as “Danis” (Bressan e Minello), e foi sugerido por Daniela Minello, professora que – como a ampla maioria dos educadores do mundo durante a pandemia – precisou redimensionar sua rotina com os alunos no tempo e no espaço: da sala de aula para uma videochamada. E elas tomaram conta de nossa vida. Antes, mesmo em meio a reuniões presenciais, tínhamos pelo menos o tempo do deslocamento físico entre uma e outra para um relativo descanso mental. Com sorte, dava tempo para o combo “cafezinho + bate-papo”. Para muitos, foi repentina a mudança para uma rotina de trabalho em que pode haver até mesmo reuniões em paralelo, e na qual tem pouco “home” e muito “office”, já que inúmeros profissionais são inclusive cada vez mais convocados a serem não só multitarefa, como “multiempregos” (ou “multijobs”). E a tendência é que muito disso permaneça depois da pandemia. Então, onde vamos parar? Ou melhor, QUANDO vamos parar para descansar de fato?

Daniela Minello destaca inclusive a ironia da situação que muitos de nós já vivemos: “Chegamos em casa cansados(as). Como descansamos? Vendo séries ou filmes. Em vez de descansar, estamos cansando mais ainda nossos cérebros e diminuindo nossa capacidade de relaxar de verdade”. Afinal, a pergunta pode até parecer ter resposta óbvia, mas, como disse o pensador Fernando Costa, “o óbvio precisa ser dito”. E então? Você sabe descansar? Vem pro Jogo!!!

Carla Torres, jornalista, produtora e apresentadora